Snowden

Snowden – O Filme
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20 de Setembro, 2016 0 Por Rui Freitas
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Também o tempo torna tudo relativo.

Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 7 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.

Snowden é um bom filme, intenso, mas sóbrio que conta a verdadeira história da revelação ao mundo por Edward Snowden, de que a NSA vigiava ilegalmente cidadãos de todo o planeta, e os pormenores da forma como se apercebeu até se decidir revelá-lo e como fazê-lo. Um filme muito bem realizado e que apresenta uma narrativa sólida e consistente, como seria de esperar de Oliver Stone.

Com Joseph Gordon-Levitt e Shailene Woodley, muito bem, respetivamente nos papeis de Edward Snowden e Lindsay Mills a sua namorada, o filme começa por nos mostrar o jovem Edward a ver-se afastado dos Marines norte americanos devido a problemas resultantes de uma lesão grave.
Crente no seu íntimo de que os Estados Unidos da América são o melhor país do mundo ambicionava acima de tudo servi-lo e graças sobretudo a uma elevada capacidade intelectual e ímpares competências em programação e gestão de dados, acaba por ingressar na CIA.

Conhece Lindsay, uma jovem fotógrafa amadora e de ideais liberais e que duvida profundamente da beleza das intenções dos governantes do seu país, mas acabam por se apaixonar e a viverem juntos.

Da CIA passa para a NSA (National Security Agency) e na medida em que as suas capacidades vão dando cada vez mais nas vistas vão-lhe sendo atribuídas credencias de segurança mais elevadas, o que em conjunto com as suas competências técnicas, lhe vão permitindo ver cada vez mais fundo o interior dos sistemas de informação da agência. É pelo acesso a esta informação privilegiada, que lhe vão chegando informações, inicialmente de forma espontânea, que lhe fazem aflorar ao espírito dúvidas e questões éticas e morais quanto à legitimidade e mesmo legalidade do trabalho que executa.

snowden-iiMas são só dúvidas, e mesmo contra as primeiras “evidências” Edward recusa-se a aceitar que o presidente dos Estados Unidos, algum dia tomaria uma decisão ou permitia que fosse desencadeado algum processo ou ação ilegal ou que fosse de alguma forma contra o seu povo.

Começam a perceber-se tensões entre o casal sem nunca nos desviarem do fio condutor do enredo e do centro da ação e são motivadas sobretudo pela angústia em que Edward se via afogar, ao encarar aquilo que sempre se recusara a aceitar: que o governo dos EUA permitia que as agências governamentais vigiassem sem qualquer suporte legal, os seus próprios cidadãos, e do seu enorme contributo para isso.

Toda a história nos é apresentada ao ritmo das alternâncias entre o presente e o passado através de flashbacks, em que o passado se vem aproximando do presente até se encontrarem.
Quando, por acaso, constatou que, a vigilância ilegal de muitos de milhões de cidadãos se espalhava por todo o mundo, e ainda assim era sobre os cidadãos dos EUA, que em maior número recaía, os cidadãos que o presidente e as agências deveriam proteger acima de tudo, percebeu a extensão da teia de mentiras, caiu na terra e decidiu encontrar forma de revelar ao mundo o que se estava a passar.

Tudo o resto é a história muito bem contada, – baseada nos livros The Snowden Files de Luke Harding (jornalista do The Guardian) e Time of the Octopus de Anatoly Kucherena (advogado e professor, representante pro-bono de Eduard Snowden na Rússia) – da forma como ele escolheu e concretizou a exposição pública daquela informação.

Os “veículos” por ele escolhidos foram a realizadora e produtora de documentários Laura Poitras (Melissa Leo); o advogado e jornalista Glenn Greewald (colaborador dos The Guardian, The Guardian USA, The New York Times e do Los Angeles Times) (Zachary Quinto) e o jornalista do The Guardian Ewen MacAskill (Tom Wilkinson). As conversas e preparação da entrevista final decorreram num hotel em Hong Kong.

Oliver Stone resiste a várias tentações comuns ao cinema americano atual, e a exemplo disso, faz da relação entre o protagonista e a sua companheira, nada mais do que isso mesmo, um componente inalienável, sem dúvida, de toda a história, mas sem sobrelevações nem dependências, ao contrário de vários exemplos recentes que não cabe aqui explorar. Não recorre a cenas de suspense gratuito, nem exagera aqueles momentos em que o suspense estava criado desde logo na situação em si mesma.

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Um filme sóbrio, que não deixa de ser intenso, com os tempos certos e em bom ritmo; com bom cast e com um doce no final: a aparição do próprio Snowden, (aqui, na vez de Gordon-Levitt) como que a abençoar a obra de Oliver Stone e Kieran Fitzgerald.

 

Veja aqui Snowden no IMDB

 

 

 

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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.

Jaime Roriz Advogados Artes & contextos