Tatiana Saavedra
Foto em destaque Blue birds Acto – I
A Tatiana Saavedra licenciou-se em Cinema na Universidade Lusófona, mas confessa que, embora apaixonada pelo cinema, é na fotografia que encontra o seu elemento.
Ainda assim, o mapa da sua vida evidencia diversos marcos de um rico percurso como cineasta, escritora e realizadora e foi nesta pele que venceu a competição europeia “Cinema and Industry Alliance for Knowledge” nas categorias ‘Best Project’ e ‘Business Plan’.
Estreou no DocLisboa em 2017 o filme O Descanso na Intensidade das Cores, sendo este apenas um dos muitos festivais nacionais e internacionais de cinema em que tem marcado presença.
Filmou e editou uma série de documentários de 14 episódios sobre cantoras portuguesas para a rede brasileira Globo; recebeu uma Menção Honrosa no Prémio Zon com a curta-metragem White Board escrito e dirigido por ela e em 2020 escreveu e realizou para a RTP, a série em cinco episódios Olá, como te sentes? Escreveu e realizou A Lucidez do Absurdo e O Descanso na intensidade das cores. Realizou as animações: Coronavírus, o Viajante indesejável, Noite de Tempestade, O Rei perdido, O Barqueiro Cigano e A Lenda do Violino Cigano.
Profissionalmente colaborou três anos com TAP Air Portugal, onde esteve envolvida na direção de comunicação, na área de realização e fotografia.
Como fotógrafa tem tido destaque em revistas nacionais e internacionais como o Público, Revista RUA, Dodho Magazine, Our Culture Mag, Fisheye Magazine 2020, Cherry Deck, e muitas outras.
Com a fotografia para o cartaz do filme Ouro sobre Azul, venceu em 2019, o primeiro prémio dos Prémios Sophia.
Acabou de chegar de Paris onde participou na prestigiada exposição ImageNation.
Por tudo isto e pelo mais que viria a descobrir, convidei a Tatiana para uma conversa e foi no simpático Botequim, na Graça, que ela escolheu como palco, que mantivemos uma conversa agradável e descontraída, em que falamos sobre tudo um pouco.
A Tatiana é acima de tudo o mais, uma ótima comunicadora e uma pessoa interessantíssima, uma pessoa serena que acredita que a dialogar, mais do que de qualquer outra forma, se conseguem ultrapassar barreiras; tem uma alma nostálgica; é ativista da paz e do entendimento e acredita no pensamentio positivo. Atenta aos movimenos do Cosmos, sabe o que quer, mas não para de procurar e a procura fá-la nas pessoas, no mundo lá fora e muito no seu eu interior, que não se cansa de desafiar, e que não para de provocar até ao limite.
Artes & contextos – O que é a ImageNation?
Tatiana Saavedra – É uma exposição internacional de fotógrafos contemporâneos. Acontece anualmente em Paris, Milão e Los Angeles.
A&c – Com quantos trabalhos participaste.
T.S. – Com um. Todos os artistas apresentam um único trabalho.
A&c – E que tal foi a experiência?
T.S. – Adorei a exposição. Eu sou suspeita, mas acho sinceramente que se tivesse ido a esta exposição sem o meu trabalho lá, teria gostado da mesma forma. Já conhecia a maioria dos artista e sou fã da sua obra. Ser colega deles na exposição em vez de fã é estranho.
A&c – Tens mais alguma coisa semelhante no horizonte?
T.S. – Tenho uma coleção de fotografias que ainda não saíram para o mundo e que adoraria expor em Portugal ou em Macau, que são os lugares que mais amor nutro. Se alguém que esteja a ler esta entrevista me quiser fazer uma proposta ou tornar este sonho real eu ficaria muito feliz.
A&c – Ser cineasta ou fotógrafo em Portugal é muito complicado?
T.S. – É e realmente em Portugal só te valorizam quando lá fora te veem, precisas sempre da aprovação dos outros. Até lá vão-te desprezar, e sim, é mesmo real. Uma coisa triste com que me deparei, foi o facto de só ter começado a haver “sims” de revistas, etc., quando começaram a perceber que já saiu lá fora… isso aconteceu muito e deixa-me muito triste, isto é muito pequenino.
A&c – Alguma vez ponderaste sair de Portugal para trabalhar?
