A Música de Claude Debussy
Claude Debussy foi sem dúvida um dos compositores mais importantes e influentes do século XX. Chegou numa altura da história da música que foi de grande mudança e segundo muitos, de incerteza. Debussy nasceu nos arredores de Paris, em 1862, abarcando na sua vida alguns dos desenvolvimentos mais fascinantes na música. Para muitos, Debussy é o Pai do movimento “Impressionista” e na tenra idade de 10 anos, foi aceite no Conservatório de Paris para estudar música. Isto, por si só, dá uma forte indicação do imenso potencial que possuía Debussy e apontava o caminho para o futuro brilhante do qual Debussy viria a desfrutar.
Tentar expressar verdadeiramente a gama completa de caraterísticas da música de Debussy, em palavras, é um pouco como tentar segurar um litro de água nas mãos. Funciona até certo ponto, mas tal é a beleza, inovação, e cor da música de Debussy, que para a experienciar completamente, é apenas necessário ouvi-la.
O movimento Impressionista na música do século XX anunciou um afastamento dos extremos do período Romântico inicial, com as suas formas de música gigantescas, intenso cromaticismo, orquestras vastas, e coros e paixões excessivas. O Impressionismo centrou a sua atenção no preciso momento em que nos encontramos, apenas respirando para absorver as maravilhas que nos rodeiam.
Promovido pelo pintor Claude Monet, o impressionismo no mundo das belas artes focava-se em luz, cor, e os padrões da natureza em mudança subtil. Ao invés de trabalhar isolados num atelier sossegado, os artistas Impressionistas pintavam enquanto estavam integrados num ambiente natural, trabalhando rapidamente para capturar a cena.
Incluí esta breve descrição do Impressionismo no mundo da Arte, uma vez que também esboça sucintamente as caraterísticas da música Debussy. As suas pautas são cheias de padrões pequenos, em movimento suave, oscilações e mudanças de luz disparam à volta da sua música com a destreza e graça de um guarda-rios. Existe fluidez na música de Debussy que iria parecer deslocada no auge do período Romântico, com tantas pautas orquestrais enormes pesadas pela pura escala das suas ambições.
Tal como o influxo de um rio ou a quieta passagem do crepúsculo para o anoitecer, a música de Debussy evoca a própria essência do momento com grande precisão, paixão e instrumentação.
Debussy era um pianista de primeira classe e é evidente que uma parte substancial da sua obra incluiria peças deste instrumento. Aquilo que não se irá encontrar na música de Debussy serão as tradicionais “sonatas” ou “concertos” que eram mais comuns ao longo dos períodos Clássico e Romântico da música. Em vez disso, irá descobrir uma riqueza de composições que são divertidas, vibrantes, diferenciadas e lindamente coloridas. Frequentemente são poéticas, alinhadas com o amor de Debussy pelos poetas Franceses contemporâneos Verlaine e Mallarmé.
Uma série de composições, que Debussy apelidou de ‘Suite Bergamasque’ (1890-1905), incluía uma peça ‘Clair De Lune’ que se tornou numa das obras de piano mais populares escritas por Debussy.
https://youtu.be/Nft7tiy5E-w
A “suite” tem atrás de si a música do Barroco (claramente ouvida no movimento final, chamado ‘Passepied’), ao mesmo tempo que adota uma abordagem distintiva do século XX à melodia, harmonia e estrutura.
Na Suite Bergamasque, ouvimos o humor caraterístico, lirismo e elegância que Debussy gere eloquentemente na sua música. É estilosa sem ser arrogante e evocativa sem ser demasiado exigente.
Para mim, a série de ‘Préludes’ de Debussy (Livro 1, 1909-1910 e Livro 2 1912-1913), estão entre as suas melhores peças para piano solo. Isto é devido à variedade pura que demonstra tão habilmente o domínio de Debussy sob a sua linguagem musical, bem como a maneira como explora a natureza inerente do piano a seu favor.
As ‘Préludes’ vêm em dois livros, compostos num período de mais de quatro anos no qual, creio eu, Debussy estava no auge dos seus poderes. Os dois livros contêm uma variedade generosa de peças como ‘Général Lavine’, estilizado como um tipo de “cake walk” através das “Voiles” delicadamente expressivas. Cada uma das ‘Préludes’ transporta-nos para um momento definitivo e experiência cheia de maravilhas com estilo e elegância à medida.
Debussy era um orquestrador dotado, cuja facilidade de moldar pautas ricas em termos de textura que conjuram imagens exóticas, é quase incomparável. A meu ver, apenas Maurice Ravel, um contemporâneo de Debussy, se aproxima minimamente do uso caraterístico da orquestra de Debussy. Diversas obras orquestrais demonstram as sonoridades deslumbrantes que Debussy consegue criar a partir de uma orquestra. Já em 1864, Debussy mostrou ao mundo a direção musical que viu como uma saída do excesso do Romanticismo na sua obra sinfónica, ‘Prélude L’apres-midi d’un Faune’.
‘La Mer’ que seguiu em (1903-1905) é uma peça deslumbrante de escrita Impressionista. A composição foi uma reação contra o estabelecimento que apoiava Wagner e a grande tradição Alemã. Debussy abandonou os modelos sinfónicos ‘clássicos’ nesta peça, em vez de ansiar pelo que sentiu afastado no futuro. La Mer está em três secções, cada uma mais bonita e cuidadosamente criada que a outra. A face em movimento do mar é sentida à medida que as texturas orquestrais se movimentam perfeitamente de uma para a outra. A abordagem de Debussy desencadeou várias críticas severas, mas Debussy tinha estabelecido a sua linguagem musical que viria a durar muito mais do que as críticas.
‘Jeux’ (1913), foi um dos últimos trabalhos orquestrais que Debussy completou, depois de uma receção mista da sua ‘Images’(1905-1912).
Em ‘Images”, encontramos Debussy em força total e fazendo uso inovativo da música folk Inglesa (A canção ‘The Keel Row’), na secção de abertura, intitulada ‘Gigues’.
https://youtu.be/iEuthJdqVLQ
A segunda “Image” é inspirada na Espanha, com o título ‘Iberia’.
Está em três partes fascinantes, cada uma carregada com as visões, sons, e cheiros desta região. Na “Image” final (“Round Dances of Spring”), Debussy superou todos os limites musicais disponíveis utilizando a canção folk como base mas alargando as melodias, adicionando uma progressão harmónica profunda, colorida e inesperada.
Para muitos, “Jeux” é composto como um ballet, nada em comparação com “Images”, mas para mim “Jeux” tem todas as reviravoltas caraterísticas que se pode ouvir e admirar na música de Debussy. Debussy utiliza blocos de som motívicos para criar a sua pauta que frequentemente muda rapidamente a divisão de compasso. É mercurial em espírito, vibrante e devastadoramente inovativo. Como ballet, nem sempre teve sucesso, mas como uma peça orquestral, magnífico.
Este artigo foi traduzido do original em inglês por Inês Carvalho
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O artigo original foi publicado em @CMUSE – Classical
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