Cristina Troufa
Nós e o outro… ou melhor, eu e a outra.
Mas qual outra, eu sou eu e mais ninguém, falso…nós somos nós e todas as outras com quem falamos, que andam dentro da nossa cabeça, às vezes, “umas grandes chatas” que nos questionam, porque fazes assim? porque pensas isso? olha para o lado, com quem falas? É comigo, não percebes?
A tua outra! Tudo muito estranho, mas Cristina Troufa conseguiu através da sua pintura mostrar-nos que somos quantas quisermos.
Podemos ser fortes, menos fortes, termos esperança e olhar o futuro com um sorriso, mas depois vem aquela “nuvem” cinzenta por cima da cabeça da outra e o sorriso, para onde foi?
Não vês que lutas, conversas e discutes contigo própria? Somos todas eu!
Cristina coloca as suas personagens leves e cândidas, tristes ou contentes, a rir ou não, conforme a vida nos vai levando. Hoje podemos escolher, está Sol! Eu sou a radiante, a que brilha com a luz, a que salta e dança com o Sol conforme este brilha mais ou menos, é esta que eu quero ser hoje.
Mas quando chega a noite as suas personagens, as outras, “vestem” outra roupa e a noite fá-las enroscarem-se nelas próprias, e juntas voltam a ser uma só.
Cristina Troufa olha para fora de si própria, e imagina como as suas outras personagens, fechadas no seu próprio confinamento, sentem a falta do oxigénio que as faz viver, do verde das plantas que lhes enchem a alma e que as faz viver sem medo.
Afinal falamos de encenações de nós próprias, neste caso da única personagem, Cristina que se transforma numa força da Natureza e testemunha através das suas “bonecas imaginárias” o que a vida nos obriga a viver.
A leveza com que pinta as suas “outras”, mostram-nos a sensibilidade que coloca em cada obra, de tal forma que elas parecem voar, flutuam na água com tal leveza que mal lhe tocam.
Todas somos nós, as outras e eu, e juntas formam uma só Cristina Troufa, que merece o nosso aplauso e admiração pela pintura minuciosa e tão verdadeira que nos apresenta.
Não é de estranhar, portanto, que o seu trabalho seja tão requisitado e representado pelo mundo fora, seja em exposições individuais ou colectivas, faça parte de coleções particulares, tendo mesmo já sido jurada do projecto “Portugart” em Londres, na seleção de artistas portugueses para uma exposição na mesma cidade.
Afinal, Cristina Troufa pode ser o que ela quiser, ela e as outras, as suas outras e todas juntas representarem a nossa resiliência como seres humanos, que tantas vezes lutam pela sua sobrevivência.
Nós e as outras, repito, afinal, somos as outras e nós próprias!
A Exposição está patente na CNAP até dia 1 de maio de 2021
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De olhar sempre atento, perscrutando o belo à minha volta, observo e absorvo para, divagando pela palavra, revelar e ajudar a trazer à luz o que vou encontrando pelo caminho