T.S. – Já e já saí, inclusive morei na China com esse propósito, mas Portugal ao fim de uns tempos começa a chamar-me como um íman. Quando era mais nova vivi fora de Portugal muitos anos fui habituada a saber o que é ter um pé aqui e outro no outro lado do mundo. Cresci sempre com saudades de estar com os familiares, sentir-lhes o cheiro, o carinho e o sabor doce dos seus abraços. Acho que me tornou uma pessoa nostálgica passar por essas emoções e sentimentos. Assim que fazia amigos tinha de mudar para outro sítio, e eram adaptações atrás de adaptações. Então hoje em dia valorizo muito estar no meu País, é a minha casa, onde me sinto completa, não gosto da sensação de estar dividida e de parecer que nunca estou plena. Por esse motivo aprendi a dar muito valor a Portugal e a querer fazer a vida cá. Mesmo sendo mais difícil.
Como muitos outros artistas em Portugal, percebeu que apenas começou a ser “vista” no meio, após exposição internacional, o que confessa a entristece bastante.
A&c – Quando é que pela primeira vez, na tua infância ou na tua adolescência, encaraste que querias ser fotógrafa?
T.S. – Eu sempre quis seguir cinema, mas a minha mãe era contra eu seguir artes. Por outro lado, eu sempre tive boas notas a línguas e também como vivi na Alemanha ela aconselhou-me a ir para línguas. Eu fui, mas uma vez ia no metro e encontrei um rapaz que não via há seculos e quando lhe perguntei como é que estava, ele respondeu-me que estava a fazer cinema. Ele estava com um brilho nos olhos que quando cheguei a casa disse: “acabou, vou para cinema, não aguento nem mais um dia disto”. Eu até estava a ter boas notas e com uma média muito boa, mas decidi ir ter com o meu pai, que está nos Estados Unidos, aprender os programas de edição etc. Falei com ele, ele comprou-me o bilhete, abandonei o curso da Nova a meio e fui. A minha mãe ficou um bocadinho chocada, mas no ano a seguir regressei e comecei o curso na Lusófona.
A Tatiana começou em criança e com influência direta e indireta dos pais, a exprimir a sua criatividade artística. Indireta, porque ambos estavam na área da fotografia, direta, porque desde muito cedo começaram a dar-lhe máquinas fotográficas e de filmar, que rapidamente se tornaram os seu brinquedos favoritos. A Tatiana conta que já em criança, na escola, convocava três ou quatro amiguinhos aos quais distribuis papeis e realizava pequenos filmes que depois exibia em casa, para os pais dessas personagens.
A&c – Porque não ficaste nos EUA quando foste aprender e trabalhar com o teu pai?
T.S. – Pelos motivos que já referi. Além disso nunca escolhi os caminhos mais “fáceis”. Escolho sempre o que me faz sentir coerente com o que sinto e sou.
A&c – É sexista o mundo do cinema e da fotografia?
T.S. – É. Eu cheguei a ir a uma entrevista em que me disseram “gostamos muito do teu trabalho, mas não vamos ficar contigo porque o trabalho exige andar na lama e achamos incorreto pormos uma mulher a faze-lo”.
A&c – Portanto alguém decide por ti, o que é bom para ti…
T.S. – É, e outra coisa que há muito é o mansplaining que é um termo inglês que neste caso, explica que os homens – generalizando, claro – na área do cinema, partem do princípio de que as mulheres apenas são criativas e não percebem nada da parte técnica. Ainda no cinema, eles não queriam que a mulher carregasse material pesado que pudesse cansá-la ou seja havia uma superproteção sufocante que eu não gostava nada. Como fotógrafa não tenho de lidar com nada disso por ser um processo mais individual, sinto que não estou exposta a esta “benevolência” masculina.
A&c – Noto, no entanto, que embora isso te entristeça, não te abate, não abala o teu otimismo ou o teu positivismo.
T.S. – Sim e muitas vezes é importante confrontar essas pessoas, porque elas se calhar nem se apercebem que estão a ser sexistas, quase diria que a maioria das vezes não é consciente, é algo que está enraizado nas dinâmicas primordiais quer do cinema quer da sociedade.
A&c – Acredito nos sinais de que as coisas estão a mudar.
T.S. – Eu tento ser uma pessoa ponte. Alguém que consegue ouvir pontos de vista diferentes e que ainda que não concorde tente explicar o porquê de forma limpa e tranquila sem que o outro se sinta ameaçado com a sua verdade. Nem sempre é fácil, mas no fundo o que importa é encontrar soluções comuns para um problema. Encontrarmo-nos a meio caminho.
