Valter Hugo Mãe
– Foto em destaque ©TimeOut
Nascido em Angola, a 25 de Setembro de 1971, Válter Hugo Lemos, mais conhecido como Valter Hugo Mãe, vem passar a sua infância a Paços de Ferreira. Licenciado em Direito, realizou uma Pós-Graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Com sete romances publicados, é um dos escritores portugueses mais aclamados do momento.
Em 2007, venceu o Prémio José Saramago, com o romance O Remorso de Baltazar Serapião. Considerado, pelo próprio José Saramago, um ex-líbris literário: “Por vezes, tive a sensação de assistir a um novo parto da língua portuguesa”, palavras de Saramago, durante a entrega do prémio.

Como bom artista, VHM, não se esgota na literatura, na prosa e na poesia, sendo ele, também, músico e artista plástico. De forma, a deixar algum gosto aos nossos leitores, falaremos de três livros deste escritor: A Máquina de Fazer Espanhóis (2010), Filho Mil Homens (2011) e Homens Imprudentemente Poéticos (2016).
A Máquina de Fazer Espanhóis, conta-nos a história do Sr. silva, de 84 anos, que após a morte da sua mulher, laura, é colocado, pelos filhos, no lar feliz idade. Após 48 anos de casamento, dois filhos, e os tempos vividos durante o regime do Estado Novo, silva está em sofrimento, sentindo-se abandonado ao ser colocado no feliz idade. Depois de algum tempo de inadaptação e de anseio, silva, começa a integrar-se e a fazer amizades junto dos outros utentes do feliz idade. Um livro sobre sofrimento, mas não sobre lamúrias, deliciamo-nos durante 318 páginas, com histórias e memórias de quem sente que, pouco resta para viver. É um livro sobre aceitação, e, mais sobre a vida do que sobre a morte. Um ato heroico, que se demonstra exímio, por ser capaz de romancear e de dar voz à terceira idade, sem nunca ter vivido nela.

Filho de Mil Homens, um romance existencialista “embriagado”, nos pensamentos de Jean-Paul Sartre e de Viktor Frankl, traz-nos crisóstomo e isaura. Numa vila, observamos a vida de várias personagens: crisóstomo, com 40 anos, vê, na sua vida, a melancolia da solidão. Isaura, uma mulher iludida, que procura ceder em tudo, para conseguir alcançar o amor. Um cocktail de sentimentos, debruçado em comportamentos conservadores, que geram nada mais do que dor, mas carimbado por tudo aquilo que todos nós procuramos: uma tal de felicidade.
Homens Imprudentemente Poéticos, apresenta-nos a história de itaro, o artesão, e de saburo, o oleiro, dois vizinhos e inimigos. Como pano de fundo, temos um Japão antigo e uma narrativa que ocorre na floresta dos suicídios. Itaro carrega a sina de cuidar da sua pequena família, composta pela sra. kame, a sua irmã cega, e menina Matsu, isto, com pouquíssimos recursos financeiros. Rodeados pela morte, itaro, tem um dom: através da morte, consegue antever o futuro. Todas as personagens do livro, estão compostas de mistério e enigmas, e, mais uma vez, VHM, dá-nos a sua interpretação da humanidade, enquanto algo místico e único.

Ao longo destas descrições, todos os nomes se encontravam escritos com minúsculas, não querendo quebrar assim, a escrita do autor, pois, como o próprio disse, para ele as palavras são todas de igual importância.
VHM, é homem de múltiplos talentos, tais como, as suas ilustrações e desenhos, os seus poemas, destacando os livros Pornografia erudita e Publicações da mortalidade, o último lançado pela Assírio & Alvim. Como letrista, acompanha, largamente, a banda de rock alternativo, Mundo Cão.
Na pintura e no desenho, conta com algumas exposições: A Boca que olha, a primeira exposição individual em seu nome, que esteve presente até ao ano passado, no Convento de Corpus Christi em Vila Nova de Gaia. A exposição contou com 30 desenhos, em nankin e ecolines e 14 telas em acrílico. Nesta sua obra, encontramos muito do VHM escritor, num cenário kafkiano, transportando a figura humana para uma deterioração.
Valter Hugo Mãe é, sem dúvida, um importante escritor e artista contemporâneo, cuja obra ficará nas nossas narrativas.
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