O Universo Etrusco
O Museu Arqueológico de Bolonha explora os enigmas da civilização etrusca a partir de cerca de 1.400 objetos vindos de sessenta museus e instituições de todo o mundo.
O projeto ambicioso dedicado ao mundo etrusco, que teve início no final de 2019, no Museu Arqueológico de Bolonha, foi interrompido pela pandemia da Covid-19. Com o fim do confinamento, a instituição reabriu a exposição com cerca de 1.400 peças vindas de sessenta instituições italianas e internacionais.
A exposição leva os visitantes através de um itinerário pelas terras dos Etruscos, demonstrando que não existia apenas uma Etrúria, mas sim múltiplos territórios que levaram a povoações, modelos de urbanização, administração e gestão económica diferentes no espaço e no tempo, tudo sob a égide daquela cultura, absorvida pela romana.
Acroterium configurado como guerreiro de Cerveteri, Vigna Marini-Vitalini Copenhague, Ny Carlsberg Glyptotek Créditos @ The Ny Carlsberg Glyptotek Fotógrafo: Ole Haupt.
Na imagem de abertura, urna fúnebre de alabastro policromado com um casal a comemorar, Perugia, primeira metade do século IV a. C., Florença, Museu Arqueológico Nacional,
A palavra viagem é a metáfora mais apropriada para cobrir um vasto território desde as planícies do rio Po até ao acidentado Vesúvio, passando por paisagens apeninicas e marinhas, ao longo de estradas e cursos fluviais. A primeira parte do itinerário revela as principais linhas da civilização e história desta cidade enigmática, através de objetos e contextos arqueológicos claramente identificáveis.
A terra dos Rasna
Essa primeira etapa prepara o visitante para empreender o caminho e, imediatamente depois, leva-o para a segunda secção, onde se inicia a jornada nas terras dos Rasna (o nome que os Etruscos atribuíam a si mesmos). Assim, o espectador começa a comparar-se com os viajantes que, há séculos atrás, se aproximaram das terras dos Rasna com interesse e espanto, transmitindo impressões ou memórias individuais através da caneta ou pincel.
São as paisagens pintadas por Samuel J. Ainsley que causam o primeiro impacto, com as doces colinas da Toscana, com as ruínas do Vulci ou com o majestoso penhasco de Orvieto, graças ao empréstimo do British Museum, juntamente com o Louvre, o Royal d’Art e d’Histoire de Bruselas, o Ny Carlsberg Glyptotek de Copenague e os Museus Vaticanos.
A ruínas e as vistas românticas dividem o protagonismo com uma montagem moderna e bem sucedida de cores vivas que destacam a época dos Rasna e marcam as principais fases da longa história etrusca: cinco cores para cinco períodos históricos propõem ao espectador as ferramentas indicadas para compreender melhor a verdadeira trajetória.
Começa com as origens (século IX a. C.) e continua com os primórdios da cidade (finais do século IX até ao terceiro quarto do século VIII a. C.); o poder dos príncipes (último quarto do século III a. C até a início do século VI a. C.), uma história da cidade (séculos VI A V a. C.) e o fim do mundo etrusco (séculos IV a I a. C.).
A primeira e principal secção da exposição centra-se na cronologia e especialmente na análise da sociedade e da cultura daquele tempo, ilustrados pelos vasos biónicos dos primórdios da história etrusca, acompanhados pelos túmulos com os principais sinais de diferenciação social e as primeiras importações da bacia mediterrânica, prova de uma forte rede de intercâmbios.
A visita continua pela época das aristocracias, que preferem identificar-se como poderosos, ricos e guerreiros. Assiste-se ao renascimento das cidades, exemplificado nos templos e nas suas decorações arquitetónicas, que expressam um poder unitário e urbano. Aqui observa-se uma ideologia funerária que olha para o mundo grego através de peças de beleza extraordinária, como as do túmulo das Hydriae di Meidias e de reconstruções feitas a partir cópias decimónicas do túmulo do Triclinio de Tarquinia, emprestadas pelos Museus do Vaticano.
Mais à frente, observa-se o surgimento das zonas periféricas nas margens do coração etrusco de Itália para assistir ao lento e inevitável crepúsculo de um povo confrontado com Celtas, Samnitas e Romanos.
De Tarquina para Vulci
A última e mais importante secção da exposição fica nas mãos da vontade dos visitantes, atravessando sempre paisagens diferentes que moldam o florescer das principais realidades etruscas: cinco secções para cinco Etrúrias, e cada uma, um prelúdio para temas sugestivos e novidades sobre escavações e estudos: Tarquinia, Veio, Cerveteri, Pyrgi y Vulci, as cidades segmentadas como um exemplo da Etrúria do sul, onde a paisagem, com os seus planaltos rochosos, planícies férteis e doces costas, atraiu consideravelmente os primeiros fixamentos e favoreceu a sua transformação em autênticas cidades e centros de produção.
A exposição também oferece uma oportunidade única de admirar novas descobertas, como o túmulo da sacerdotisa de Tarquinia, os objetos votivos do santuário de Pyrgi ou o túmulo do escaravelho dourado de Vulci, de onde vem uma extraordinária seleção de objetos de bronze.
Para além disso, a exposição mostra uma terra complexa e riquíssima como a Etrúria de Campânia com o enxoval principesco fúnebre, exemplificados no túmulo feminino 74 de Monte Vetrano (Salerno), que remonta ao século VIII a. C. e é um vestígio de uma comunidade estruturada e integrada num sistema comercial que operava entre o Leste levantino, a Sardenha e a área tirónica e adriática. Neste território onde as culturas se misturam, a Pontecagnano, Cápua e Nola, junta-se Pompeia, com os seus templos de decorações coloridas, que reivindicam as suas origens pré-romanas.
Rumo à Etrúria interior, atravessada pelo Tibre e formada por Orvieto, Perusa, Chiusi e Cortona, na cidade de Velzna (Orvieto) destaca-se uma das descobertas mais importantes dos últimos anos: il fanum Voltumnae, santuário de todos os Etruscos, recordado pelas fontes literárias, transformou-se numa realidade arqueológica com as valiosas ofertas votivas, as inscrições aos deuses que transmitem uma vivacidade cultural e espiritual da era arcaica à romanização.
Enquanto isso, as magníficas urnas policromadas da zona peruana e os rostos impassíveis de Chiaciano esboçam a fisicalidade dos Etruscos e ilustram de que maneira o homem se colocava perante a morte, com ritos e expectativas do além.
No que respeita à Etrúria do norte, da Populónia chegam algumas das novidades mais interessantes do conteúdo, como a importante sepultura infantil Bisoma, em Pithos, do século IX a. C., ou o depósito de armas encontrado na praia de Baratti (séculos V a IV a. C.).
E por último, a Etrúria da área do rio Po, um amplo território que vai desde a península de Verucchio e de Marzabotto até ao mar Adriático (Spina e Adria). É de Bolonha que chegam as excecionais descobertas do túmulo 142 da Necrópole da rua das Belas Artes, com um conjunto de peças de madeira, cuja conservação representa uma novidade e uma raridade. Um entrelaçamento com a rica secção etrusca do museu testemunha o papel da Bolonha Etrusca no primeiro plano, completando assim este compromisso temporário.
Exposição Etruscos, viagem às terras de Rasna
Museu Arqueológico de Bolonha
Até 29 de novembro de 2020
O artigo original foi publicado em @Descubrir el Arte
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Este artigo foi traduzido do original em castelhano por Carolina Rocha
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