
O instante, de Pascal Mouisset0 (0)
6 de Dezembro, 2019
O instante, que Pascal Mouisset quer eterno
A pintura de Pascal Mouisset não levanta nem a questão do sujeito nem a questão da forma, mas sim a do instante – o instante decisivo, teria dito Henri Cartier-Bresson.
Mas o que poderá querer dizer na pintura “o instante”?

Pascal Mouisset, Bégaiements, série de fotografias em colaboração com Guillaume Belveze, 2019.

Pascal Mouisset, Embrasser avec délicatesse et sincérité, óleo sobre tela, 130 x 160 cm, 2018-19.

Pascal Mouisset, Aux Eclats, video, 5’16, 2019.

Pascal Mouisset, Embrasser avec délicatesse et sincérité, óleo sobre tela, 130 x 160 cm, 2018-19.

Pascal Mouisset, Aux Eclats, vista da exposição, 2019.
Significa que na enxurrada de imagens que caracterizam nosso quotidiano, Pascal Mouisset não procura colecionar ou armazenar imagens, mas somente vê-las e preservá-las.
A pintura é em sua casa, o receptáculo de uma sensação, uma delicadeza, um brilho, uma sombra. É uma forma de tomada de consciência que a pintura tem em conta.
“desta vez teve importância”
“desta vez tem importância”
“desta vez continua a ser importante”
A pintura então dá às telas a qualidade de uma visão; elas mesmas já o viram. E na cegueira da visão, o artista abranda tanto que a calma impõe-se.
Diante dos quadros abre-se um silêncio próximo daquele que se sente à noite, ao entrar num carro sozinho quando a porta se fecha: um silêncio que fecha o tempo sobre os ruídos externos, deixando aparecer os flashes luminosos dos faróis e os sinais fluorescentes, gradualmente suavizados pelo esmagamento causado pelo pára-brisas.
Mas a pintura não é tudo, e de certa forma raramente é suficiente. Pascal Mouisset não é ingénuo, ele sabe muito bem a importância do contexto e dos dispositivos para que o acaso engula o momento como ele faz, 10 vezes, 100 vezes, 1.000 vezes por dia. O artista não pretende deixar as suas obras em paz. Ele que-las preservadas nessa consciência do momento que se tornou quimérico. Assim, a delicadeza que ele invoca nos seus títulos não é para aqueles que olham para a sua obra, mas para a própria obra.
É com as obras que devemos ser delicados, elas que devem ser escolhidas com sinceridade. Para o efeito, as pinturas são cobertas com protecções, avançam sobre rolamentos ou escondem os seus reflexos atrás dos de uma janela. Eles estão na vida como a vida está para eles, paradoxalmente tão barricados quanto ameaçados. Finalmente, para completar, acaba por não mostrar as suas obras, mas simplesmente fotografias tiradas à escala, como vaidades diante do abismo onde o olhar mergulha quando não sabe que é quase sempre o tolo da sua própria perfeição.
Todos esses artifícios colocam uma distância entre o observador e a pintura, mas essa distância é sempre uma distância anunciada e claramente visível, ela não tem outro objetivo para além de forçar o olhar a tomar consciência de si mesmo.
De certa forma, quase pode dizer que a pintura de Pascal Mouisset escorrega. Escorrega e espalha-se. Vazia. As imagens que mostra à superfície não dizem mais nada. Parecem sempre um pouco afogadas, incomodadas pela própria matéria da pintura que imaginamos estar prestes a escapar, como a água no fundo de uma pia quando tiramos o tampão: flores, reflexos de iluminação, objetos lotados, luzes de néon e outras reminiscências aquosas e ecléticas depressa passarão pelo gargalo estrangulador que uma mão distraída acaba de abrir – sem sequer pensar nisso – sem sequer questionar o que foi desaparecendo, sem sequer pensar por um instante que para vê-los, é tarde de mais, ersa necessário ter estado lá no momento certo, nem antes, nem depois.
O que importa então o sujeito ou a forma, o momento é mestre. Um mestre frágil, no entanto, e é isso que dá toda a sua beleza à duração que se dedica – ou não – às pinturas de Pascal Mouisset.

Pascal Mouisset, Aux Eclats, óleo sobre papel, 110 x 130 cm, 2018-19.

Pascal Mouisset, Fi Dounia, óleo sobre tela, 40 x (80 x 100 cm), projeto para Les Petites Serres, 2017-18.

Pascal Mouisset, L’Ombrée, óleo sobre tela, 4 x (80 x 100 cm), 2017.
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Este artigo foi traduzido do original em inglês por Redação Artes & contextos
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