
10 Filmes para Melhor entender a Realização0 (0)
21 de Fevereiro, 2020
Entender a Realização
Os fatores da Produção e Realização cinematográfica, como som, música, iluminação, cinematografia, cenários, edição, efeitos especiais, argumento e interpretação podem ser influenciados por filmes que conseguem o melhor a partir de “coisas elementares” na sua produção cinematográfica.
1. O Mundo a Seus Pés (1941) (Citizen Kane)

O Mundo a Seus Pés (1941)
O que tem para ensinar: Movimento de câmara, Ângulos de câmara, Focagem, Edição.
É um facto que a maioria das pessoas gosta de O Mundo a Seus Pés (Citizen Kane), e o filme é hoje considerado um dos melhores já realizados. Isto muito porque Orson Welles infringiu todas as regras ao colocar a câmara em ângulos nunca antes utilizados, e ao movimentá-la de formas inovadoras e fascinantes.
Não teve grande sucesso na época, mas é por muitos considerado um pioneiro em algumas técnicas de produção atualmente vulgarizadas.
Cena a examinar: Um jovem Kane é visto a atirar bolas de neve num dia de Inverno. Ao mesmo tempo e em vez de mudar de cena, Wells deixa a ação continuar movendo a câmara para dentro da cabana, através de uma janela para revelar os pais a discutir o futuro do rapaz. Enquanto a câmara acompanha os pais durante a cena, Kane é mantido em segundo plano, distante e indiferente. É simples, ergonómico e (para a época) revolucionário.
2. O Acossado (1960) (À bout de souffle)

O Acossado (1960)
O que tem para ensinar: Edição, Causalidade.
Ignorando as regras convencionais de edição, O Acossado (À bout de souffle), de Jean-Luc Godard, baralhou e encantou os seus espectadores com um visual estilizado, ao introduzir abruptos “cortes de salto” (jump cuts) entre cenas. De repente, os atores trocam de posição em cena e, como resultado, o tempo parece saltar para diante.
Os cineastas norte-americanos tomaram nota e começaram a fazer os seus próprios filmes parecerem mais rápidos e incisivos – dando início a uma “new wave” norte-americana de produção cinematográfica que ainda define o cinema contemporâneo.
Cena a examinar: Enquanto Michel dá boleia a Patricia num carro recém-roubado, Godard elimina a passagem do tempo, editando profundamente a cena. O tempo parece literalmente ‘saltar’ para a frente enquanto carros e transeuntes desaparecem; ainda assim, ao mesmo tempo, a conversa parece fluir e fazer sentido.
3. Estrela Negra (1974) (Dark Star)

Estrela Negra (1974)
O que tem para ensinar: Como trabalhar com um orçamento muito limitado, Design do cenário.
Soando a barato e a parecer ainda mais barato (o alienígena é literalmente uma bola de praia), ainda há muito que podemos aprender com este clássico de ficção científica de John Carpenter.
Antes de Clerks, El Mariachi ou The Blair Witch Project, Estrela Negra provou que ângulos de câmara inovadores e um argumento engenhoso poderão ser tudo o que é necessário para fazer um bom filme.
Cena a examinar: A cena do elevador em Estrela Negra é ao mesmo tempo divertida e notavelmente inovadora. Temos a certeza que Dan O’Bannon (que mais tarde viria a escrever Alien) está a centímetros de cair para a morte, mas na verdade ele está deitado no chão com um pedaço de madeira encostado aos pés.
Carpenter provoca a tensão co o elevador a aproximar-se, quando o que foi filmado, foi uma placa de plástico em close-up, com efeitos sonoros de um elevador em fundo.
4. Explosão (1981) (Blow Out)

Explosão (1981)
O que tem para ensinar: Efeitos sonoros.
O fracasso financeiro de Blow Out, quase apagou o thriller de Brian De Palma dos livros de história. Felizmente, os cinéfilos continuam a exaltar os seus louvores (tanto narrativos como técnicos).
Blow Out mergulha no próprio processo de produção do filme, seguindo o editor de som Jack Terri (John Travolta) ao deparar-se com um homicídio que ele acidentalmente grava enquanto procura por efeitos sonoros. Embora possa dever muito ao Blow-Up de Michelangelo Antonioni, o filme desbravou novos caminhos com a sua inovação.
Cena a examinar: A cena em que Travolta grava o importante ‘blow out’, tem uma qualidade hipnótica. Durante quase cinco minutos, De Palma pede aos espectadores para se sentarem e ouvirem o que os rodeia.
Travolta permanece na escuridão, a gravar o vento a soprar as árvores durante a noite. Enquanto ele move o microfone de um casal de amantes zangados, um estranho ruído de chilrear distrai-o. A câmara recua uma boa centena de metros, deixando Travolta ao longe e revela que o ruído semelhante ao chilrear vem de um sapo minúsculo.
O pequeno sapo salta para a água, mas o som da água a bater sobre o seu corpo parece estrondoso. De súbito outro som, um som metálico enigmático desperta e chama a atenção de Travolta; o ruído não é esclarecido na cena e só quando se volta a ver é que se nota que De Palma não só introduziu uma personagem central de uma forma pouco convencional, como também introduziu uma arma do crime.
5. Tudo Bons Rapazes (1990) (Goodfellas)

