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Um baile de máscaras, de Giuseppe Verdi
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10 meses atrás Off Por António Lourenço
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Um baile de máscaras

 

Opera em 3 Atos, com texto de António Somma, baseada no libreto do autor Scribe, cujo tema é inspirado em acontecimentos reais, no caso, o assassinato do rei Gustavo III, da Suécia.

Quando Verdi submeteu o seu libreto ao teatro de São Carlos de Nápoles (1859-61), imediatamente a censura protestou, devido ao assunto ser tão melindroso, como é um crime e assassinato de um rei, considerando, pois que tal desiderato do autor não podia ser levado à cena e mostrado num palco de um teatro lírico.

Foi imposto e até exigido, a Verdi que adaptasse a mesma partitura e música, com a alteração dos nomes das personagens e procedesse à elaboração de um novo libreto. Verdi recusando, tal proposta, abandonou Nápoles.

Logo de seguida um empresário de Roma, ofereceu-se para produzir uma versão do mesmo tema, mas alterado da obra. Assim um Estocolmo do século XVIII, passou a seculo XVII, bem como a cidade, onde se passaria o drama, mudada para Boston. Os nomes foram substituídos, passando o rei Gustavo a chamar-se Conde Ricardo, governador de Boston e, assim ficou até aos dias de hoje.

 

Um baile de máscaras, de Giuseppe Verdi

“O” Baile de Máscaras, Foto ©Susana Paiva OPERAFEST

 

A nova versão de Paris, vai colocar a ação em Nápoles e o rei é alterado para o Duque de Olivares e, novamente passando-se na Suécia, tendo esta versão sido cantada em alguns teatros alemães e austríacos, e em Paris em 1958. A produção da opera nacional de Estocolmo, foi fiel em detalhes, aos acontecimentos originais.

Esta ópera, só passou nos Censores da época, depois de produzidas as referidas alterações e da localização passar para a América do Norte. Mas o drama é mais abrangente e fluido e as personagens bem como as suas motivações, seriam mais consistentes quando restaurados na moldura histórica dos finais do século XVIII e na Escandinávia.

Entre as três óperas de maior sucesso, de Giuseppe Verdi, no período de 1851-53, contam-se as obras-primas, Um Baile de Máscaras e A Força do Destino, particularmente, pois foram muito intensas e conseguidas. Sendo obras de transição, vêm demonstrar a consistente mudança no estilo Verdiano , que viria a consolidar-se na ópera LaTraviata a qual, aproveito para recordar, teve Maria Callas, a cantá-la em lisboa em 1958.

Recheada de belas melodias, vai abrir caminho a temas de caracterização do Belcanto, que serão exponencialmente enfatizados, para servir a expressão emocional e dos sentimentos, em vez de efeitos externos e superficiais. Os textos altamente dramáticos, nestas obras são intensificados e guindados para um nível sofisticado de espiritualidade.

A Opera começa, com os conspiradores a organizar, o assassinato.

 

Um baile de máscaras, de Giuseppe Verdi

Óscar (Filipa Portela) e Renato (Christian Luján) com os conspiradores, Foto ©Susana Paiva OPERAFEST

 

Entra Oscar que entrega ao conde uma lista dos convidados para um baile de máscaras e para espanto de Ricardo, ali está incluída Amélia, mulher do seu amigo Renato e pela qual Ricardo está apaixonado. Um ministro solicita que a feiticeira, seja expulsa, pois também é fruto e fonte das intrigas e dos conspiradores dissidentes e prevaricadores. É proposto que os convidados devem comparecer, disfarçados e com uma máscara.

Ricardo pede á cartomante para lhe ler a sina, e ela vaticina que o conde será morto pelo primeiro que lhe estender a mão, ao que este reage, brincando com escárnio, numa bela aria!

Agora Amélia procura uma erva, no bosque, para lhe fazer desaparecer a paixão por Ricardo, disfarçando-se com um manto e capuz, e Ricardo junta-se a ela, mas são descobertos pelos conspiradores. Renato, cheio de ciúmes, quer matar a mulher, cantando uma das mais belas arias: Eri Tu.

