A História da Tatuagem
A tatuagem é uma arte antiga cuja penetração na corrente dominante americana, e de outras culturas ocidentais, é um desenvolvimento relativamente recente.
Considero as tatuagens como algo que deve comunicar. Quando vejo uma tatuagem que não comunica, ela é inútil. – Henk Schiffmacher, artista tatuador
Muito antes de pegar – ou de se pôr debaixo de – uma agulha de tatuagem, o lendário tatuador e auto-denominado “patinho feio”, Henk Schiffmacher era um fotógrafo principiante e colecionador ocasional de lendas da tatuagem.
Inspirados pelas abordagens imersivas de Diane Arbus e do jornalista Hunter S. Thompson, Schiffmacher, também conhecido por Hanky Panky, participou em convenções de tatuagem, procurando qualquer subcultura onde a pele tatuada se pudesse manifestar no início dos anos 70.

Conforme partilhou com o companheiro tatuador Eric Perfect numa entrevista profana e marcadamente divertida, os seus instintos foram aperfeiçoando ao ponto de “sentir o cheiro” de uma tatuagem escondida por baixo da roupa:
O tipo de tatuagens que se viam naquela época, já não se veem. Aquele material feito na prisão, nas prisões alemãs, por exemplo, gostava de ver um tipo que se tinha tatuado até onde a mão direita alcançava, enquanto todo o lado direito ficava vazio… Sempre adorei aquele material que nunca foi feito para ser arte e que vinha diretamente do coração.
Quando os tatuadores lhe escreviam, para lhe pedirem cópias das suas fotografias, ele guardava as cartas – dizendo a Eric Goodfellow da Hero :
Recebia coisas de todo o mundo. O envelope inteiro era decorado, e a própria carta também. Tenho cartas da Leu Family e são peças de arte completas, são pintadas à mão com todo o tipo de ilustrações. Também as pessoas da prisão escreviam cartas, e dedicavam tempo a escrever nos intervalos das linhas com uma cor diferente. Por isso, as cartas eram muito, muito únicas.
Essa correspondência constituiu os primeiros exemplares do que é hoje uma das maiores coleções mundiais de efémeras tatuagens contemporâneas e históricas.

Schiffmacher entendeu que as tatuagens devem ser documentadas e preservadas por alguém com mente aberta e interesse declarado, antes de acompanharem os seus titulares até ao túmulo.
Muitas famílias tinham vergonha do interesse dos seus entes queridos na arte da pele, e estavam prontas para destruir qualquer vestígio da mesma.
Na outra extremidade do espectro está uma parte de um braço de um baleeiro do século XIX, eternamente adornado com Jesus e a sua namorada, conservado num frasco de formaldeído
Schiffmacher também o adquiriu, para além de ferramentas vintage, cartões de visita, páginas e páginas de arte flash, e algumas receitas de tintas e técnicas de arrepiar “faça você mesmo”, de tatuagens de prisão
(Ele aborda as tatuagens do baleeiro num TED Talk em 2014, abaixo).

A sua coleção também se alargou à sua própria pele, a sua primeira tela como tatuador e prova da sua dedicação a uma comunidade que vê a sua quota-parte de turistas.


A amplitude do seu conhercimento sobre o significado e a história da tatuagem global aponta a sua preferência por tatuagens comunicativas, em oposição a quebra-gelos obscuros que necessitam de uma explicação.
Quando começou a conceber-se como um homem “ilustrado”, imaginou o encanto que qualquer neto potencial teria nesta representação gráfica das aventuras da sua vida – “como o pai de Pippi das Meias Altas“.



Embora o seu Museu da Tatuagem em Amesterdão já não exista, a sua colecção está longe de ser desativada. No início deste ano, Taschen publicou TATTOO. 1730s-1970s. A coleção privada de Henk Schiffmacher.

Este artigo foi traduzido do original em inglês por Redação Artes & contextos
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O artigo original foi publicado @ Open Culture
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