A&c – Imagino que seja desgastante partir para um projeto com essa consciência, com a consciência de que vais enfrentar isso mais uma vez, que vais ter que te manifestar contra uma realidade que é difícil combater.
T.S. – Sim, mas o artista é também ele um ativista. Gosto de o ver e de viver assim.
Considera-se workaólica, quando está em casa em tempos livres, ocupa-os a trabalhar, o que na sua própria perspetiva nem sequer é muito trabalho per se já que tudo o que faz, fá-lo por prazer e com gosto e confessa que ao contrário do cliché, só cria quando se sente bem, quando está em baixo apetece-lhe hibernar.
A&c – Achas que é obrigação de uma artista partilhar a sua obra?
T.S. – Não. Depende da intenção do artista. Há artistas que usam a arte como se fosse uma extensão delas, como se fosse um diário, por exemplo. A palavra obrigação pode ser sufocante no mundo criativo.
Dá aulas de fotografia no IPCI, a convite de António Pedrosa o que se revelou uma surpresa acerca de si própria, uma vez que, sendo tímida e não gostando de falar para uma plateia, percebeu que afinal adora falar para os seus alunos.
A&c – Recebeste o premio europeu: “Cinema and Industry Alliance for Knowledge”, nas categorias “Best Projec” e “Business Plan”. O que é aqui premiado, concretamente?
T.S. – É uma coisa que eu acho que falta a muitos artista, que é ver a sua ideia também como um negócio. Se tu conseguires as duas coisas, ficas com o melhor de dois mundos e isso tem um potencial grande. Ou seja, “eu quero ser fotógrafa, mas como é que isso se faz?” é preciso pensar também de uma forma racional para tornar a arte negócio e eu acho que a maioria dos artistas tem muito preconceito em fazer dinheiro com a sua arte. Esse prémio significa que me viram com potencial e que vale a pena investir.
Com a diversificação do seu trabalho tanto amador como profissional, foi construindo um portefólio que tornou o seu trabalho apetecível, também porque trabalhou sempre em várias áreas em simultâneo, não deixando passar oportunidades de produzir e mostrar o seu trabalho, mas confessa que os melhores trabalhos que fez ou os que gostou mais de fazer, não foram pagos.
A&c – As tuas obras são muito intimistas, no sentido te expor muito. Isso não te causa algum pudor de sobre-exposiçãoo?
T.S. – Não, a minha mãe também vê nisso uma questão, ou um problema, a exposição pública.
A&c – Acho que não entendeste a minha pergunta, eu não me refiro ao aspeto físico, mas à forma como pões o teu eu nas fotos. As tuas fotos, são muito pessoais e emotivas e há muito a ler para lá da perceção da imagem; adivinham-se histórias e momentos que não são ocasionais nem arbitrários. Não receias estares a abrir-te demais ao mundo?
T.S. – Não tinha entendido nessa perspetiva, mas não, não me preocupa. Por exemplo quando estudei cinema e eu fiz o meu primeiro filme (A Lucidez do Absurdo) fiz questão que fosse autobiográfico porque eu quis mesmo que as pessoas tivessem acesso à minha intimidade e vulnerabilidade, por mais difícil que isso pudesse ser, porque eu não conseguiria explorar a intimidade e a vulnerabilidade dos outros, não fazendo isso comigo própria, porque eu seria batota. É uma questão de honestidade. Foi um ponto de partida muito importante que combinei comigo: “tu vais falar dos outros começa a falar de ti, vais expor os outros, tens de te expor a ti”.
A&c – A tua força expressão mais importante é o corpo humano, mas olhando para algumas delas, nomeadamente Os Girassóis de Van Gogh, (in Silk Poems) O Caminho (in Liquid Poems) ou Dentro do labirinto (in Silk Poems), o nu, nem sequer reclama protagonismo, é mais um elemento da mise en scène, por outo lado há outras em que sim, como o Heart hotel (in Silk Poems), por exemplo. O que é que separa estas duas realidades?
T.S. – O que separa é a pessoa que está a ser fotografada. São sempre diferentes e eu quero reter alguma verdade se estou a retratar parte íntima da pessoa, não só o corpo, mas a parte interior, sendo que isso é uma extensão, não gosto de ver o corpo como um objeto e quando há pessoas que se sentem desconfortáveis, porque é uma coisa nova que estão a experimentar, – em geral essas pessoas nunca tiveram uma sessão fotográfica nuas, é um primeiro contacto com esta experiência – e há pessoas que se sentem muito à vontade e há outras que se sentem desconfortáveis, eu não faço um grande esforço para que esse sentimento desapareça.
