Vida Longa, Cecilia Granara Artes & contextos cecilia granara

Vida Longa, Cecilia Granara
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5 de Novembro, 2020 0 Por Artes & contextos
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Vida Longa

 

Cecilia Granara toma emprestado o seu léxico pictórico de um sincretismo simbolista. Esta jovem artista, formada pela ENSBA, afirma a sua apetência por imagens que refletem conceitos, muitas vezes provenientes de um registo que se qualificaria de espiritual.

As formas são livres do seu significante primário para se realizar no emblema puro, aberto a múltiplas interpretações. Vida, nascimento, natureza, amor: as ideias com as quais se relacionam genericamente constituem um referencial meditativo e benevolente. Ecoando a estas noções, a técnica pictórica de Cecilia Granara é às vezes um feito ingénuo, onde o grau de realismo é menos dependente do know-how do que de uma analogia sensata. Por outras palavras, o médium é significativo quanto à coisa figurativa, a forma é uma metáfora do sentido. A imagem de um fluxo vital percorrendo o corpo é marcada por pigmentos muito líquidos, enquanto o aerógrafo faz transpirar elementos impalpáveis, como uma pintura que vibra e respira.

 

Cecilia Granara, non so come dirtelo ma, 2017, 22x17cm, huile sur bois ©

Cecilia Granara, non so come dirtelo ma, 2017, 22x17cm, óleo sobre madeira ©

Resultando uma obra quase ritualizada, cujas imagens se desdobram no centro da tela como as etapas de um baralho de tarô, cuja prática a artista aprecia. Uma roda da respiração ou um coração em chamas são exemplos dos símbolos presentes, abertos a diferentes presságios. E como acontece com os mapas, trata-se de interpretar: os padrões de falhas, frequentes em Cecília Granara , podem ser traduzidos por olhos ou folhas. A paleta franca (vermelho, azul, amarelo, verde) marca a dimensão ingénua e mística dessas figuras, delimitando os seus contornos. Surge uma tensão não incompatível entre uma arte estilizada de um lado e um toque livre e aquoso do outro. Da mesma forma, coexistem nesta pintura representação realista e figuração decorativa.

 

Cecilia Granara, Naissance, 2020, 10x15cm, aquarelle ©

Cecilia Granara, Naissance, 2020, 10x15cm, aguarela©

No livro de imagens de Cecilia Granara, figuras extravagantes são frequentemente cheias de grotesco, como é o caso de uma representação de Sheela-na-gig, deusa exibindo um sexo aberto, que apareceu nas Ilhas Britânicas no século XII. Nela, como sempre na artista, encontramos a ideia de um corpo que vê e sente as coisas em simbiose com a natureza. Os órgãos são colhidos na ponta dos ramos; as emoções viajam pelos membros. Muita doçura emana desses seres larvais que ondulam no espaço. As figuras deitam-se em posturas emprestadas da ioga ou do xamanismo. Observa-se por exemplo a deusa egípcia Nout como um cachorro de cabeça para baixo, ou o deus grego Argos com mil olhos que se tornou uma árvore da vida. O pincel não recua em frente de nenhuma hibridização e o léxico da transformação é recorrente: borboleta que se metamorfoseia, plantas germinando. Cecilia Granara parte dessa ideia de que as coisas nos atravessam e fluem, assim como a sua pintura cobre menos do que liga. Os elementos saem ou entram no corpo? Entre digestão, incorporação e nascimento, a diferença é obrigatória.

Cecilia Granara, I am filled with you, 2019, 151x101cm, medias mixtes sur toile ©

Cecilia Granara, I am filled with you, 2019, 151x101cm, meios mistos sobre tela ©

Auxiliar no atelier de Francesco Clemente, Cecilia Granara foi certamente influenciada pela trans-vanguarda italiana e pelo retorno por ela preconizado à representação pictórica livre. A omnipresença do artista de figuras astutas é de facto notada, onde a energia das formas serpentinas é realçada pelo aspeto líquido da cor, como uma vida que é injetada. Essa mesma ideia de fluxo é encontrada no fascínio assumido pelos modelos transexuais ou hermafroditas e, mais geralmente, pelo fluido de género que eles reivindicam de forma subjacente. Essas figuras refletem-se ou duplicam-se, numa espécie de morfogênese que lhes dá origem por si mesmas. O milagre da vida, tema central da obra de Cecília Granara, é sugerido por um fundo amarelo que desperta as cores como um amanhecer que aponta. As ideias de luz, energia e aura são denotadas por essa tonalidade particular, uma espécie de elixir que se arrasta entre os pigmentos.

Cecilia Granara, Body confusion III, 2020, 61x46cm, aquarelle et gouache ©

Cecilia Granara, Body confusion III, 2020, 61x46cm, aguarela e guache ©

Cecilia Granara, Body confusion corpse pose, 2019, 165x135cm, medias mixtes sur toile ©

Cecilia Granara, Body confusion corpse pose, 2019, 165x135cm, meios mistos sobre tela ©

Cecilia Granara, Piangendo con le piante, 2020, 10x15cm, aquarelle sur papier ©

Cecilia Granara, Piangendo con le piante, 2020, 10x15cm, aguarela sobre palel ©

Cecilia Granara, Autoritratto ad albero, 2019, 18x14cm, mixte sur toile ©

Cecilia Granara, Autoritratto ad albero, 2019, 18x14cm, meios mistos sobre tela ©

Cecilia Granara, trans.form, looking in the mirror, 2020, 61x46cm, aquarelle et gouache ©

Cecilia Granara, trans.form, looking in the mirror, 2020, 61x46cm, aguarela e guache ©

Cecilia Granara, the whole world weeping, 2019, 151x101cm, medias mixte sur toile ©

Cecilia Granara, the whole world weeping, 2019, 151x101cm, meios mistos sobre tela ©

Cecilia Granara, Self portrait, map for dreaming, 2017, 180x180cm, medias mixtes sur toile ©

Cecilia Granara, Self portrait, map for dreaming, 2017, 180x180cm, meios mistos sobre tela ©

Cecilia Granara, Due Farfalle, 2020, 210x110cm, medias mixte sur toile ©

Cecilia Granara, Due Farfalle, 2020, 210x110cm, meios mistos sobre tela ©

 

Este artigo foi traduzido do original em francês por Cláudia Almeida

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