
Uma Viagem ao Epicentro do Universo Etrusco0 (0)
22 de Julho, 2020
O Universo Etrusco
O Museu Arqueológico de Bolonha explora os enigmas da civilização etrusca a partir de cerca de 1.400 objetos vindos de sessenta museus e instituições de todo o mundo.
O projeto ambicioso dedicado ao mundo etrusco, que teve início no final de 2019, no Museu Arqueológico de Bolonha, foi interrompido pela pandemia da Covid-19. Com o fim do confinamento, a instituição reabriu a exposição com cerca de 1.400 peças vindas de sessenta instituições italianas e internacionais.
A exposição leva os visitantes através de um itinerário pelas terras dos Etruscos, demonstrando que não existia apenas uma Etrúria, mas sim múltiplos territórios que levaram a povoações, modelos de urbanização, administração e gestão económica diferentes no espaço e no tempo, tudo sob a égide daquela cultura, absorvida pela romana.

Acroterium configurado como guerreiro de Cerveteri, Vigna Marini-Vitalini Copenhague, Ny Carlsberg Glyptotek Créditos @ The Ny Carlsberg Glyptotek Fotógrafo: Ole Haupt.
Acroterium configurado como guerreiro de Cerveteri, Vigna Marini-Vitalini Copenhague, Ny Carlsberg Glyptotek Créditos @ The Ny Carlsberg Glyptotek Fotógrafo: Ole Haupt.
Na imagem de abertura, urna fúnebre de alabastro policromado com um casal a comemorar, Perugia, primeira metade do século IV a. C., Florença, Museu Arqueológico Nacional,
A palavra viagem é a metáfora mais apropriada para cobrir um vasto território desde as planícies do rio Po até ao acidentado Vesúvio, passando por paisagens apeninicas e marinhas, ao longo de estradas e cursos fluviais. A primeira parte do itinerário revela as principais linhas da civilização e história desta cidade enigmática, através de objetos e contextos arqueológicos claramente identificáveis.
A terra dos Rasna
Essa primeira etapa prepara o visitante para empreender o caminho e, imediatamente depois, leva-o para a segunda secção, onde se inicia a jornada nas terras dos Rasna (o nome que os Etruscos atribuíam a si mesmos). Assim, o espectador começa a comparar-se com os viajantes que, há séculos atrás, se aproximaram das terras dos Rasna com interesse e espanto, transmitindo impressões ou memórias individuais através da caneta ou pincel.
São as paisagens pintadas por Samuel J. Ainsley que causam o primeiro impacto, com as doces colinas da Toscana, com as ruínas do Vulci ou com o majestoso penhasco de Orvieto, graças ao empréstimo do British Museum, juntamente com o Louvre, o Royal d’Art e d’Histoire de Bruselas, o Ny Carlsberg Glyptotek de Copenague e os Museus Vaticanos.
A ruínas e as vistas românticas dividem o protagonismo com uma montagem moderna e bem sucedida de cores vivas que destacam a época dos Rasna e marcam as principais fases da longa história etrusca: cinco cores para cinco períodos históricos propõem ao espectador as ferramentas indicadas para compreender melhor a verdadeira trajetória.

Cabeça de um jovem de Fiesole, 330 a. C., Florença, Museu Arqueológico Nacional.

Cabeça do antefixo de Acheloo, 530-520 a.C., Roma, Museo Nacional, Vila etrusca Giulia.

Cabeça de Dionísio, Campo della Fiera, 480 a.C., Orvieto, Museu Arqueológico Nacional
Começa com as origens (século IX a. C.) e continua com os primórdios da cidade (finais do século IX até ao terceiro quarto do século VIII a. C.); o poder dos príncipes (último quarto do século III a. C até a início do século VI a. C.), uma história da cidade (séculos VI A V a. C.) e o fim do mundo etrusco (séculos IV a I a. C.).
A primeira e principal secção da exposição centra-se na cronologia e especialmente na análise da sociedade e da cultura daquele tempo, ilustrados pelos vasos biónicos dos primórdios da história etrusca, acompanhados pelos túmulos com os principais sinais de diferenciação social e as primeiras importações da bacia mediterrânica, prova de uma forte rede de intercâmbios.
A visita continua pela época das aristocracias, que preferem identificar-se como poderosos, ricos e guerreiros. Assiste-se ao renascimento das cidades, exemplificado nos templos e nas suas decorações arquitetónicas, que expressam um poder unitário e urbano. Aqui observa-se uma ideologia funerária que olha para o mundo grego através de peças de beleza extraordinária, como as do túmulo das Hydriae di Meidias e de reconstruções feitas a partir cópias decimónicas do túmulo do Triclinio de Tarquinia, emprestadas pelos Museus do Vaticano.

