Sweetie you won’t believe it
No último dia da 15ª edição do MOTELX, o Artes & contextos por lá esteve, e foi presenteado com uma brilhante obra cinematográfica do Cazaquistão, que une o terror, o gore e a comédia.
Realizado por Ernar Nurgaliev, Sweetie You Won’t Belive It (Zhanym, ty ne poverish, 2020), faz-nos lembrar em alguns aspetos a longa-metragem vencedora em 2019 Why Don’t You Just Die?
A história conta-nos, de uma forma irónica e altamente cómica, a vida de Dastan (Daniyar Alshinov), assoberbado com sua vida conjugal, e com a ansiedade do nascimento do seu primeiro filho. Tudo começa com uma discussão entre o casal, sobre o nome do filho, que se arrasta durante horas.
Dastan decide convidar os dois melhores amigos para irem à pesca, de forma a fugir à pressão que sente ser-lhe imposta pela mulher (Asel Kaliyeva). E é aqui que começa a verdadeira montanha-russa de parvoíces que constitui este filme.
Dastan e os dois amigos (Azamat Marklenov e Yerlan Prynbetov) iniciam a sua viagem de pesca, com um percalço tipicamente cliché dos filmes de terror: a estação de serviço abandonada e terrivelmente assustadora. Toda a forma como a cena se desenrola, desde a interação entre o grupo de amigos e o dono da bomba de gasolina, à filha assustadora que deixa em aberto que não seria a última vez que os veríamos. Quando afinal chegam ao pequeno riacho, inicia-se a verdadeira aventura deste enredo.
Depois de assistirem a um bando de mafiosos da aldeia a assassinarem um agricultor, surge um aparente herói (Dulygs Akmolda), que mais parecia um sicário dos filmes de ação, que rasga maxilares, corta cabeças e corre à velocidade da luz. Este, furioso porque o bando matou uma raposa, persegue-os e mata-os um a um, deixando apenas um sobrevivente, que por sua vez, inicia uma caça ao grupo da pesca, que julga responsável pela morte dos seus amigos.
Estes iniciam uma fuga pela própria vida pela floresta, entre uma orelha rasgada, desmaios, trocas de acusações, e apontar de dedos uns aos outros, no desespero de se salvarem.
O resto da trama desenrola-se entre a fuga da vingança, e o desespero de Dastan para voltar para casa, depois de saber que, entretanto, a sua mulher tinha dado à luz.
A forma como, magistralmente, os momentos de suspense são construídos com comédia pura, lançando gargalhadas pela sala inteira.
Desde a personagem que nunca morre e volta sempre no fim, aos que fogem à primeira oportunidade, existe aqui uma clara critica social à construção de uma masculinidade tóxica, e à ideia de que o homem tem de ser corajoso, chefe de família, rígido e invencível.
Muito bem construído, com uma banda sonora nacional, é um exemplo da cinematografia de outros países, pouco apreciada, conhecida ou vista, e que merece, sem dúvida, a nossa atenção e valorização!
Leia as nossas críticas aos filmes MotelX 15:
Ajuda-nos a manter viva e disponível a todos esta biblioteca.
- Première MotelX 2021
- THE LODGER, DE BAPTISTE DRAPEAU
- AFTER BLUE, DE BERTRAND MANDICO
- RUN, DE ANEESH CHAGANTY
- THE NIGHT HOUSE, DE DAVID BRUCKNER
0
Licenciada em História da Arte, apaixonada por arte e fotografia, com o lema: a vida só começa depois de um bom café, e uma pintura de Velázquez.