Do Vento ao Fundo do Mar
Uma vela, um pintor e um fotógrafo que decidiram trabalhar juntos há vários anos e um “louco”, como o próprio se intitula, que lê poemas de Sophia de Mello Breyner pela sala no meio do público, mas com um pequeno pormenor, os poemas são lidos num tom de voz baixo em que ninguém ouve. Do fundo da sala, alguém reclama “não se ouve nada”, ao que o “louco” responde, alto e bom som, “é mesmo assim”; porquê?

Só porque sim, faz parte da “loucura”.
O elemento principal desta exposição é a vela com que nos deparamos, ao fundo da sala, assim que entramos. Uma vela que já navegou por tantos mares, que conta histórias de viagens, de tempestades, vendavais, memórias de amores que presenciou, vidas a que assistiu durante a sua própria vida.
Agora a própria apresenta-se como o elo de ligação de toda a exposição em que o mar, a água, a praia, o vento são o tema das obras ali expostas.

Tim Madeira e António Alves da Costa intervencionaram diversos pedaços de antigas velas, cada uma com a sua história, onde conjugam a fotografia e a pintura da forma que só eles sabem fazer, baralhando-nos, pois não sabemos onde começa uma e acaba a outra.

Aparecem-nos ainda nesta exposição as maravilhosas e deliciosas “Caixas de Memórias das Velas” trabalhadas por ambos com as diversas “memórias” do mar, restos de velas que tanto navegaram, memórias, fotografias e poemas de quem ama o mar como que dizendo “E uni-me ao mar”, tal como Sophia de Mello Breyner na sua poesia onde o mar tem lugar obrigatório.
São “caixinhas de memórias” que nos transportam até às nossas próprias memórias e dificilmente saímos dali sem recordarmos “aquela vez onde fomos a” ou “aquela viagem que fizemos rio acima” ou até “aquele amor vivido junto ao mar”. Sim, é para todos esses lugares na nossa memória que elas nos levam e nos deixam até fantasiar e navegar “mar adentro”.


Também as fotografias de António Alves da Costa, a preto e branco, subtilmente nos deixam imaginar, sonhar ou, porque não, também mesmo fantasiar sobre as nossas próprias histórias dando-nos liberdade para voar, sorrir com a lembrança que estava tão bem arrumada na nossa “caixa de memórias”.




Exposição de Tim Madeira e António Alves da Costa, Leitura de poemas de Sophia de Mello Breyner, por Carlos de Medeiros.
Com curadoria de Elisa Ochoa, esta exposição é um hino ao mar ou não fosse Cascais, também ela, uma vila virada para o mar.
Na Fundação D. Luís I – CENTRO CULTURAL de CASCAIS – Cascais
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De olhar sempre atento, perscrutando o belo à minha volta, observo e absorvo para, divagando pela palavra, revelar e ajudar a trazer à luz o que vou encontrando pelo caminho
