Ella Fitzgerald imita Louis Armstrong

Ella Fitzgerald mostrou que o tinha em adolescente, quando subiu ao palco do Apollo Theater de Harlem, em noite de amadores, tencionando fazer uma coreografia de sapateado
Ella só atuou porque foi desafiada. Não tinha qualquer formação sem ser cantar na igreja, no seu quarto e nas ruas de Harlem. Além disso, só quis cantar nessa noite porque a pessoa que tinha atuado antes fez sapateado, roubando-lhe as atenções.
Ella surpreendeu o público―um público difícil de Nova Iorque, que não perdoa― e até deixou os jovens raivosos da bancada sem palavras. “Passados três bis,” escreveu, “o prémio de 25$ era meu”. A voz de ouro e de três oitavas de Fitzgerald, o seu timing impecável e a capacidade de improviso não são coisas que se ensinam.

Ella não era a típica cantora de jazz, pelo menos segundo a perceção popular, escreve Holly Gleason na NPR. “Uma mulher grande com uma infância difícil”, incluindo o tempo que passou num reformatório de Nova Iorque, foi rejeitada por líderes de bandas, mesmo depois da sua primeira atuação surpreendente, e a imprensa criticava frequentemente a sua aparência. “Fitzgerald sabia que não tinha o Encanto de Billie Holiday” escreve Holly Gleason, “a sensualidade feroz de Eartha Kitt, nem o sex appeal de Carmen McRae. Mas isso não parou a mulher que tirou as suas referências vocais do som de instrumentos de sopro e da sua cantora preferida de jazz, Connee Boswell”.
Isso não a impediu de ganhar um Grammy no primeiro ano dos Grammy, nem de ter uma editora discográfica, a Verve, fundada apenas para lançar a sua música. O alcance de Ella e o seu ouvido perfeito permitiram-lhe não só imitar instrumentos de sopro e a sua cantora preferida, Boswell, mas também muitos outros, desde a cantora de jazz Rose Murphy, com a sua voz aguda de desenho animado, as afetações “chee chee” e o “brrrp” do telefone, até à voz característica do seu companheiro de duetos, Louis Armstrong. Pode vê-la a imitá-lo no vídeo acima, na música “I Can’t Give You Anything But Love, Baby”, que canta enquanto muda da sua voz, para a de Murphy e para a de Armstrong, sem qualquer esforço e em minutos.

Independentemente dos desafios que Ella Fitzgerald enfrentava, a sua voz ultrapassou-os. Ao tornar-se uma estrela global de jazz e “The First Lady of Song”, diz o escritor de jazz Will Friedwald, “ela mostrou às pessoas que esta é a música de que os americanos deviam ter orgulho”.
Este artigo foi traduzido do original em inglês por Joana Rosa
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O artigo original foi publicado em @Open Culture
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