Os “Furos F” dos violinos
Antes da amplificação eletrónica, tanto os fabricantes de instrumentos como os músicos tinham de encontrar cada vez melhores formas de se fazerem ouvir entre os conjuntos e orquestras e acima do ruído das multidões. Muitos dos instrumentos acústicos que conhecemos hoje – violas, violoncelos, guitarras, etc. – são o resultado de centenas de anos de experimentação para resolver precisamente esse problema. Estas câmaras ocas de ressonância de madeira amplificam o som das cordas, mas esse som tem de escapar, daí o buraco de som circular sob as cordas de uma guitarra acústica e os furos f (f-holes) em ambos os lados de um violino.

Interroguei-me muitas vezes sobre esta forma particular e assumi que se tratava simplesmente de um extravagância do Renascimento. Embora seja verdade que os furos f datam do Renascimento, eles são muito mais do que ornamentais; o seu desenho – quer tenha surgido por acidente ou com intenção consciente – teve um poder de permanência notável por uma razão muito boa.
O acústico Nicholas Makris e os seus colegas do MIT anunciaram recentemente num estudo publicado pela Royal Society, que os f-holes de um violino são o meio perfeito para produzir o seu poderoso som acústico. Os f-foles têm “o dobro do poder sónico”, relata The Economist, “dos buracos circulares da Vitula (vitulae)” (N, da R.: o antepassado medieval do violino do século X e origem da palavra Viola e subsequentemente Violino).
O caminho evolutivo desta elegante inovação – Clive Thompson no Boing Boing demonstra-o com um gráfico de cores – desde aqueles buracos redondos originais, a uma meia lua, depois a várias formas em c, e finalmente ao f-hole. Este lento desenvolvimento histórico lança dúvidas sobre a teoria do vídeo acima, que argumenta que a família Amati (fabricantes de violinos no século XVI) chegou à forma descascando uma clementina e tornando plana a superfície esférica. Esta é, ainda assim, uma possibilidade, no mínimo intrigante.

Em vez disso, através de uma “análise de 470 instrumentos… construídos entre 1560 e 1750”, Makris, os seus co-autores, e o fabricante de violinos Roman Barnas descobriram, escreve The Economist, que a “mudança foi gradual e consistente”. Tal como na biologia, também no design de instrumentos: os f-holes surgiram por “mutação natural”, escreve Jennifer Chu no MIT News, “ou, neste caso, erro de manufatura”.
Os fabricantes criaram, inevitavelmente, cópias imperfeitas de outros instrumentos. Assim que os fabricantes de violinos como as famosas famílias Amati, Stradivari, e Guarneri chegaram ao buraco f, descobriram que tinham atingido uma forma superior, e “sabiam definitivamente qual o melhor instrumento para a replicar”, diz Makris. Se esses mestres artesãos compreendiam ou não os princípios matemáticos do f-hole, não podemos afirmar.
O que Makris e a sua equipa descobriram foi uma relação entre “a proporcionalidade linear da condutância” e “o tamanho do perímetro do orifício sonoro”. Por outras palavras, quanto mais alongado for o orifício sonoro, mais som pode sair do violino. “Além disso”, acrescenta Chu, “um orifício de som alongado ocupa pouco espaço no violino, ao mesmo tempo que produz um som cheio – um desenho que os investigadores descobriram ser mais eficiente em termos de potência” do que os orifícios de som anteriores.

“Só no fim do período” entre os séculos XVI e XVIII, escreve The Economist, “poderá ter sido feita uma alteração deliberada” ao design do violino, “já que os orifícios de repente se tornaram mais longos”. Mas parece que, nesta altura, a evolução do violino tinha chegado a um “resultado ótimo”. Tentativas no século XIX de “brincar mais com os desenhos de f-holes serviram na realidade para piorar as coisas, e não sobreviveram.”
Este artigo foi traduzido do original em inglês por Redação Artes & contextos
O artigo originalWhy Violins Have F-Holes: The Science & History of a Remarkable Renaissance Design, foi publicado @ Booooooom!
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