O instante, que Pascal Mouisset quer eterno
A pintura de Pascal Mouisset não levanta nem a questão do sujeito nem a questão da forma, mas sim a do instante – o instante decisivo, teria dito Henri Cartier-Bresson.
Mas o que poderá querer dizer na pintura “o instante”?
Significa que na enxurrada de imagens que caracterizam nosso quotidiano, Pascal Mouisset não procura colecionar ou armazenar imagens, mas somente vê-las e preservá-las.
A pintura é em sua casa, o receptáculo de uma sensação, uma delicadeza, um brilho, uma sombra. É uma forma de tomada de consciência que a pintura tem em conta.
“desta vez teve importância”
“desta vez tem importância”
“desta vez continua a ser importante”
A pintura então dá às telas a qualidade de uma visão; elas mesmas já o viram. E na cegueira da visão, o artista abranda tanto que a calma impõe-se.
Diante dos quadros abre-se um silêncio próximo daquele que se sente à noite, ao entrar num carro sozinho quando a porta se fecha: um silêncio que fecha o tempo sobre os ruídos externos, deixando aparecer os flashes luminosos dos faróis e os sinais fluorescentes, gradualmente suavizados pelo esmagamento causado pelo pára-brisas.
Mas a pintura não é tudo, e de certa forma raramente é suficiente. Pascal Mouisset não é ingénuo, ele sabe muito bem a importância do contexto e dos dispositivos para que o acaso engula o momento como ele faz, 10 vezes, 100 vezes, 1.000 vezes por dia. O artista não pretende deixar as suas obras em paz. Ele que-las preservadas nessa consciência do momento que se tornou quimérico. Assim, a delicadeza que ele invoca nos seus títulos não é para aqueles que olham para a sua obra, mas para a própria obra.
É com as obras que devemos ser delicados, elas que devem ser escolhidas com sinceridade. Para o efeito, as pinturas são cobertas com protecções, avançam sobre rolamentos ou escondem os seus reflexos atrás dos de uma janela. Eles estão na vida como a vida está para eles, paradoxalmente tão barricados quanto ameaçados. Finalmente, para completar, acaba por não mostrar as suas obras, mas simplesmente fotografias tiradas à escala, como vaidades diante do abismo onde o olhar mergulha quando não sabe que é quase sempre o tolo da sua própria perfeição.
Todos esses artifícios colocam uma distância entre o observador e a pintura, mas essa distância é sempre uma distância anunciada e claramente visível, ela não tem outro objetivo para além de forçar o olhar a tomar consciência de si mesmo.
De certa forma, quase pode dizer que a pintura de Pascal Mouisset escorrega. Escorrega e espalha-se. Vazia. As imagens que mostra à superfície não dizem mais nada. Parecem sempre um pouco afogadas, incomodadas pela própria matéria da pintura que imaginamos estar prestes a escapar, como a água no fundo de uma pia quando tiramos o tampão: flores, reflexos de iluminação, objetos lotados, luzes de néon e outras reminiscências aquosas e ecléticas depressa passarão pelo gargalo estrangulador que uma mão distraída acaba de abrir – sem sequer pensar nisso – sem sequer questionar o que foi desaparecendo, sem sequer pensar por um instante que para vê-los, é tarde de mais, ersa necessário ter estado lá no momento certo, nem antes, nem depois.
O que importa então o sujeito ou a forma, o momento é mestre. Um mestre frágil, no entanto, e é isso que dá toda a sua beleza à duração que se dedica – ou não – às pinturas de Pascal Mouisset.
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Este artigo foi traduzido do original em inglês por Redação Artes & contextos
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