
Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi4 (1)
15 de Março, 2022
Drive My Car
Em Drive my Car, de Ryusuke Hamaguchi, Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) é um ator e encenador que vai dirigir e encenar a peça de teatro clássica e mítica Tio Vania do escritor e dramaturgo Anton Tchekhov, tendo sido convidado para um Festival de Teatro na cidade mártir Hiroxima.

Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) Drive my Car (2021), Foto © IMDB
Na cidade, vai ser conduzido no seu carro vermelho, por um chauffer que afinal é uma jovem mulher de 23 anos de nome Misaki Watari (Toko Miura) uma jovem taciturna e melancólica. Com os atores provenientes de várias nacionalidades e diversas línguas, geram-se várias tensões entre eles, sobretudo com um belo ator estrela de TV, Koshi Takatsuki, possuído de muita agressividade e transtorno psicopático e que antes tivera uma conexão com a falecida e infiel mulher do encenador, que após aparecer inesperadamente morta, deixa para trás mistérios.

Tôko Miura (Misaki Watari), Drive my Car (2021), Foto © IMDB
Tanto a condutora como o realizador carregam em si lutos não resolvidos. A condutora Misaki, sofre com um complexo de culpa, por não ter salvo a mãe dos escombros, da casa onde viviam que sofreu uma derrocada e Yusuke vive em sofrimento pela morte da filha de 4 anos.
A fabulosa peça com a sua profundidade e força interior psicológica, vai gerar em Yusuke algo de catarse e, à qual ele se dedica obsessivamente, cuidando dos ínfimos pormenores, desde as inflexões e gestos dos atores às suas falas, seguindo o lema: ‘Em Arte existe a perfeição’.

Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) e Tôko Miura (Misaki Watari), Drive my Car (2021) Foto © IMDB
Quando o filme termina, o espectador tem uma sensação de que aconteceu algum fenómeno, em virtude de não ter dado pela passagem de cerca de 3 horas, tal foi a intensidade e o mergulhar no soberbo filme, que o tempo se passou num abrir e fechar de olhos.
Considerações sobre a peça de teatro O Tio Vania, encenada no filme Drive My Car.
Com o subtítulo: Cenas da Vida do Campo o autor Anton Tchekhov, expressa pontos de vista filosóficos sobre o sentido da vida e o absurdo da existência humana e, os caracteres russos no fim do seculo XIX.
O realizador Andrei Konchalovsky, já tinha adaptado esta peça de teatro, ao cinema, e também o realizador francês Louis Malle, realizou em 1994 uma adaptação sob o título Uncle Vanya in New York. Em 1987 o grande realizador Woody Allen, prestou homenagem a Tchekhov, no seu filme Setembro, inspirado no Médico Vanya.
Tchekhov escreveu numa das suas cartas: “A medicina é a minha legitima esposa, a literatura é apenas minha amante’. Considerado um dos maiores contistas de todos os tempos, como dramaturgo criou quatro clássicos, representados em todo o mundo: A Gaivota, Tio Vania, As Três Irmãs e O Jardim (ou Pomar) das Cerejeiras.
Tchekhov escrevia seguindo o chamado “fluxo de consciência”, uma técnica literária Tchekhov escrevia seguindo o chamado “fluxo de consciência”, uma técnica literária criada ou pelo menos popularizada por Édouard Dujardin no sec. XIX, também chamada “monólogo interior”. Esta técnica, consiste na descrição do que se passa mente da personagem como pensamentos, sensações e emoções em cadeia que aquela vai tendo e sentindo no decorrer da narrativa e alternados com diálogos ou narração efetiva de atos e falas. Foi seguida posteriormente por diversos autores sendo talvez o mais conseguido, na obra Ulisses de James Joyce, principalmente na narração dos pensamentos do protagonista Leopold Bloom e de Molly, a sua esposa.
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Melómano e cinéfilo inveterado com décadas a ver e ouvir o que de melhor foi e é Produzido e Realizado no Cinema, Teatro e Canto Lírico.