O ELIXIR DE AMOR
Ópera em 2 Atos, do Compositor Gaetano Donizetti (1797-1848), com livreto de Romani.
O Compositor italiano, teve a oposição do seu pai, quando quis encetar uma carreira musical, pelo que se viu obrigado a alistar-se no exército Austríaco, não obstante ainda lhe sobrou tempo, para continuar a compor muitas
óperas.
O seu primeiro êxito foi Enrico di Borgonha em 1818, com 21 anos de idade, seguindo-se Zaraide di Granata (1822), contudo atualmente não são conhecidas. Daqui e até 1830, vem a compor cerca de 30 óperas, todas saídas da sua caneta, sendo neste seu 1º período, impulsionado, pelo exemplo do grande compositor do Bel canto Bellini.
Entretanto concentrou os seus esforços, no sucesso em Ana Bolena, coadjuvado por os cantores famosos da época, tais como o soprano Pasta e o tenor Giovanni Rubini e, sobretudo pelo livreto de Romani, foi considerada uma das suas obras-primas, vindo a ser cantada por toda a europa.
Seguiram-se Elixir de Amor (L’elisir d’amore), uma ópera bufa, ou comédia ligeira e depois Lucrecia Borgia, esta retirada, na época porque o escritor Victor Hugo, alegou que o livreto era baseado na sua obra, do mesmo nome.
Prosseguindo com Lucia di Lammermoor, que foi cantada pelas divas Dame Joane Sutherland e Maria Callas, com enormes êxitos, em todo o mundo obra que veio a ser premiada numa competição com a Norma de Bellini (também das mais famosas).
Residindo em Paris, compôs La Fille du Régiment, ópera cómica cantada em língua e ao gosto francês, bem como La Favorite, ópera cantada por um Tenor lírico e uma meio-soprano. Continuando com Don Pasquale, considerada por muitos especialistas, como a sua melhor, também compôs uma ópera baseada no rei português, Don Sebastiano.
Já em Viena de Áustria, criou Linda di Chamonix (refiro que já foi cantada no São Carlos, com o soprano Gianna D’Ângelo) e Maria di Rohan, algumas vezes levada à cena, inclusive pela também famosa soprano Renata Scotto, que a cantou no São Carlos.
Ao todo Donizetti criou 75 óperas, para o palco cénico. Existe na sua terra natal, Bergamo um Conservatório de música, com o seu nome.
Passemos agora ao Elixir de Amor, levada à cena este mês no Teatro de São Carlos de Lisboa. Baseada num livreto de Scribe, a ação é localizada numa aldeia onde um camponês de nome Nemorino (cantado pelo tenor cordovês António Garés) se aproxima timidamente de Adina (soprano Rita Marques). Recordamos que o papel de Nemorino, foi interpretado pelos maiores cantores do seculo XX, tais como B.Gigli, Tagliavini, Alfredo Krauss, especialmente este tenor espanhol que durante décadas cantou entre nós, com os maiores sucessos, deixando-nos inolvidáveis recordações, desde que em 1958, contracenou com a maior diva do século XX Maria Callas, no São Carlos.
Nemorino tem fé num elixir que possa despertar a sua paixão por Adina. Aparece o charlatão Dulcamara (baixo Ricardo Seguel, (a melhor voz) que surge, a propagandear um remédio milagroso, mas ainda assim, Adina toma a resolução de casar com um rival, o Sargento Belcore (barítono Ricardo Panela).
O tenor canta então uma das mais belas e apreciadas arias: Una Furtiva Lágrima.
Passemos ao 2º Ato: Aparece Nemorino a queixar-se a Dulcamara do seu insucesso amoroso, pelo que este o aconselha a beber outra garrafa de elixir, que ao fim e ao cabo é disfarçadamente, vinho de Bordéus, pago com o alistamento do camponês no exército.
Em breve surgem notícias que o tio de Nemorino, acabou de morrer, tornando-o este um herdeiro rico e agora mais apetecível, pelas raparigas da aldeia. Muito entristecida Adina, é agora prontamente consolada por Nemorino.
A ópera termina com um final de apoteose, com Dulcamara a proclamar triunfalmente, o afortunado êxito do seu elixir.
A orquestra sinfónica do teatro, foi dirigida pelo maestro residente António Pirolli, que imprimiu um ritmo e boa articulação com o elenco.

A encenação e cenografia foi do tenor Mário João Alves, que utilizou os escassos meios, possíveis usando o ciclorama e atravessando o palco com duas enormes escadas brancas, dando-nos a sugestão de um campo, em que abundam laranjas, em cestos, içados por cordas, diversas vezes, vindos de cima da teia.
Quanto à estreia de Rita Marques, num papel principal de soprano coloratura, dando o melhor de si, mas apesar da sua pouca experiência em pisar um palco, mostrou agilidade e desenvoltura, mas gostaríamos de mais emoção interior. O tenor lírico ligeiro, tem boa articulação, mas este papel exige, uma voz mais doce e redonda, carregada de sentimentos, no entanto é ainda muito jovem, ficamos na expectativa de progressos.
Volto a dar como exemplo e saudades do tenor Alfredo Krauss, que durante décadas nos encantou.
Sobre o barítono, igualmente jovem, notámos que necessita de apurar a sua técnica vocal, especialmente nos agudos e na musicalidade. O baixo Dulcamara, com voz brilhante, bem empostada e belos agudos.
Num final feérico, surpreendente e um palco pleno de todos os cantores e artistas do coro (reduzido), festejando com luzes e balões e panfletos, incluindo na plateia, com muitos aplausos do publico, e um happy end.
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Melómano e cinéfilo inveterado com décadas a ver e ouvir o que de melhor foi e é Produzido e Realizado no Cinema, Teatro e Canto Lírico.