Cosmologia da arte sonora Artes & contextos cosmologia del arte sonoro

Cosmologia da arte sonora
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25 de Dezembro, 2020 0 Por Artes & contextos
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Também o tempo torna tudo relativo.

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Cosmologia da arte sonora

 

No início do século XX, vários pioneiros iniciaram uma viagem de exploração através dos fenómenos e processos do som. Uma via experimental que permitiu combinar as artes sonoras com as artes visuais. O Museu Reina Sofia propõe uma viagem vibrante através de uma selecção de formas, géneros, abordagens e singularidades que vão além das categorias pré-definidas de arte moderna e contemporânea até 1980.

À medida que os vários movimentos vanguardistas do século XX se foram desenvolvendo, o som emergiu no campo das artes visuais para explorar cantos criativos anteriormente desconhecidos. Os fenómenos e eventos audíveis foram transformados em materiais plásticos que podiam ser processados vocal e tecnicamente.

Coincidindo com o desenvolvimento tecnológico de novos meios de gravação e síntese de som, as artes sonoras começaram a convergir com as artes visuais, aproveitando também o vivo interesse que as paisagens sonoras da modernidade industrial e urbana e os sons do corpo fonatório (ruídos da boca, estalidos da língua, jogos com sopros, etc.) tinham despertado na sociedade.

Cosmologia da arte sonora Artes & contextos descubrir Isidore Isou La plastique parlante 1960 1987

La plastique parlante, por Isidore Isou, 1960-1987, técnica mista 19 x 40 x 34 cm. Colección Fabre. Disonata, Museo Reina Sofía.

Os criadores, ignorando as definições tradicionais das suas respetivas disciplinas, favoreceram uma série de experiências acústicas físicas e técnicas revolucionárias. Era como se uma espécie de membrana que costumava bloquear os ruídos deste mundo tivesse desaparecido dos seus ouvidos. Uma realidade audível pulsou com a vida da era acelerada e fragmentada das máquinas.

Estes sons anteriormente inadmissíveis expandiram e quebraram simultaneamente a construção muito bem definida de harmonia no sistema musical tradicional ocidental. Embora este sistema tivesse perdido o contacto com o mundo moderno, os seus protagonistas burgueses defenderam ardentemente a visão etnocêntrica das suas formas e estilos supostamente superiores. Mas os sons e os pensamentos há muito que se tinham libertado de um espartilho de regras cada vez mais rigorosas.

Cosmologia da arte sonora Artes & contextos descubrir Dieter Roth y Bjorn Roth.

Keller-Fuo, por Dieter Roth y Bjorn Roth, 1980-1989. Relevo em técnica mista 200 x 240 x 60 cm. Fundación Dieter Roth, Hamburgo. Disonata, Museo Reina Sofía.

A partir desse momento, tudo no campo do som merecia ser examinado: todas as notações possíveis (desde arranhões feitos num disco a pegadas efémeras na areia), todas as formas de criação sonora (seja por máquinas mecânicas e electrónicas ou mesmo animais), todas as formas de encenação (mesmo num deserto ou completamente bêbado), todas as referências a estilos (desde música antiga não ocidental até às últimas tendências da música popular) e, claro, todos os efeitos acústicos (desde o silêncio a um ruído ensurdecedor).

A utilização do som como meio, deu origem às práticas mais originais e diversas imagináveis, formando como um todo, um universo muito heterogéneo de linguagens, espaços e processos sonoros multifacetados: da música fónica à síntese eletrónica, da poesia às invenções técnicas, da arte radiofónica às colagens cinematográficas, das ideias puras aos eventos multimédia, da pintura à performance ou dos encontros íntimos às composições espaciais.

Cosmologia da arte sonora Artes & contextos descubrir disonata 1

Vista de uma das salas da exposição Disonata. Arte en sonido hasta 1980.

Sob estes parâmetros, o Museu Rainha Sofia organizou a Disonata. Arte no Som até 1980, uma exposição que reúne quase duzentas gravações, pinturas, instrumentos, esculturas, partituras, modelos, manifestos, fotografias e filmes que foram desenvolvidos entre as primeiras experiências – feitas à luz das revoluções tecnológicas e ideológicas de, entre outros, futuristas, surrealistas e artistas do movimento Dada – e as cenas pós-punk de meados da década de 1980.

Uma vasta gama de projetos extremamente variados é implantada entre os dois pólos. O excecional Pavilhão Philips de 1958, por exemplo, com o seu espetáculo espacial multimédia, destaca-se, tal como uma grande variedade de peças com ligações mais ou menos explícitas a grupos e movimentos tais como lirismo, poesia sonora e visual, art brut, CoBrA, arte cinética, novo realismo, Fluxus, Zaj, arte conceptual ou Pop Art.

Cosmologia da arte sonora Artes & contextos descubrir disonata 3

À esquerda, Karel Appel em Phonogram Studio, durante o desenvolvimento do projecto Musique barbare, 1963. Fotografía a preto e branco. Nederlands Fotomuseum © Ed van der Elsken. Disonata, Museo Reina Sofía

A exposição convida o visitante a descobrir múltiplas perspectivas com base no conteúdo e na estética das obras no espaço. Os responsáveis pela exposição pretendem iluminar a forma como as principais tendências e temas sonoros do século XX estão relacionados e se sobrepõem, bem como as descontinuidades. É uma exposição que se apresenta como uma verdadeira dissonância, uma composição que reflecte e ao mesmo tempo transforma as formas canónicas dentro da cultura sonora. Liberta os sons para ressoar com toda a sua intensidade e variedade entre nós e o espaço.

Isto não só amplia a nossa compreensão da arte sonora para além do conhecimento padronizado, mas também oferece ao visitante a possibilidade de se ver reflectido neles e perceber que o silêncio, os tons, o som e o ruído estão intimamente ligados ao nosso mundo de ideias. Em suma, é uma forma de descobrir que somos capazes de interpretar esse mundo pelos nossos ouvidos, talvez até mais do que pelos nossos olhos. É por isso que as experiências sonoras que têm sido feitas desde o início do século passado são ainda hoje tão vibrantes e fascinantes como sempre.

Arte sonora

Musical Economy nº 5, por Robert Filliou, ca.1971, técnica mista. Musée d´Art Moderne et Contemporain de Saint-Etienne Métropole @ Marianne Filliou. Disonata, Museo Reina Sofía

De 23 de setembro de 2020 a 1 de março de 2021

Este artigo foi traduzido do original em inglês por Rui Freitas

O artigo original foi publicado em @Descubrir el Arte
The original article appeared first @Descubrir el Arte

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Jaime Roriz Advogados Artes & contextos