Valter Hugo Mãe

Valter Hugo mãe da escrita ao desenho sem maiúsculas
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12 de Fevereiro, 2021 0 Por Bernardo Vasconcelos
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Também o tempo torna tudo relativo.

Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 2 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.

Valter Hugo Mãe

 

– Foto em destaque ©TimeOut

Nascido em Angola, a 25 de Setembro de 1971, Válter Hugo Lemos, mais conhecido como Valter Hugo Mãe, vem passar a sua infância a Paços de Ferreira. Licenciado em Direito, realizou uma Pós-Graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Com sete romances publicados, é um dos escritores portugueses mais aclamados do momento.

Em 2007, venceu o Prémio José Saramago, com o romance O Remorso de Baltazar Serapião. Considerado, pelo próprio José Saramago, um ex-líbris literário: “Por vezes, tive a sensação de assistir a um novo parto da língua portuguesa”, palavras de Saramago, durante a entrega do prémio.

Prémio José Saramago Valter Hugo Mãe

Com José Saramago na Cerimónia de entrega do Prémio Literário com o seu nome em 2007 – Foto ©Blogue Prémio José Saramago

 

Como bom artista, VHM, não se esgota na literatura, na prosa e na poesia, sendo ele, também, músico e artista plástico. De forma, a deixar algum gosto aos nossos leitores, falaremos de três livros deste escritor: A Máquina de Fazer Espanhóis (2010), Filho Mil Homens (2011) e Homens Imprudentemente Poéticos (2016).

A Máquina de Fazer Espanhóis, conta-nos a história do Sr. silva, de 84 anos, que após a morte da sua mulher, laura, é colocado, pelos filhos, no lar feliz idade. Após 48 anos de casamento, dois filhos, e os tempos vividos durante o regime do Estado Novo, silva está em sofrimento, sentindo-se abandonado ao ser colocado no feliz idade. Depois de algum tempo de inadaptação e de anseio, silva, começa a integrar-se e a fazer amizades junto dos outros utentes do feliz idade. Um livro sobre sofrimento, mas não sobre lamúrias, deliciamo-nos durante 318 páginas, com histórias e memórias de quem sente que, pouco resta para viver. É um livro sobre aceitação, e, mais sobre a vida do que sobre a morte. Um ato heroico, que se demonstra exímio, por ser capaz de romancear e de dar voz à terceira idade, sem nunca ter vivido nela.

 

Valter Hugo Mãe, Filho de Mil Homens

Valter Hugo Mãe, Filho de Mil Homens

 

Filho de Mil Homens, um romance existencialista “embriagado”, nos pensamentos de Jean-Paul Sartre e de Viktor Frankl, traz-nos crisóstomo e isaura. Numa vila, observamos a vida de várias personagens: crisóstomo, com 40 anos, vê, na sua vida, a melancolia da solidão. Isaura, uma mulher iludida, que procura ceder em tudo, para conseguir alcançar o amor. Um cocktail de sentimentos, debruçado em comportamentos conservadores, que geram nada mais do que dor, mas carimbado por tudo aquilo que todos nós procuramos: uma tal de felicidade.

Homens Imprudentemente Poéticos, apresenta-nos a história de itaro, o artesão, e de saburo, o oleiro, dois vizinhos e inimigos. Como pano de fundo, temos um Japão antigo e uma narrativa que ocorre na floresta dos suicídios. Itaro carrega a sina de cuidar da sua pequena família, composta pela sra. kame, a sua irmã cega, e menina Matsu, isto, com pouquíssimos recursos financeiros. Rodeados pela morte, itaro, tem um dom: através da morte, consegue antever o futuro. Todas as personagens do livro, estão compostas de mistério e enigmas, e, mais uma vez, VHM, dá-nos a sua interpretação da humanidade, enquanto algo místico e único.

Valter Hugo Mãe, Homens Imprudentemente Poéticos

Valter Hugo Mãe, Homens Imprudentemente Poéticos

Ao longo destas descrições, todos os nomes se encontravam escritos com minúsculas, não querendo quebrar assim, a escrita do autor, pois, como o próprio disse, para ele as palavras são todas de igual importância.

VHM, é homem de múltiplos talentos, tais como, as suas ilustrações e desenhos, os seus poemas, destacando os livros Pornografia erudita e Publicações da mortalidade, o último lançado pela Assírio & Alvim. Como letrista, acompanha, largamente, a banda de rock alternativo, Mundo Cão.

Na pintura e no desenho, conta com algumas exposições: A Boca que olha, a primeira exposição individual em seu nome, que esteve presente até ao ano passado, no Convento de Corpus Christi em Vila Nova de Gaia. A exposição contou com 30 desenhos, em nankin e ecolines e 14 telas em acrílico. Nesta sua obra, encontramos muito do VHM escritor, num cenário kafkiano, transportando a figura humana para uma deterioração.

Valter Hugo Mãe é, sem dúvida, um importante escritor e artista contemporâneo, cuja obra ficará nas nossas narrativas.

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