A&c – O todo da imagem reflete também o próprio modelo…
T.S. – Sim. Eu estou a fotografar e sou sensível ao que a pessoa me transmite a forma como elas se sentem com a nudez. E se a pessoa se sente desconfortável, isso para mim também é material, ou seja, é um sentimento como outro qualquer. Quando o nu não é protagonista, será porque a pessoa está muito desconfortável e ao sentir isso eu respeito-o porque às vezes eu recebo essa energia e esse desconforto também é desconfortável para mim. Eu só quero que as pessoas se sintam seguras, mas eu não posso fazer nada em relação a esse desconforto, tenho de respeitar e posso usar ou não esse sentimento que quase sempre é passageiro, eles no fim sentem-se muito bem e adoraram a experiência. Outras vezes ponho-as numa posição ainda mais desconfortável até elas se esquecerem do que é o desconforto e no fim algumas acabam por achar que a sessão foi terapêutica e até consigo aproveitar isso e esse desconforto acaba por se tornar noutra coisa.
Outras pessoas sentem-se tão confortáveis, estão tão à vontade, estão a adorar ser fotografadas e então o corpo vai tornar-se mais importante do que o que está à volta.
A&c – Há na tua arte um forte diálogo interartes, que tu própria denuncias com a ligação à poesia, e eu acho que a tua série Liquid Poems é muito dialogante com a pintura. É toda ela muito impressionista, por exemplo a foto Monet e Ofélia, até o tem no nome e parece realmente um quadro de Monet. Nunca sentiste apelo por outras formas de expressão artística como a pintura, música, por exemplo?
T.S. – Como eu venho de cinema, quando vou para uma sessão, levo sempre story boards, tenho uma imagem concreta do que quero fazer com aquela pessoa e levo desenhos que faço com o que quero da sessão, mas adoro os imponderáveis e gosto de jogar os imponderáveis com as coisas que controlo e de fazer a junção. O que é que eu faço com o que não controlo e o que é que faço com o que já está pensado e então é como se tivesse um plano A e um plano B e posso tirar partido dos dois, não preciso de escolher um deles. Não tenho jeito nenhum para desenhar, mas as pessoas percebem o que é importante perceber.
A&c – As tuas fotografias, em geral, têm muita narratividade, e isso de algum modo até está explícito nos nomes das séries que são todas Poemas. Escreves?
T.S. – Sim, mas a maioria das coisas que nascem no meu cérebro são imagens, não são palavras, tenho muita dificuldade em escrever se não tiver uma imagem muito forte na cabeça.
A&c – Conseguirias escrever uma história a partir de qualquer uma das tuas imagens?
T.S. – Sim e às vezes acho necessário escrever algo porque completar ideias que podem não ser muito óbvias e que eu queira que as pessoas percebam. Mas não sinto isso em todas, apenas naquelas em que eu acho que a escrita pode tornar o essencial da foto mais visível.
A&c – Qual é a expressão artística, tirando o óbvio cinema, que achas que mais dialoga com a fotografia ou com a tua fotografia.
T.S. – É a música, sem dúvida. Às vezes quando me falta inspiração para um nome procuro uma música.
Já me confessara que gosta de todo o tipo de música. Considera-se muito eclética em gosto musical, que confessa ser mesmo a arte que mais gosta, tanto que lhe é difícil nomear algo de que não goste. Diz que se um dia tiver a infelicidade de ficar em coma, só quer que lhe coloquem uns auscultadores e a deixem ouvir música. (Gosta muito de Tom Waits, o que, claro, fez soar as minhas campaínhas todas).
A&c – Consegues imaginar uma música para cada fotografia tua?
T.S. – Consigo sim.
A&c – Tens essa associação feita?
T.S. – Sim tenho.
A&c – Dá-me um exemplo.
T.S. – Há uma rapariga na relva (Green Grass, in White Poems) que me lembra a canção Green Grass na versão da Cibelle, talvez por ser uma rapariga, mas o original é do Tom Waits. – (Eu não digo?)
A&c – Então pensando por exemplo no Alice do Tom Waits, qual seria das tuas fotos aquela que “colarias” a esse tema?
