Nogueira de Barros
Outrora conhecido por Né Barros, é uma figura de destaque há vários anos, no mundo da arte contemporânea.
Discreto, não muito falador, só começa realmente a soltar-se quando lhe perguntam, em frente a uma obra sua, o que é isto afinal?
Não é um desenho, não é uma figura com “pés e cabeça”, então como se chega aquelas imagens policromáticas, de formas e intensidade tão especiais?
Aí sim, o homem começa a explicar, mas nem todos os segredos, há alguns que ninguém lhe consegue arrancar. Vejamos: presentemente usa acrílicos resinosos, conjuntamente com tintas permanentes e outras misturas criadas por ele. Mas perguntamos nós, meros mortais:
As tintas não são todas permanentes? Elas não saem do sítio e aquela resina, que apesar de escorrer por todos os lados, forma ali umas imagens fixas que se podem repetir ao longo da obra ou não.
Pois bem, se tudo é escorregadio e até um pouco gelatinoso, como é que este artista plástico que trabalha nisto há cerca de 30 anos, consegue mantê-las ali sem se movimentarem até secar?
Pois é, isto ele não conta, enrola, enrola e nada. Não se faz!
O público precisa de ser informado, não concordam? Ou pelo menos, os colegas sempre atrevidos a quererem saber como é que ele consegue.
Tentámos saber mais alguma coisa do homem, não tanto do artista. Nogueira de Barros gosta de se levantar cedo, ver os jornais e redes sociais, fazer as suas publicações e sair com a mulher para uma caminhada. Muitas vezes, é nestes passeios revigorantes que encontra a sua inspiração para voltar a casa e trabalhar, pinta todos os dias e, quando não o faz, normalmente é porque está a testar novas técnicas, novos materiais para ensaiar nas próximas obras.
A música é essencial para ele, e tem mesmo algumas preferidas que estão sempre no “repeat”, pois ouve-as repetidamente quando está a pintar. Talvez uma forma de sentir que ali está em casa, é o seu recanto para trabalhar, onde se perde durante horas deixando que os pincéis sigam os seus traços.
Quisemos também saber, se uma obra corre mal ou não é bem aquilo que queria fazer, como reage, pois bem, ou desmancha tudo e começa de novo ou põe-na na parede e deixa-a ali ficar para, distraidamente, ir olhando para ela. O pior é quando a meio da noite, de repente, descobre o que ali faltava e se levanta da cama para ir para o atelier acabar o trabalho, o que acontece, habitualmente já de manhã, ou continua pelo dia fora. Mas a obra ficou terminada!
Adiante, Nogueira de Barros, começou, como disse, a trabalhar há cerca de 30 anos e, desde pequeno sempre pensou que a pintura, o abstrato, as cores vibrantes e fortes lhe diziam alguma coisa.
Aos 15 anos participou numa exposição coletiva na escola onde já seguia a linha de Nadir Afonso; cores fortes, vivas, que nos aquecem a alma.
Estava a começar a formar-se no seu espírito o que iria ser o seu futuro e não se enganou.
Já participou em mais de 100 exposições, está representado pelos 5 continentes, mas não pára.
Continua a pesquisar, a descobrir novas formas, novos produtos. Afinal quase tudo lhe serve de inspiração, talvez porque ele próprio já olha para as coisas de uma forma diferente. O que para nós passa despercebido, para Nogueira de Barros tem outro significado, ele percebe como determinado pormenor pode resultar numa figura diferente numa obra sua.
O abstrato, desde sempre, é o foco do seu trabalho e só assim consegue expandir a sua imaginação e deixá-la progredir sem limites.
The Sky is the Limit!
O misturar das cores, deixar que elas próprias criem outras e se misturem dando origem a tonalidades, brilhos, ondas, movimentos que nem o mais hábil dos pincéis consegue fazer é para Nogueira de Barros o próprio desafio de cada obra. Quantas vezes, começa um trabalho com uma determinada ideia, paleta de cores escolhida, e, provavelmente, até um esboço do que quer criar e o movimento das tintas o leva exatamente para outro lado, se bem que tenta manter sempre o controle da matéria plástica. Temos de concordar que isto é desafiante e é destes que Nogueira de Barros mais gosta. Dos que o desafiam e lhe dão “dores de cabeça”.
Também pela natureza se deixa seduzir e interpreta-a à sua maneira, de uma forma especial, com um outro olhar. No entanto, o abstrato aqui ganha, é o que lhe vai na alma.
Tem os seus ídolos como Caravaggio, Der Kuss (O Beijo) de Gustav Klimt, também Pollock “mexe” com ele ou Anselm Kiefer, entre outros. Grandes nomes da pintura contemporânea, a quem é impossível ficar indiferente.
Sempre que uma obra se vende, e felizmente, isso acontece frequentemente, é quase como se um filho saísse de casa, fica aquele sabor agridoce de missão cumprida mas ao mesmo tempo, pensa: eu gostava e gosto tanto daquela obra, no entanto, os seus clientes ficam felizes e é isso que, no fundo, todo o artista deseja, agradar ao cliente, sentir aquele prazer que a sua obra proporciona ao cliente, que normalmente fica um amigo, e perceber que o que ele próprio sentiu ao criar aquela obra, conseguiu transmiti-lo ao cliente e ver isso nos seus olhos quando a leva para casa.
Isto não tem preço, é emoção pura!
Nogueira de Barros recorda ainda um facto engraçado, mas muito significativo, que aconteceu, há uns anos, numa exposição em que uma senhora de bastante idade, depois de ver toda a sua exposição, apenas lhe disse “Que Deus abençoe as suas mãos”.
Poderíamos continuar a enumerar as diversas facetas do trabalho de Nogueira de Barros, mas para isso, precisávamos de vários outros dias.
Basta-nos ficar com a imagem de algumas das suas obras que “mexem” connosco a cada movimento que fazemos. Sim, é verdade, o que vê hoje numa obra de Nogueira de Barros, pode amanhã, parecer-lhe completamente diferente, dependendo da luz, da hora do dia, da sua própria posição em relação à obra em si.
Experimente e verá.
Nogueira de Barros vai, seguramente, continuar a presentear-nos com o seu trabalho sempre diferente, mas que, também sempre, nos vai fazer vibrar com as suas cores, brilhos, intensidades, e sobretudo VIDA!
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De olhar sempre atento, perscrutando o belo à minha volta, observo e absorvo para, divagando pela palavra, revelar e ajudar a trazer à luz o que vou encontrando pelo caminho