Tudo Bons Rapazes (1990)
O que tem para ensinar: Como usar a banda sonora para complementar a ação.
Martin Scorsese não só faz filmes musicais (The Last Waltz, No Direction Home), mas a música ajuda-o a fazer os seus filmes. Ele é um verdadeiro realizador de rock-and-roll que é capaz de combinar a música com a cinematografia de uma forma que enriquece e potencializa a sua produção cinematográfica. A banda sonora deste clássico de gangsters é impressionante. Com quase cinquenta temas que se diz reflectirem (embora remotamente) no ecrã, os estados emocionais das personagens.
Cena a examinar: Um grande exemplo da relização “rock and roll” de Scorsese surge quando vemos Jimmy “The Gent” de Robert De Niro a olhar fixamente para o apático Morrie, de Ray Liotta. A câmara aproxima-se lentamente de Jimmy enquanto a música psicadélica dos Cream, Sunshine of Your Love, começa a tocar harmoniosamente.
A câmara aproxima-se lentamente de Jimmy enquanto a música psicadélica dos Cream Sunshine of Your Love, começa a tocar harmoniosamente.
Torna-se claro que os pensamentos de Jimmy se dirigem erraticamente para o assassinato quando ouvimos a letra “It’s getting near dawn, when lights close their tired eyes…” (aproxima-se o amanhecer, quando as luzes fecham os olhos cansados).
É uma mistura magistral de interpretação poderosa, realização e uma grande escolha musical.
6. O Padrinho III (1990) (The Godfather Part III)

O Padrinho III (1990)
O que tem para ensinar: Iluminação, Maquilhagem.
Não há muitas coisas que o terceiro filme do Padrinho faça melhor que os seus dois antecessores. No entanto, consegue envelhecer com sucesso o protagonista sem despertar demasiada atenção para a maquilhagem. Quando mal feita, uma má maquilhagem pode destruir o encanto do público num filme (pensemos no retrato involuntariamente hilariante de Guy Pearce como um velho em Prometheus).
Cena a examinar: A cena em que Kaye confronta Michael, mostra o Don mafioso de Al Pacino com um ar desgastado e velho. O cabelo de Pacino é pintado de branco, e uma maquilhagem subtil foi usada para acrescentar bolsas debaixo dos olhos e para dar ênfase às linhas do rosto.
O que realmente faz a idade de Michael destacar-se, no entanto, é o uso da iluminação; ela acrescenta sombras sempre presentes em volta dos olhos – e acrescenta mais definição às linhas do rosto.
Depois de Kaye expulsr Michael, ele retira-se para a escuridão. As sombras absorvem as suas feições, enquanto os seus pensamentos deslizam ainda mais para o desespero.
Apenas as mãos se mantêm bem, simbolizando o controlo que ainda consegue exercer.
7. Matrix (1999) (The Matrix)

Matrix (1999)
O que tem para ensinar: Iluminação, Cor, Lentes.
São muitas vezes as sequências de ação e os efeitos especiais que mais são referidos por quem vê Matrix. No entanto, mesmo as sequências de diálogo mais básicas têm nuances que oferecem dicas e inferências que subconscientemente ajudam o espectador a manter-se orientado durante a narrativa complexa.
Cena a examinar: Enquanto estava na ponte do Nabucodonosor, Morpheus pergunta a Neo: “Querias saber o que é a Matrix?” Ao fundo podemos ver um brilho azul emitindo dos ecrãs do computador e esta luz percorre cada cena, mesmo quando os ecrãs não estão visíveis. Todas as personagens que rodeiam Neo são filmadas usando uma lente longa que eleva as personagens do segundo plano.
Depois de Neo ser ligado à matrix, o esquema de cores muda. O azul vibrante desaparece, e é substituído por um verde vulgar (semelhante ao código da Matrix) que é visível tanto na gravata de Morpheus como na T-shirt de Neo.
Usando uma lente normal, as personagens também ganham um aspeto ligeiramente mais suave em termos de focagem, subtilmente inferindo que acabaram de se tornar gradualmente menos “reais” do que eram um momento antes.
8. O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel (2001) (Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring)