T.S. – A foto Patrícia (2017, in Silk Poems)
A&c – E ao contrário, consegues fotografar uma música? ou seja, imaginas ouvir uma música e fazer uma fotografia que diga o mesmo?
T.S. – Sim, mas depende da música, com alguns géneros de música será mais fácil do que com outros. Por exemplo uma música metal seria mais difícil porque a minha fotografia é mais nostálgica, com nuances mais dreamy e se calhar teria que fazer algo mais cru, mais dark, até porque eu tenho alguma dificuldade em lidar com a raiva. Reprimo-a e transformo-a noutra coisa.
Prefere a cor ao monocromático e refere que “como diria Alex Webb “cor é muito sobre atmosfera e emoção e a sensação de um lugar”. Não sente que preto e branco faça parte da sua linguagem visual.
A&c – Na sequência do que disseste, na sua maioria, as tuas imagens são essencialmente serenas, pacíficas, o que tem a ver também, como dizes, com o teu interior, mas na série Sequin Poems eu sinto em muitas delas uma espécie de violência subliminar. Por exemplo, na I can never go home, na Empty streets ou a Fast Car, eu sinto uma aura negativa, algo muito sub-reptício, mas em quase toda a série eu encontro este feeling.
T.S. – Sim, faz sentido porque todas elas foram tiradas no contexto de conversas íntimas. Por exemplo na Fast car, a Gabi, momentos antes, comentava comigo sobre ter sido criada numa casa guineense descrevendo várias lembranças da sua família, o facto de se reunirem todos os dias e comerem sempre juntos, seja a que horas for. E o famoso e adorado por todos “djumbai”. Em conclusão partilhou que sentia que vivia numa saudade constante do que já viveu com os seus familiares, mas também do que nunca viveu nem nunca há de viver. Foi nesse momento que lhe tirei a fotografia.
A&c – Pois, nota-se em algumas, eu queria evitar a palavra dor, porque se calhar é muito forte, mas…
T.S. – Se calhar essa é mesmo a palavra certa. Todos nós todos temos o nosso lado sombra e o nosso lado luz e eu gosto de chegar aos lugares íntimos e reais a que as pessoas me dão acesso. Se calhar uma gargalhada é igualmente importante, mas eu tenho tendência para gostar mais do lado nostálgico associado a alguma “dor de crescimento”.
A&c – Quais são as tuas referências?
T.S. – Tenho uma recente que é Ryan McGinley.
A&c – Gostas daquela fotografia minimalista e surrealista, que é quase o oposto do que tu fazes, tipo Man Ray, por exemplo?
T.S. – Gosto muito.
A&c – Mas é quase o oposto da tua…
T.S. – Porquê?
A&c – Porque as tuas são cheias de humanidade de pessoas por dentro, são narrativas, são emotivas e a maioria das do Man Ray são isentas de humanidade, toda a comunicação é surreal e subjetiva
T.S. – Ele é muito experimentalista, mas eu gosto muito mesmo.
A&c – Como é que fizeste a foto Levitar? (in White Poems)
T.S. – Essa foi das fotos mais loucas que eu fiz. Tenho uma amiga que é bailarina da Olga Roriz e eu disse-lhe “quero pôr-te a voar” e então andamos uma semana a tentar encontrar quem nos emprestasse um trampolim porque alugar era muito caro. Encontramos um trampolim gigantesco, levámo-lo para a praia e de repente tínhamos uma data de gente a ver, como se aquilo fosse uma performance, incluindo os polícias. Estavam umas quarenta pessoas a vê-la a saltar nua no trampolim e eu a fotografá-la e quando vi a polícia a parar pensei “acabou a festa, temos de ir embora”, mas não, afinal eles também só queriam ver. Fiz tantas que tive dificuldade em escolher.
A&c – Como te vês daqui a vinte anos?
T.S. – Gostava de dar aulas na Universidade, de ter uma vida mais estável financeiramente e continuar nas artes. E gosto de me imaginar com saúde e rodeada das pessoas que amo e das que virei a amar. E feliz.
A&c – Para terminar, diz-me, de qualquer área, três nomes, os primeiros que te venham à cabeça.
T.S. – Bergman, Paula Salas, (mãe da Tatiana) e Cat Power
A Tatiana é supersticiosa, acredita na sorte e na intuição, e acredita no poder da mente e do pensamento positivo. “Quando manifestamos coisas boas é mais possível que elas aconteçam.”
E nós… acreditamos na Tatiana.
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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.