
OperaFest22 Lisboa – Noite Americana0 (0)
2 de Setembro, 2022
OperaFest22
Labirinto e Uma Partida de Bridge
Prosseguindo o OperaFest22 – Lisboa, e após o grande sucesso de Um Baile de Máscaras (do qual falamos aqui), que nas cinco récitas encheu de espectadores o jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, segui-se a Noite Americana, um espetáculo com duas obras de compositores raramente cantadas entre nós: Labirinto (Labyrinth) do compositor Gian Carlo Menotti (1911-2007), seguida de uma mini-opera do seu amigo Samuel Barber (1910-1981), com o título de Uma Partida de Bridge (A Hand of Bridge), ambas cantadas em inglês com legendas em português.
Menotti, americano de ascendência italiana, partiu muito jovem para os EUA, onde faleceu com 95 anos. Além de compor música, foi libretista, dramaturgo e criou também para a televisão. Desde muito cedo revelou enorme talento, compondo dezenas de óperas entre elas, Amélia Goes to Ball , na qual a sua fértil inventividade, algo ligeira, mas servindo o plot chamado buffo (cómico) moderno. Neste género revelou uma veia inspiradora e diversificada, em que realmente se distinguiu no mundo lírico, como na sua ópera The Telephone (1947), embora já antes ter evidenciado o desejo de desenvolver uma linha dramática em The Old Maid and The Thief (1939) e mais ainda em The Island Good (1946).

Labirinto – OperaFest22 Lisboa
No ano seguinte surgiu uma obra musical, que obteve grande sucesso na Broadway, The Medium, um thriller (suspense), imbuída com um toque popular, guinando-o ao estrelato. Recordamos que ela foi cantada no ano passado, na Operfest21, com uma encenação surrealista e subtilmente interpretada, ocasionando grande curiosidade e anseio em conhecer mais criações de Menotti.
Seguidamente ele viria a compor diversas obras, destacando-se a ópera The Consul onde veio demonstrar o seu poder criativo e de sincero realismo no trama dramático. Este compositor fundou no ano de 1958 o festival “Dois Mundos” que persiste até agora em Spoleto, Itália, tendo-se estendido para os EUA em 1977, repetindo-o em Charlston na Carolina Sul, numa inequívoca intensão para fomentar e atrair público para a ópera. Compôs igualmente Goya dedicada ao tenor Plácido Domingo, bem como uma canção para a lendária cantora Elizabeth Schwarzkopf (de quem assistimos a três recitais), seguindo-se uma segunda versão de Amahal and the Night Visitors para o cinema.
A influencia de Puccini e do verismo é bem sentida, na música de Menotti.

Labirinto – OperaFest22 Lisboa
Labirinto (1963) agora cantada no Museu Nacional de Arte Antiga, que é considerada pelo autor, com uma moralidade à sec. XX, aqui encenada por Bruno Bravo, que se estreia no teatro lírico, em boa hora, dando-nos uma versão vibrante e swingada , da história de um casal que perdeu a chave do quarto do hotel, num simbolismo labiríntico das vidas e do seu destino. A iluminação jogando com as deslocações da ação, contribuiu para o misterioso desenrolar da ação e, salientar o dramatismo e desempenho teatral dos atores-cantores.
O Barítono Tiago Amado Gomes, a mezo Ana Ferro e o tenor Alberto Sousa, incumbiram-se dos papeis em inglês e muito bem, não obstante estarem mais habituados a cantar em italiano. O soprano coloratura Cecília Rodrigues, dotada de um belo timbre de voz aveludado e afinação, já denotados antes em The Medium , que nos tinha encantado igualmente, aqui teve uma inequívoca interpretação, com a sua elegante cor de voz e flexibilidade, trazendo mais brilhantismo ao espetáculo. Auguramos-lhe sucessos futuros e uma brilhante carreira.

Uma Partida de Bridge – OperaFest22 Lisboa
O Maestro Tiago Oliveira, que dispunha da economia dos instrumentistas disponíveis, deu ênfase ao ritmo musical.
A segunda ópera do compositor americano Samuel Barber, Uma Partida de Bridge , também em inglês, cantada pelos mesmos intérpretes, com alguns laivos surrealistas e evidentes sentimentos ocultos e dos desejos expressos das personagens, foi igualmente bem encenada e interpretada. Barber é conhecido pela sua obra orquestral: Adágio for Strings.
Salientamos que todos os cantores e executantes, deste espetáculo, são portugueses, tendo demonstrado os seus dotes e empenhamento artístico, tanto como cantores líricos como teatrais.
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Melómano e cinéfilo inveterado com décadas a ver e ouvir o que de melhor foi e é Produzido e Realizado no Cinema, Teatro e Canto Lírico.