O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel (2001)
O que tem para ensinar: Iluminação, Ângulos de Câmara, Edição.
Considerado um clássico moderno, A Irmandade do Anel usou um pequeno conjunto de técnicas de produção de filmes para criar a Terra Média. Para conseguir que os pequenos Hobbit’s interagissem com homens de tamanho real, eles usaram: perspectiva forçada (em que um ator fica em segundo plano para parecer mais pequeno), cenários gigantes, duplos baixos, um pouco de CGI, além de alguns atores usarem andas.
É no entanto, no trabalho de iluminação artística e cinematográfica que O Senhor dos Anéis realmente se destaca da maioria dos blockbusters de fantasia.
Cena a examinar: Quando Bilbo se inquieta por deixar o anel mágico a Frodo, a posição da câmara faz do anel uma personagem em cena. Usando ambos os planos de filmagem de cena contra cena (onde a câmara é colocada do ponto de vista de uma personagem ou apenas atrás da personagem), o poder do anel sobre Bilbo torna-se muito mais evidente.A luz no rosto de Bilbo, parcialmente iluminado e na escuridão, ilustra o conflito que ele enfrenta ao pensar no anel; este está em duas consciências, uma escura e outra clara. A cena termina com o anel a encarar diretamente Gandalf com uma imagem de ponto de vista que ajuda a sugerir o sentimento do anel.
9. Inadaptado (2002)(Adaptation)

Inadaptado (2002)
O que tem para ensinar: Argumento.
Enquanto tentava adaptar o livro de não-ficção The Orchid Thief a um argumento interessante, Charlie Kaufman superou-se a si próprio ao tornar-se parte do argumento. Assim, em vez de uma história sobre como encontrar e clonar uma planta rara – temos uma história sobre Kaufman a tentar adaptar uma história sobre como encontrar e clonar uma planta rara.
Embora seja consistentemente um quebra-cabeças, Inadaptado expõe quase todos os dilemas que os argumentistas enfrentam e ao mesmo tempo defende (mais ou menos) as convenções de Hollywood sobre conflitos e crises que parecem obrigatórias para escrever uma história digna de atenção.
Cena a examinar: Quando Charlie tentava desesperadamente pensar num arco de personagens para uma flor, temos uma versão altamente exagerada do que a maioria dos argumentistas tem que passar pelo menos uma vez na sua vida. Ponderava seriamente iniciar o filme com Darwin, a explicar a evolução, até que teve uma epifania momentânea: ” começar exatamente antes da vida surgir no planeta”.
o desapontamento da cena poderia ser uma explicação do porquê de alguns argumentos nunca funcionarem, mas o facto de o filme ter sido realizado (e de tu tê-lo visto) significa que a meta-narrativa funciona como uma prova de como o pensamento original ainda pode prevalecer para criar histórias notáveis (e viáveis).
10. O Mentor (2012) (The Master)

O Mentor (2012)
O que tem para ensinar: Porque é que filmar em película ainda vale tanto a pena.
Há um intenso debate actualmente em curso na comunidade cinematográfica sobre como os cineastas deveriam usar a tecnologia para criar uma experiência o mais imersiva possível para os cinéfilos.
A resposta de Hollywood é quase enfática: ” usa o 3D”. Recentemente, Peter Jackson tentou levar o meio ainda mais longe com os filmes The Hobbit, gravando em 48 fotogramas por segundo. O uso de frequências de frames mais elevadas é uma tendência que deverá aumentar com as sequelas de Avatar de James Cameron a serem amplamente apontadas para o uso desta técnica.
Com esta tecnologia – agitação à vista, é duplamente refrescante que Paul Thomas Anderson tenha optado por filmar em película de 65mm. Para além do IMAX, o uso do 65mm está adormecido no cinema ocidental desde o Hamlet de Kenneth Brannagh, em 1996. O resultado? Uma estética hipnótica, de cair o queixo, que proporcionou uma clareza de imagem de uma qualidade cinematográfica que não é vista no ecrã desde os anos sessenta.
Cena a examinar: É difícil escolher porque tudo é bom. Quando Joaquin Phoenix, o perturbado Freddie, é convidado a “escolher um ponto” no imenso deserto norte-americano, ele acelera numa mota para o vasto (mas belo) deserto. A cena sobrepõe o ruído produzido pela moto com o silêncio do olhar magistral de Philip Seymour Hoffman.
O resultado? Estás absorvido tanto pelo observado, como pelo observador; pensamento e vazio. Por mais forte que seja o ruído da moto, quando olhamos para ele do ponto de vista do amo, ele é apenas um alfinete no enorme horizonte cinematográfico à la Lawrence da Arábia.
O artigo original 10 Fims To Better Understand Filmmaking foi publicado @ Cinema Thoughts
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Este artigo foi traduzido do original em inglês por Redação Artes & contextos
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