Cristina Ataíde
No dia 25 de Novembro, o Museu Coleção Berardo recebeu a abertura gratuita da exposição Dar corpo ao vazio, da autoria de Cristina Ataíde e com a curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues. Com a preponderante e intensa cor vermelha, a percorrer o espaço, Sérgio e Cristina exploram o espaço e comunicam com o público, abrindo portas para uma experimentação e permitindo-nos descobrir e redescobrir o trabalho de Ataíde.
Natural de Viseu, terminou o curso de Escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1978, frequentando o terceiro ano do curso de Design. Contemporânea de artistas como Fernando Calhau e Julião Sarmento, em 1982, integrou o Emarte, ao lado de João Cutileiro. Cofundou a Madein, uma empresa de mármore e rochas ornamentais, em Alenquer, e desenvolveu peças de mobiliário, objetos de design e escultura marmoreada, trabalhando ainda com Anish Kapoor, Pistoletto, Joel Fisher, entre outros.
Várias vezes bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, e, atualmente, docente na Universidade Lusófona de Lisboa, tem vindo a desenvolver a sua obra com base em materiais pétreos, madeira, metal, recorrendo à fotografia e escultura. Através da instalação, tem dado proeminência a aspetos sociológicos, antropológicos e intervencionistas, essencialmente do ponto de vista da consciência ecológica.
A exposição Dar o corpo ao vazio é uma sumula bastante interessante do trabalho que Ataíde tem vindo a desenvolver ao longo de mais de três décadas, através de obras esculturais – incluindo instalações – instalações de vídeo, fotografia e desenho.
Sérgio e Ataíde conduzem-nos por uma viagem de perspetivas e de olhares, através das contundentes manchas de vermelho e preto, que criam uma leitura de contrastes, mas também elevam as obras a um nível, concomitantemente, espiritual (yin e yang) e térreo.
A representação térrea é-nos induzida pela presença de gravuras de montanhas, numa instalação suspensa, abrindo o percurso da exposição, na qual é possível «entrar», ficando com parte do tronco coberta pelo «abajur» de papel, numa leitura de verso e inverso, através da luz incidente.
Toda a exposição prima pela inserção de elementos que nos remetem para a natureza, quer sejam relevos e esculturas, muitos deles feitos com base em madeira, ou instalações que, figurativa e simbolicamente, se associam ao mundo natural. O trabalho das cores, entre os vermelhos, acastanhados e dourados e o uso do preto, criam um ambiente térreo, e aludem a todo o percurso que a artista e o curador querem transmitir.
Há, e de forma extremamente perspicaz, a divisão da exposição através de um vídeo hall, com ondas de águas cristalinas, seguido de uma enorme canoa suspensa. Com luzes baixas, e incidentes no objeto, criando a sua duplicação através da sombra que o mesmo reflete. Este mesmo, conduz-nos à última sala, onde Ataíde comunica diretamente com o observador, através de frases, escritas no chão. As ladainhas, tal como ela as apelidou, fazem um jogo de palavras e sentimentos, viscerais e profundos, que nos colocam em questão connosco mesmos, em diálogo direto com as fotografias expostas na parede, das anteriores videografadas águas cristalinas.
A exposição transmite emoção e interioridade, num espaço visual clean, ainda que intenso o suficiente para comunicar com o observador, de forma direta.
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Licenciada em História da Arte, apaixonada por arte e fotografia, com o lema: a vida só começa depois de um bom café, e uma pintura de Velázquez.