
Lakecia Benjamin: O Nosso Trabalho É Curar E Espalhar A Alegria Por Todo O Planeta.0 (0)
19 de Março, 2021
Lakecia Benjamin
Uma altoísta (sax alto) em rápida ascensão, conversa com Thomas Rees sobre o poder de cura da música e a história por detrás de Pursuance, o seu tributo intergeracional repleto de estrelas às potências gémeas do jazz espiritual, Alice e John Coltrane

Lakecia Benjamin (foto: Elizabeth Leitzell)
No Verão de 2019, Lakecia Benjamin realizou um concerto de homenagem a John Coltrane no Jazz no Lincoln Centre em Manhattan. Como sempre adorou a música de Alice Coltrane, surgiu-lhe a ideia de um novo projeto, celebrando os dois músicos em simultâneo. Á partida seria mais um concerto, depois um álbum, talvez com um ou dois convidados.
“Mas tudo começou a crescer em espiral”, diz Benjamin. Começou por ligar ao amigo e mentor, o baixista Reggie Workman, e em poucas semanas tinha reunido uma formação fantástica de músicos de todas as gerações. Ela nem acreditava em todos os ‘yeses’ que ia recebendo: Ron Carter, Dee Dee Bridgewater, Gary Bartz e Meshell Ndegeocello, para citar apenas alguns.

“Regina Carter!” diz Benjamin, com uma gargalhada de descrença. “Estudei os seus solos todos os dias quando era criança”. Ainda mais milagrosamente, todos estavam disponíveis para gravar nos mesmos dois dias de agosto, mesmo a meio da época de digressão.
“Foi uma das experiências mais espantosas que já tive em toda a minha vida”, diz Benjamin, recordando as sessões de Pursuance: The Coltranes, como o álbum veio a ser conhecido. “Na altura, não tinha empresário, por isso era como uma enorme festa de jazz no estúdio. Não havia empresários para nos manter na linha”!

Lakecia Benjamin (foto: Elizabeth Leitzell)
Juntos gravaram os arranjos de Benjamin de 13 músicas de Coltrane (sete de John, seis de Alice) que a arrebataram da primeira vez que as ouviu. Tentou ser fiel aos originais, mas também dar-lhes um toque de contemporaneidade, inspirando-se no seu amor pelo funk, hip hop e R&B.
“Cada canção é tão lendária”, diz ela. “Não é possível superá-las, então o que poderia fazer para as exprimir de uma forma diferente”?

Em parte, foi por isso que ela quis apresentar uma mistura de gerações em Pursuance. Benjamin defende a capacidade dos seus colegas (entre eles o trompetista Keyon Harrold e a harpista Brandee Younger) de tocar em qualquer estilo. Mas ela também queria uma conexão com a história da música e prestar homenagem às gerações anteriores, que é onde Ron Carter e Reggie Workman entram.
Ela chama a Workman o seu ‘padrinho’. Ele estava no painel de audição para The New School e fuicaram amigos desde então. “Eu precisava de alguém para manter a integridade da música”, explica Benjamin. “Eu queria alguém que realmente estivesse lá. Eles sabiam porque John Coltrane fez A Love Supreme, eles conheciam Naima. Algumas das músicas que tocamos, [de Reggie] no álbum.
Achei que essa era a melhor maneira de me manter no espírito da música, independentemente dos arranjos que fiz.”

Benjamin nasceu na cidade de Nova York. Os seus pais eram jovens, quando ela nasceu e ela cresceu numa brownstone (tipo de apartamentos característicoas em Nova Iorque) que partilhavam com a sua avó e a sua bisavó. Embora ninguém da sua família fosse músico, havia sempre música casa. “Dependendo do andar a que ia, havia um estilo e um período de música diferente a tocar”, recorda ela. “Se eu quisesse ouvir algo dos anos 20 ou 30, a minha bisavó punha-o a tocar”. A avó era grande apreciadora de Jackie Wilson e Stevie Wonder, enquanto a mãe ouvia sobretudo hip hop contemporâneo: Biggie, Tupac e Snoop.
Benjamin descobriu o jazz enquanto estudante na LaGuardia High School of Music & Art, onde Greg Osby, Sam Rivers e Nicholas Payton davam masterclasses regulares. Ouviu a música de Alice Coltrane pela primeira vez por volta dos 13 anos e ficou imediatamente cativa. “Foi muito poderoso, muito espiritual”, lembra ela. “Tocou-me. Algumas coisas vão primeiro para o cérebro. Aquilo foi direto ao coração. ”

Através da Alice, ela acabou por chegar a John. “Um dia eu nas notas de capa uma música de John Coltrane e pensei: ‘Oh, ela deve ter um irmão’”, ri-se. No entanto, em pouco tempo, ela tinha trabalhado em todo o seu catálogo anterior, do princípio ao fim. Benjamin sentiu uma forte conexão entre a música de John e a de Alice. “Era como um lado diferente da mesma pessoa”, explica, “como alguém parafraseando”. Além disso, também adorou a energia da música de John, que se pode ouvir refletida no seu próprio som poderoso e profundamente comovente. “Sou fã de qualquer pessoa que vá até o fim”, diz ela. “Eu acredito que toda vez que tu tocas, deves tocar como se fosse a última vez.”
Em abril, Benjamin aparecerá no Ronnie Scott’s como convidada especial de Giacomo Smith e Guy Barker, como parte da sua residência de uma semana. Barker anda à espera de uma desculpa para trabalhar com ela novamente desde que se conheceram no musical noire de Kurt Elling, The Big Blind. “Ele tem um espírito incrivelmente criativo”, diz. “Vou tentar trazê-lo para a banda antes que se torne uma estrela.”

Lakecia Benjamin (foto: Elizabeth Leitzell)
No dia em que conversamos, ela prepara-se para voar para Chicago para actuar no NBA All-Star Weekend e tocar para Dave Chappelle com o seu projeto de fusão funk, Soul Squad. Além de trabalhar com inúmeros grandes nomes do jazz, incluindo Clark Terry (que prporcionoua Benjamin o seu primeiro concerto de Big Band), já tocou com Stevie Wonder, Alicia Keys e The Roots, que conheceu depois de entrar sorrateiramente na sua sessão de improviso VIP em Nova Iorque.
Quando lhe pergunto sobre o legado dos Coltranes, ela responde-me que, para ela, eles representam a excelência.
“Ambos trabalharam e praticaram tantas horas por dia só para serem o melhor que podiam ser e estavam sempre a tocar espiritualmente, para mudar a vida das pessoas. Sempre me ensinaram que, como músicos, p nosso trabalho é curar e espalhar alegria por todo o planeta ”, conclui. “É por isso que toco.”
Este artigo foi traduzido do original em inglês por Redação Artes & contextos
O artigo original foi publicado @jazzwise
Ajuda-nos a manter viva e disponível a todos esta biblioteca.

The original article appeared first @jazzwise
Talvez seja do seu interesse: Ella Fitzgerald Imita A Voz De Louis Armstrong Em “I Can’t Give You Anything But Love, Baby”
Assinados por Artes & contextos, são artigos originais de outras publicações e autores, devidamente identificadas e (se existente) link para o artigo original.