Open Gardens
Resguardadas pelo jardim no pátio interior do belo edifício do Centro Ismaili de Lisboa encontramos numa sala branca, limpa de ruídos sonoros e visuais, 18 obras de Nogueira de Barros numa exposição a que deu o título Open Gardens, inspirado nos “Jardins Abertos”, realizados anualmente por esta instituição.
Todos os quadros desta exposição podem ser associados de uma forma ou de outra ao jardim, à Natureza, à terra e à Terra e compõem no seu todo, um jardim naquele espaço branco, ascético e puro.
São trabalhos de grande impacto visual, num conjunto que não obedece a um tipo nem tem identificável uma onda única, uma hegemonia criativa movida por alguma motivação estética hermética, atribuíveis a uma fase. Todas nos levam ao jardim de Nogueira de Barros, mas as diferentes perspetivas divergem o bastante para serem únicas.
Há sim, um ou outro grupo de duas ou três obras em que se adivinha uma comunhão estética mais forte, mas não deixam de ser partes de um todo heterogéneo comprometido pela harmonia das singularidades. São cenários distintos da mesma narrativa, que nos levam a momentos diferentes.
Nogueira de Barros utiliza vernizes e rezinas que são tratadas pela sabedoria do tempo. Não acelera a secagem em fornos ou por qualquer outro método, deixando antes, que os materiais sequem ao seu próprio ritmo. Isto pode levar a que um trabalho demore semanas ou meses a ser concluído.
O seu “material” por excelência é a cor. A escolha das cores, seja por opção estética ou porque sim, porque aquele momento foi assim, é vigorosa, muitas vezes recorrendo a relações de complementaridade, sempre apelando ao olhar. Um apelo que nos compromete, obra a obra e no conjunto.
Com o uso das rezinas sobre as tintas e/ou misturadas com elas, dispondo-as em camadas realçadas pelo brilho vidrado e pela transparência, cria em algumas obras um volume e tridimensionalidade ótica e quase tátil.
Alguns dos quadros ora nos empurram para um afastamento que permita uma apreensão do grande plano, ora nos puxam para uma aproximação até entrarmos pela obra adentro ao encontro dos detalhes e dos recantos mais ocultos do jardim.
Para lá da riqueza de códigos e sinais descobertos a cada observação, a exposição no seu todo é bela e a beleza, embora outros valores frequentemente se sobreponham e possam até dispensá-la, nunca será descartável da obra de arte.
Não me deixo tentar pela armadilha das classificações compulsivas e e das etiquetas por corrente ou subcorrente, dos néo- e dos pós-, que pretendem a mais das vezes, resumir a um termo arbitrário e sem o senso do tempo que a obra reclama, a observação séria, anulando a individualidade e a diversidade da obra e do artista.
Porque esta obra é Nogueira de Barros e sim, porque é em cada quadro e no seu conjunto, abstrato, surrealista, gestualista, fauvista, expressionista, orfista, figurativo, impressionista, e tudo o cabe em cada artista e que cabe neste em particular. (Nota: Não consegui vislumbrar traços bizantinos, góticos nem pré-rafaelitas).
Em cada obra há um jardim ou parte dele, o jardim de Nogueira de Barros, e uma homenagem à Arte.
Website e Instagram de Nogueira de Barros
Veja AQUI quem é Nogueira de Barros
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Open Gardens no Centro Ismaili, em Lisboa, até 10 de junho.
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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.