Hiroshi Yoshimura
É difícil contar a História da música ambiente da mesma forma que contamos outras Histórias, como as de grandes homens e mulheres e os movimentos que inspiraram. No que diz respeito à música ambiente há poucas vedetas e pode até ser difícil juntar artistas em categorias. Mas o que é que podemos esperar de música feita para existir apenas no plano de fundo?

A origem, conveniente, deste género musical é o álbum de 1978 de Brian Eno, Music for Airports, o primeiro álbum a ser lançado como um disco “ambiente” e imaginado como música feita para sala de espera. O antepassado espiritual de Eno, Erik Skatie, era conhecido por chamar as suas composições minimalistas de “musica de mobiliário” e por pensá-las como um acompanhamento para tarefas mundanas.
Apesar destas reduções conceptuais da música à sua função mais utilitária – criando uma atmosfera relativamente agradável – o ambiente explora o espaço dos devaneios e as vagas emoções a ele associadas. Poucos compositores de música ambiente seguiram o propósito ostensivo do género com tanta prática e aplicação direta como no Japão, onde “a influência de compositores minimalistas como Philip Glass e Terry Riley se juntou à época de ouro da eletrónica” nos anos 1980, escreve Jack Needham no The Guardian.

Os compositores japoneses adaptaram séculos de tradição à modernização estonteante:
A música tradicional japonesa reproduziu o seu meio envolvente durante séculos – o shakuhachi, uma flauta de bambu do século VII, foi desenhada para tocar todos os 12 tons da escala cromática ocidental como forma de dar voz à diversidade da natureza. Assim, no boom económico do Japão nos anos 1980, quando cidades como Tóquio estavam a mudar a alta velocidade e os sintetizadores Roland substituíram o instrumento clássico, a música ambiente refletiu estas paisagens novas e hiper avançadas.
A música que foi feita era “descaradamente corporativa” tornando-se num grande negócio quando o álbum de 1987, Get at the Wave de Takashi Kokubo “foi distribuído com os ares condicionadas da Sanyo.” Andy Beta da Vulture explica como é que a música ambiente japonesa se tornou tão conhecida nos EUA através de uma compilação intitulada Kankyō Ongaku: Japonese Environmental, Ambient & New Age Music 1980-1990.
O título significa música ambiental, mas também é referido como “música de fundo” ou BGM (“background music”) pelos insiders da indústria (e pela Yellow Magic Orchestra). Mas o que quer que lhe chamemos não podemos discutir música de ambiente japonesa sem fazer referência ao trabalho pioneiro de Hiroshi Yoshimura.

O álbum de Yoshimura Green “é um exemplo do minimalismo japonês no seu melhor”, escreve Vivian Yeung na Crack, “com a fusão de sons naturais – pássaros, corrente de água e grilos – à artificialidade de sintetizadores arpejando e suaves notas minimais implantadas de efeitos comoventes.” Wet Land de 1993 introduz suaves sintetizadores em melodias minimalistas que relembram as poucas e bem escolhidas notas de Satie. A música de Yoshimura divulgou-se bem para além do Japão através do mesmo mecanismo que o mais recente boom na “cidade-pop” japonesa – através de algoritmos do YouTube.

Depois de descobrir Yoshimura online, Andy Cush da SPIN escreveu, “Agora, oiço a música de Yoshimura quase todos os dias, porque a acho tremendamente comovente e porque o YouTube não para de a tocar.” Mas há bastante mais que se diga sobre a recente popularidade da música japonesa de ambiente do que algoritmos, argumenta Beta, fazendo notar que o “boom Satie” no Japão do pós-guerra levou a uma revolução musical particularmente atraente para ouvidos ocidentes. De qualquer modo, como escreve um dos novos “fãs acidentais” de Yoshimura, a sua fama na internet superou, e muito, a sua fama em vida.
Quando morreu, em 2003, Yoshimura “era uma nota de rodapé na história da música… A maior parte do seu trabalho acabou como barulho de fundo de museus, galerias e casas de espetáculo.” Bonito barulho de fundo era, no entanto, exatamente o objetivo de Kankyō Ongaku e compositores como Yoshimura não elevaram a fasquia.
Em vez disso, ele aperfeiçoou a forma concebida por Eno como “ignorável enquanto interessante”, música produzida para “induzir a calma e um espaço de reflexão.” Se está desejoso deste tipo de atmosfera não precisa de procurar mais. Pode ouvir os principais álbuns de Yoshimura aqui, e descobrir mais sobre o seu trabalho no YouTube.
Este artigo foi traduzido do original em inglês por Constança Costa Santos
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O artigo original foi publicado em @Open Culture
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