Powerwolf
«Desde tenra idade comecei a ter dúvidas sobre o conceito da igreja.»
Desde o início, o propósito dos Powerwolf sempre foi mais do que apenas música. Em 2005, quando lançaram o primeiro álbum “Return in Bloodred”, lobos e religião já eram temas mais do que batidos no heavy metal, mas o grupo conseguiu catapultar tudo isso de maneira estrelar. Da temática que também aborda sexo à história ficcional que criaram (os irmãos Greywolf afinal não são irmãos e nem se chamam Greywolf, o vocalista Attila Dorn não é raçado de romeno e húngaro), o burburinho foi crescendo e, ao fim de quase duas décadas de carreira, Powerwolf é uma das bandas mais bem-sucedidas da Alemanha e mesmo da Europa com o seu power metal eucarístico e bombástico.
Explorando mitos e lendas que cruzam figuras históricas e ficcionais, os germânicos chegam agora ao oitavo álbum de originais “Call of the Wild”. Um dos títulos que salta logo à vista é “Varcolac”, um nome que facilmente nos faz pensar em Transilvânia, vampiros e lobos. Neste caso trata-se de um ser lupino que, de acordo com a mitologia romena, emerge das almas das crianças por baptizar. “Beast of Gévaudan” também não fica atrás de “Varcolac” no momento em que queremos saber mais sobre esta besta. Novamente uma criatura misteriosa, diz-se que espalhou terror pela França do Séc. XVIII como vingança de deus pelos pecados da humanidade.
Descritos por si próprios como padres num campo de batalha, todo este fascínio pelo oculto da religião e do sexo, dos mitos e das lendas, surgiu cedo em Matthew Greywolf, que cresceu em ambiente católico. «Desde tenra idade comecei a ter dúvidas sobre o conceito [da igreja]», diz o guitarrista à Metal Hammer. «Mas continuo a gostar da celebração, a liturgia. Quando formámos Powerwolf descobrimos que, de uma maneira mórbida, éramos todos fascinados pelo visual. As catedrais, a liturgia, todas essas coisas – portanto começámos a integrar tudo isso porque nos pareceu natural.»
Ao longo dos anos, a confusão permaneceu algo instalada quanto ao teor de fundo dos Powerwolf. Fanáticos por deus para uns, satânicos odiosos para outros, há sempre um meio termo – e neste caso, esse equilíbrio encontra-se na palavra entretenimento. À partida, títulos como “Resurrection by Erection”, “Demons Are A Girl’s Best Friend” ou “Undress to Confess” devem dizer tudo com muita facilidade. «Este tipo de humor é um meio para clarificar que não temos uma mensagem religiosa», garante Matthew. «Somos artistas. Não somos pregadores religiosos ou críticos. Acho que religião e espiritualidade são coisas muito privadas, muito íntimas, portanto não faremos declarações religiosas. Quão sérios podemos ser se temos uma música chamada “Resurrection by Erection”?»
Contudo, a banda acaba mesmo por abordar um lado mais grave com a faixa “Glaubenskraft”, uma composição que critica abertamente a religião. «No ano passado, pela primeira vez na história de Powerwolf, senti a necessidade de escrever algo sério: como a igreja lida com os recentes casos de abuso nas suas fileiras», esclarece Matthew. «Não é sobre o abuso em si, mas sobre como na Alemanha a lei da igreja se sobrepõe à lei constitucional – investigar estes casos tem a ver com a igreja em si, não é investigado pelas autoridades federais. Isso deixa-me sem palavras.»
Ciente do que fez, o guitarrista admite que esta postura contradiz a abordagem dos Powerwolf perante a religião: «Geralmente não fazemos isto. Mas isto era algo que tinha de falar. É 2021, não é a Idade Média.» Ainda assim, e novamente, os sacerdotes lupinos encontram o tal meio termo em faixas como a mencionada “Undress to Confess”. «Era importante para mim trazer um bom equilíbrio», assegura. «Sim, falamos sobre algo muito sério em “Glaubenskraft”, mas, ao mesmo tempo, continuamos a ser artistas. Este humor é importante para criar equilíbrio.»
Noção a noção, estética a estética, álbum a álbum, tudo isto é concretizado em palco, na celebração com os fãs que os Powerwolf classificam como ‘metal mass’. «Demos esse nome porque dá poder ao público e recebemos esse poder de volta», diz o teclista Falk Maria Schlegel. «É sobre interacção. Continuas a respirar aquela energia após o concerto. Muitas vezes, entro nas salas quando estão vazias [depois dos concertos] para respirar aquela energia. Sou viciado nisso.»
Viciante é, sem dúvida, uma boa palavra para descrever o teclista que, durante aquelas duas horas de actuação, nunca pára! «É muito parecido a um teatro, certo?», diz o colega Matthew em tom retórico. «Este movimento que o Falk faz, a puxar pelo público, não foi planeado. Quando ele o fez, percebemos: ‘Isto é especial, isto é bom entretenimento, vamos a isso!’ O Falk é um dos melhores pantomimos do metal, de sempre.»
Celebrando lobos, vampiros e freiras marotas, no fim o que importa para os Powerwolf é a diversão e a paixão pelo heavy metal. «Para mim, o sonho tornou-se realidade», finaliza Falk. «Lembro-me de ter visto Iron Maiden num festival alemão durante a digressão do “Fear of the Dark”, e o Nicko [McBrain, baterista] tirou uma foto ao público, com toda a gente a atirar copos ao ar. Foi uma atmosfera maravilhosa. Pensei que queria ter aquilo um dia. Queria actuar num grande palco. E agora tenho-o, e estou muito agradecido. Sinto-o no sangue e em todo o lado. Fico sempre feliz.»
O artigo original Powerwolf: padres no campo de batalha, foi publicado @ Mundo das Guitarras
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