 

Um baile de máscaras, de Giuseppe Verdi

A Feiticeira Ulrica (Cátia Moreso) com o Côro Feminino, Foto ©Susana Paiva OPERAFEST

 

Sam e Tom chegam e Renato revela-lhes, que sabe do complô e enredo conspiratório, mas vai aderir e juntar-se a eles. É Amélia que vai tirar da urna um nome.

No 3º Ato, Ricardo decidiu finalizar a questão. Oscar traz um bilhete de uma desconhecida, advertindo Ricardo que a sua vida corre perigo. Renato (cujos trajes tinham sido trocados) quer revelar qual é o de Ricardo e seguidamente, assassina-o, despedindo-se de Amélia. (Na versão de Estocolmo é alvejado).

Ricardo no extertor, declara a inocência de Amélia e morre perdoando aos seus inimigos.

 

Um baile de máscaras, de Giuseppe Verdi

Renato (Christian Luján) e Amélia (Catarina Molder), Foto ©Susana Paiva OPERAFEST

 

Num belo cenário ao ar livre, dos jardins, foi montado um palco, utilizando grande economia de cenários.

Com uma amplificação, necessária, mas algo divergente, ao local de uma sala apropriada, aos espetáculos de ópera, visto ser ao ar livre, todavia foi uma de podermos disfrutar do canto lírico, fruindo e saciando os melómanos, tão afastados dos poucos espetáculos, que se realizam no nosso país! Aplaudimos a iniciativa e coragem da organização.

O tenor lírico spinto Carlos Cardoso, de quem já tínhamos referências, cantando o papel de Ricardo, é dotado de uma voz algo forte e escura, tem necessidade de usar um timbre mais maleável, com pianos e timbre mais doce, alterando a sua maneira de cantar. Não obstante, cumpriu a partitura, evidenciando bons agudos.

Renato – Christian Luján, um barítono de voz poderosa, executou bem, sobretudo na aria Eri Tu  (recordo que ouvimos em Lisboa, neste papel, um dos maiores cantores do mundo: Piero Cappuccilli, que no Coliseu, alcançou tais aplausos, com cerca de 5.000 pessoas, exigindo um encore , ao que ele anuiu repetindo a difícil aria).

Christian, barítono natural da Colômbia, radicado em Portugal, precisa de dar mais emoção e interioridade, à sua expressão, pois a sua voz volumosa e intensa, assim o merece.

 

Um baile de máscaras, de Giuseppe Verdi Artes & contextos OPERAFEST Baile ©Susana Paiva 004

Amélia (Catarina Molder), Foto ©Susana Paiva OPERAFEST

 

O Soprano Amélia, foi a nossa ‘Diva’ Catarina Molder, que extraordinariamente corajosa, leva a efeito, há 3 anos o OperaFest. A sua voz soou, mais que nunca com um timbre aveludado, mais encorpada com belíssimos agudos e expressou, dramatismo e veemência, digo de nota, e de uma intérprete de grande nível.

Os restantes interpretes, bem ensaiados, executaram de acordo, com um maestro luso-polaco, empenhado na batuta e que tem dirigido desde há, três anos, este já intrépido Festival de Ópera.


Personagens:
Ricardo Conde (Rei Gustavo III) – Carlos Cardoso, Tenor
Renato seu secretário – Christian Luján, Barítono
Amélia, esposa de Ricardo – Catarina Molder, Soprano
Ulrica, a feiticeira que lê a sina – Cátia Moreso, Contralto
Oscar, um pajem – Filipa Portela, Soprano ligeiro
Silvano e Samuele – barítonos
Conspiradores – baixos, Um Juiz, criados, populaça e cortesãos.

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Melómano e cinéfilo inveterado com décadas a ver e ouvir o que de melhor foi e é Produzido e Realizado no Cinema, Teatro e Canto Lírico.

Jaime Roriz Advogados Artes & contextos