Rebecka Tollens
Imagem em destaque: Barbro Ingrid Marianne Henriksson Larsson, 40 x 50 cm, 2019, lápis de carvão, Rebecka Tollens
Rebecka Tollens é uma jovem artista franco-sueca cujos desenhos a lápis são caraterizados por uma atmosfera perturbadora composta por personagens de infância. O seu universo particular retrata cenas estranhas e oníricas da vida, resultante de uma exploração da sua própria interioridade. Imagens sedutoras e perturbadoras que propõem uma poesia particular.
B!B! : Rebecka, podes apresentar-te ?
Rebecka : Eu nasci e cresci nos subúrbios de Estocolmo em 1990, onde atualmente vivo e trabalho depois de ter passado 10 anos em França. A minha mãe é sueca, o meu pai é dos Alpes franceses. Ao princípio eu queria tornar-me política, para lutar pelos direitos humanos. Mas desde 2011 que estudo e trabalho no desenho a lápis e a carvão. Partilho um workshop, “La Junte” em Estocolmo, com sete mulheres incríveis que trabalham em vários campos artísticos.
B!B! : Que papel desempenharam as viagens neste teu desejo de te tornares desenhadora?
Rebecka : As viagens criam oportunidades para me encontrar constantemente na beira do precipício com todos os desafios, medos e aberturas que isso pode incluir, sem permanecer fixa numa única visão. É uma maneira de me purificar constantemente mantendo-me humilde nas minhas dúvidas e na minha aprendizagem. O Gana foi a minha primeira grande viagem a solo e a minha primeira bofetada na cara. Eu ainda mal tinha 18 anos e queria ajudar o mundo através da política. Regressei tão confusa pelas mentiras da realidade, quanto acordada para todos os novos espectros que sentia terem sido escondidos de mim até então. Foi no Gana que se desencadeou o interesse em mergulhar numa expressão não-verbal, universal e inclusiva. A necessidade de estar sempre em movimento foi inicialmente um desejo de distanciamento de algo que também surgiu como aquilo de que eu queria fugir durante as minhas viagens: o enraizamento. Hoje, a viagem é constante, não é uma fuga, mas um passo em frente indispensável.
B!B! : Falas-nos da tua série The Last Wedding ?
Rebecka : Em Abril deste ano sonhei que tinha uma exposição em França chamada The Last Wedding. Durante um mês passei o meu tempo a investigar o significado deste título de todos os ângulos possíveis para compreender um pouco melhor. Há mais de um ano que durmo de olhos bem abertos com os meus monstros. Para vê-los claramente, tenho que encontrar um lugar atraente e denso, com a esperança perdida de ver a luz novamente.
Abro essas portas frequentemente para me lembrar de coisas às quais (in)conscientemente me entrego, mas acho que cumprimentei a maioria desses monstros, assustadores, nojentos, absurdos e confusos. No final, The Last Wedding é o verdadeiro e último casamento comigo mesma. Uma tentativa de entender o vínculo que une as coisas, da qual a única resposta recorrente que pude encontrar foi o amor. O último e o maior dos meus monstros. Para lhe apertar a mão, confrontei-me num espaço inconsciente onde as perguntas são numerosas e as respostas raras. Tenho de aceitar o facto de que não serei capaz de compreender nada, só tenho de me resignar a isso.
O abandono dá-me vontade de chorar. Não há arco-íris no meu coração sem a água nos meus olhos. Ainda não fui capaz de apertar a mão àquele monstro. O meu trabalho não é apenas sobre a minha própria união [casamento comigo], mas reflecte um conceito mais amplo, a questão do alinhamento. Eu nunca entenderei o que realmente é, mas nunca vou parar de aprender com isso. É como uma pequena manifestação de proteção, de poder, que me encoraja a entender o poder das sombras.
O reconhecimento destes poderes ajuda-me a eliminar o medo do escuro e do desconhecido. Neste mundo absurdo e grotesco ainda há algumas belas árvores em crescimento. Estou feliz por poder finalmente partilhar as minhas lições, ressentimentos, medos e mal-entendidos através de cerca de sessenta desenhos, uma série de cerâmicas com um amigo do estúdio, Hedvig Bergman, e um vídeo.
B!B!: O que influencia as tuas ilustrações?
