Hélène Planquelle
Hélène Planquelle é uma jovem artista francesa autodidata que desenvolve a sua pesquisa estética em torno da questão da relação com o Outro. O outro é o inferno, o irmão, ou o amante. É aquele que é apreendido pela primeira vez pela face, sempre estranho, lembra-nos Emmanuel Levinas, um filósofo que a artista admira. Não há nenhuma categoria aqui, no entanto, uma vez que as imagens sugerem uma relação entre os seres que é muitas vezes ambígua.
Se o relacionamento com o Outro se baseia numa diferença necessária, é de facto porque evoca uma possível rivalidade.
Isto pode ser sentido nestes casais que se abraçam, geralmente um homem e uma mulher, aos quais seria difícil atribuir esta ou aquela parte do corpo, por mais que pareça impossível definir a natureza, boa ou má, da intenção,
As obras de Hélène Planquelle introduzem o espectador num mundo onde o erotismo faz fronteira com o sofrimento. Para citar o título de uma obra de Pascal Quignard, é o sexo através do medo. Perturbador é este estado inquietante em que as personagens são tanto vítimas quanto dominadores do seu desejo. Perto está a proximidade de Eros e Thanatos, ou seja, a ideia, desenvolvida por Georges Bataille em Les Larmes d’Eros, de que a descarga amorosa se aproxima do resultado final através da “pequena morte”. Do instinto ao impulso e da satisfação ao prazer, há apenas um passo. Não é, portanto, surpreendente que a artista organize os seus modelos de uma forma inspirada no shibari, uma prática ao mesmo tempo sadomasoquista e artística na bondage japonesa. Todo o paradoxo mostrado é o de um ato de carne que é ao mesmo tempo íntimo e teatral, doloroso e poético. É precisamente no retiro privado que os impulsos são sacralizados com uma certa teatralidade.
O sangue lateja nas veias salientes destes jovens em desmaio, apanhados no momento crucial do seu flagrante delito. Os corpos são esticados, carregados, abraçados, amparados uns pelos outros. Estes corpos, como as bocas, falam.
Daí um resultado extremamente coreografado, num estilo próximo da figuração narrativa e da ilustração. O enquadramento fechado, concentrando a atenção num palco sem cenário, lembra-nos que o olhar aqui é voyeur.
Hélène Planquelle desenvolve também um trabalho de sobreposição de corpos no espaço. Muitas vezes, os membros separam-se, como se estivessem soluçando como que num êxtase convulsivo. Os duos de personagens tornam-se quase estranhos a si mesmos e outros intrusos vêm interferir em ligações perigosas. Isto dá à imagem uma dimensão cinematográfica, como se a paixão fosse vista através do prisma de um estroboscópio. Mas, em geral, é a pintura a óleo que é favorecida, propícia à ternura da pincelada durante a modelagem, seguindo as curvas do bailado dos corpos. Todos estes trabalhos vêm em tons de rosa que têm menos a ver com carne do que com a iluminação artificial do estúdio. E, como que para aumentar a dúvida que paira sobre o palco, várias referências bíblicas estão espalhadas pelos títulos, nomeadamente a da última série de Hélène Planquelle, da sua recente residência artística em Leipzig.
Where is your brother? Retoma o episódio bíblico do assassinato de Abel por Caim. Mas o irmão, aqui, encarna igualmente o outro, o amante ou a vítima. O corpo sucumbe ao chamamento da carne e arrasta o espírito consigo. A luxúria da carne ressoa com o crime insuportável. Num, como no outro, eles dizem: “Foi mais forte que eu”.
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Este artigo foi traduzido do original em francês por Redação Artes & contextos
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