Peças do túmulo das ydriae di Meidias, século V a.C., Florença, Museu Arqueológico Nacional.
Mais à frente, observa-se o surgimento das zonas periféricas nas margens do coração etrusco de Itália para assistir ao lento e inevitável crepúsculo de um povo confrontado com Celtas, Samnitas e Romanos.
De Tarquina para Vulci
A última e mais importante secção da exposição fica nas mãos da vontade dos visitantes, atravessando sempre paisagens diferentes que moldam o florescer das principais realidades etruscas: cinco secções para cinco Etrúrias, e cada uma, um prelúdio para temas sugestivos e novidades sobre escavações e estudos: Tarquinia, Veio, Cerveteri, Pyrgi y Vulci, as cidades segmentadas como um exemplo da Etrúria do sul, onde a paisagem, com os seus planaltos rochosos, planícies férteis e doces costas, atraiu consideravelmente os primeiros fixamentos e favoreceu a sua transformação em autênticas cidades e centros de produção.
A exposição também oferece uma oportunidade única de admirar novas descobertas, como o túmulo da sacerdotisa de Tarquinia, os objetos votivos do santuário de Pyrgi ou o túmulo do escaravelho dourado de Vulci, de onde vem uma extraordinária seleção de objetos de bronze.

Capacete de bronze de Volterra, túmulo de um guerreiro, Poggio alle Croci, últimas décadas do século VIII a. C., Museu Etrusco de Volterra Guarnacci.
Para além disso, a exposição mostra uma terra complexa e riquíssima como a Etrúria de Campânia com o enxoval principesco fúnebre, exemplificados no túmulo feminino 74 de Monte Vetrano (Salerno), que remonta ao século VIII a. C. e é um vestígio de uma comunidade estruturada e integrada num sistema comercial que operava entre o Leste levantino, a Sardenha e a área tirónica e adriática. Neste território onde as culturas se misturam, a Pontecagnano, Cápua e Nola, junta-se Pompeia, com os seus templos de decorações coloridas, que reivindicam as suas origens pré-romanas.
Rumo à Etrúria interior, atravessada pelo Tibre e formada por Orvieto, Perusa, Chiusi e Cortona, na cidade de Velzna (Orvieto) destaca-se uma das descobertas mais importantes dos últimos anos: il fanum Voltumnae, santuário de todos os Etruscos, recordado pelas fontes literárias, transformou-se numa realidade arqueológica com as valiosas ofertas votivas, as inscrições aos deuses que transmitem uma vivacidade cultural e espiritual da era arcaica à romanização.

Canopo, necrópole de Tolle, túmulo 398, século VIII a. C., Chianciano Terme, Museu Cívico Arqueológico de Aguas.
Enquanto isso, as magníficas urnas policromadas da zona peruana e os rostos impassíveis de Chiaciano esboçam a fisicalidade dos Etruscos e ilustram de que maneira o homem se colocava perante a morte, com ritos e expectativas do além.
No que respeita à Etrúria do norte, da Populónia chegam algumas das novidades mais interessantes do conteúdo, como a importante sepultura infantil Bisoma, em Pithos, do século IX a. C., ou o depósito de armas encontrado na praia de Baratti (séculos V a IV a. C.).
E por último, a Etrúria da área do rio Po, um amplo território que vai desde a península de Verucchio e de Marzabotto até ao mar Adriático (Spina e Adria). É de Bolonha que chegam as excecionais descobertas do túmulo 142 da Necrópole da rua das Belas Artes, com um conjunto de peças de madeira, cuja conservação representa uma novidade e uma raridade. Um entrelaçamento com a rica secção etrusca do museu testemunha o papel da Bolonha Etrusca no primeiro plano, completando assim este compromisso temporário.
Exposição Etruscos, viagem às terras de Rasna
Museu Arqueológico de Bolonha
Até 29 de novembro de 2020
O artigo original foi publicado em @Descubrir el Arte
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Este artigo foi traduzido do original em castelhano por Carolina Rocha
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