Rebecka : O que eu não compreendo ou o que é invisível para mim, representa as minhas verdadeiras influências. O meu avô sueco, John, também é uma grande influência para mim. Às vezes eu olho para pinturas renascentistas para me estimular pela técnica, mas não é algo que me inspira.
B!B! : Porquê esta escolha de apenas preto e branco ?
Rebecka : A técnica do lápis e do carvão foi a que mais facilmente compreendi e por isso consegui aplicá-la para exprimir o incompreensível. As cores são maravilhosas, é uma técnica em si mesma que me fascina, mas que permanece um mistério.
B!B! : Porque é que a infância está tão presente nas tuas obras?
Rebecka : A infância é a única fonte capaz de reminiscências e respostas. Tento despertar esta parte em mim, em nós, para que a conversa permaneça honesta.
B!B! : Quais são os temas que desejas abordar no teu trabalho?
Rebecka : Não sei porque desenho. Tenho tentado durante todos estes anos compreender e formular o meu trabalho em palavras, a fim de formular uma boa hipótese. Mas todos estes mundos e todas estas emoções que se abriram para mim, para contemplar, sentir e partilhar através do desenho, são uma convicção suficiente para continuar a vasculhar no escuro.
B!B! : Estas ilustrações resultam de experiências pessoais?
Rebecka : Por muito que eu continue fascinada e motivada pelas oportunidades e desenvolvimentos pelos quais o meu corpo e os meus sentidos possam passar graças a esta forma de expressão, também estou pouco motivada a tentar compreender e enquadrar estas experiências. Por outro lado, nunca me vi fisicamente como um bebé, sufocado por rosas negras numa cama, nem com o meu pé comido por formigas enquanto via um gato preto a comer essas formigas [nota do editor: referências aos temas de alguns dos seus desenhos]. Mas, por outro lado, eu senti a impressão que estas fantasias me dão. Portanto, as ideias destas imagens que nascem em mim, a trabalhar ou a dormir, não me surpreendem.
B!B! : Qual é a série ou ilustração que mais se aproxima do teu coração?
Rebecka : The Mourning Dove que eu fiz no regresso a Estocolmo para uma exposição em Bruxelas, no ano passado. Foi a primeira vez que pude produzir na minha pátria, e atrevi-me a aplicar a minha técnica e a minha forma de trabalhar de um modo brutal e harmonioso, baseada apenas no meu próprio estado de espírito naquele momento. Esta série ilustra todos os meus segredos.
B!B! : Próximos projetos.
Rebecka : Em Janeiro de 2020, terei a minha primeira e mais importante exposição individual, The Last Wedding, em Paris, nos quatro andares da galeria da Fábrica de Artes. Serão lançados três livros para a exposição nas editoras de Ripopée, 476 e Arts Factory. Depois continuaremos a expor e a trabalhar nos nossos projectos e na colaboração com La Junte na Suécia.
Em paralelo com esta fase intensa da produção, também trabalho com outros meios para me manter acordada. Esta primavera tenho,m entre outras coisas, um novo projeto de filme para editar e de música para terminar. Vou para a Islândia no final de 2020 para uma residência. Ainda tenho algumas surpresas emocionantes para descobrir.
B!B! : Os colunistas de Boum! Bang! têm o hábito de terminar as entrevistas com uma selecção de perguntas do questionário Proust. Aqui vão algumas adaptadas livremente:
B!B! : Que artista gostarias de conhecer durante a sua vida?
Hilma af Klint.
B!B! : A tua qualidade numa pessoa?
A preasença.
B!B! : A tua canção do momento
Pink Floyd – The great gig in the sky
B!B! : O teu pintor preferido ?
Henry Darger.
B!B! : Que dom mais gostarias de ter?
A hipnose, ou ser capaz de reproduzir água com as mãos.
B!B! : A tua ideia ade felicidade ?
Reconhecimento.
B!B! : Um poeta?
Madame Blavatsky.
B!B! : Se tivesses de mudar de emprego, qual escolherias?
Agricultora, ou “padre”.
B!B! : Como sonhas morrer?
Surpreendida pelo propósito, fascinada pelo momento.
B!B! : E finalmente, se te eu disser: « Boum! Bang! », o que me dizes tu?
Uma queda que eu dei há alguns anos.
O artigo original Rebecka Tollens – Brume fantasmagorique foi publicado @ BOUMBANG
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Este artigo foi traduzido do original em francês por Redação Artes & contextos
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