Cinema - Escritos Secretos

Cinema – Escritos Secretos
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1 de Junho, 2017 0 Por Rui Freitas
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Também o tempo torna tudo relativo.

Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 6 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.

Quando há cerca de oito anos li a obra do irlandês Sebastian Barry Secret Scripture (ou Escritos Secretos) pensei que, houvesse quem o produzisse e realizasse e poderia dar um belo filme. A história da vida de Roseanne ou Rose McNulty uma velha senhora sem idade, que passou os últimos cinquenta anos num hospício, à espera, tem uma narratividade poética, e uma fluidez e visualidade, que nos coloca como figurantes naqueles espaços decrépitos, austeros, esquecidos pelo tempo.

Barry tem uma capacidade descritiva que, sem se tornar fastidioso nos põe a sentir os cheiros daquelas paredes e a ouvir os ecos daquelas salas vazias.

Cinema - Escritos Secretos

Jim Sheridan, passou para a tela tudo isto de uma forma conseguida e com uma literariedade que trará possivelmente a alguns espectadores vontade de ler o livro.

Com os principais papeis entregues e bem entregues a Rooney Mara, (Rose na juventude), a Vanessa (soberba) Redgrave, (Rose na atualidade) e Eric Bana na pele do médico chamado a avaliar Rose, o Dr. William Grene, a história desenrola-se num hospício que vai ser demolido e em que os pacientes residentes após avaliação, serão deslocados para uma nova instalação ou talvez, se aptos, “devolvidos” à sociedade.

O Dr Grene pouco consegue das parcas conversas de Rose, mas ela pegando-lhe na mão considera-o verdadeiro e lentamente vai desvendar-lhe a sua vida, apenas pensando alto.

Rose é acusada de ter matado o seu filho recém-nascido, o que ela desmente repetindo até á exaustão, dizendo com o olhar muito além daquelas paredes “I did not kill my child”.

Escritos Secretos

Depois do primeiro encontro com Rose, o Dr Gren consegue impedir que os seus parcos haveres sejam transportados dali e que o diretor do hospital (Adrian Dunbar) lhe conceda vinte e quatro horas mais, para completar a sua avaliação.

Dos bens de Rose, o mais precioso é uma bíblia, onde ela foi ao longo dos anos, deixando mensagens quase codificadas e desenhos quase simbólicos e que na verdade compõem o seu diário, o relato de todas as incidências da sua atribulada juventude até ao internamento.

O Dr Grene, sente que há qualquer coisa muito profundamente calado nas pistas que Rose lhe vai dando e qua as páginas daquela velha Bíblia lhe apontam, revelando episódios desconexos e confusos, e na medida em que o seu interesse aumenta, vê-se como investigador, tentado juntar retalhos sem aparente ligação e reconstruindo a vida de Rose. Os seus principais interesses são agora, o que terá levado, ou quem terá sido realmente o responsável pelo internamento de Rose e o que terá acontecido ao seu bebé.

Escritos Secretos

Escritos Secretos é uma história triste, mas muito bela, em que boa parte da narrativa se faz de pensamentos e recuperação de memórias que se mantêm num ambiente fechado entre cada personagem e o público, criando uma cumplicidade apetecível e trazendo humanidade aos personagens.

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A obra literária recebeu o Costa Book of the Year em 2008 e foi finalista do Man Booker Prize.

 

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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.

Jaime Roriz Advogados Artes & contextos