Forma estrófica vs estrutura composta Artes & contextos Strophic Vs Through Composed

Forma estrófica vs estrutura composta
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21 de Outubro, 2020 0 Por Artes & contextos
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Também o tempo torna tudo relativo.

Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 2 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.

Forma estrófica vs composta

 

Ambos os termos referidos no título dizem respeito a um tipo de estrutura musical, isto é, à forma como um trecho ou trechos são agrupados. Tanto a estrutura “estrófica” como a “composta” tiveram uma grande importância na história da música durante muitos anos. O que se questiona neste artigo é se alguma delas tem uma vantagem ou é mais atrativa do que a outra. Ou será que não há nenhuma diferença significativa entre elas?

Enquanto alguma terminologia se refere a uma estrutura musical de forma mais geral, o termo “estrófica” é normalmente usado para descrever canções.

No caso da forma estrófica, todos os versos são cantados com a mesma música. Assim, as canções estróficas estão entre algumas das mais velhas e mais novas que existem. É uma forma famosa para se usar em canções, já que é simples, mas bastante eficaz.

Como é de esperar, em algumas canções muda-se o texto a cada verso, mas outras são mais limitadas, ao ponto de a sua estrutura ser descrita simplesmente como “A, A, A…”. Talvez o que agrada mais a um artista ou ao público é a mudança de texto, mas uma configuração que permanece inalterada.

Pode parecer que uma canção estrófica perde rapidamente o interesse para o público, mas, examinando as canções estróficas mais de perto, constata-se que elas agradam a um nível global. Uma das mais famosas melodias estróficas, se não a mais famosa, é a canção “Amazing Grace”. Este é um ótimo exemplo de como as canções estróficas funcionam enquanto forma musical, apesar de serem consideradas simples.

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Esta forma tem sido amplamente usada por vários compositores clássicos, incluindo Haydn e Schubert. “Die Forelle” (Op. 32: D.550), composta por Schubert em 1817, é exemplo de uma canção estrófica de grande sucesso. Em rigor, esta obra é uma canção estrófica “modificada”, mas a essência da forma é clara.

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Considerando o lado popular da cultura musical, Bob Dylan construiu virtualmente uma carreira ao escrever canções estróficas. Muitas delas chegaram a vender milhões de discos e foram vários os artistas que delas fizeram covers. Algumas das minhas canções preferidas de Dylan são “The Times They’re A Changing” e

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“Bolwin’ In The Wind”, para não mencionar mais.

A conhecida canção de Johnny Cash, “I Walk The Line” (1956), também conta com uma forma estrófica, tal como “Scarborough Fair”, de Simon e Garfunkel. Muitas destas obras musicais resultam porque o seu mood geral mantém-se, em grande parte, inalterado.

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A estrutura estrófica tem um legado que representa um grande desafio para outra forma musical: a forma“composta”. A diferença entre a forma estrófica e a “composta” é que, nesta, a música muda a cada estrofe da letra, em vez de se manter inalterada. Se um compositor pretende um texto cujo conteúdo, mood ou métrica sejam variáveis, a composta será a mais indicada.

Supondo que na escrita de canções o verso e o refrão são representados pelas letras A (verso) e B (refrão), uma peça em forma composta seria representada da seguinte maneira: A, B, C, D, E… o que quer dizer que haveria música diferente para cada parte do poema ou texto.

Querendo fazer uma comparação entre as duas formas musicais, talvez seja melhor começar pela música de Franz Schubert. Como referido anteriormente, muitas das canções de Schubert são compostas de maneira estrófica, mas também existem outras que seguem a estrutura comosta.

Uma das canções mais conhecidas é “The Elf King” (Der Erlkönig), na qual Schubert usa imaginativamente a forma composta para captar as personagens e a história assustadora que escolheu.

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A cada novo verso, Schubert ajusta a harmonia, ritmos e registo vocal para retratar as emoções da cena. Podia facilmente não dar resultado, caso tivesse usado uma forma estrófica.

Existem ainda outras obras clássicas cuja estrutura deriva da estrutura composta. Alguns musicólogos consideram que “Farewell Symphony” (Nº 25), de Haydn, é uma peça musical de estrutura composta.

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Isto significa que toda a sinfonia tem uma estrutura pragmática “escondida” que depende de música e invenção em constante mudança. Numa escala superior, as óperas de Richard Wagner são consideradas “totalmente cantadas”, sem ser usado “recitativo”. As cenas, as secções instrumentais e as canções simplesmente avançam pela narrativa com música nova. Wagner unifica a sua música, não só a nível macro, mas também a nível micro, com o seu uso de leitmotivs.

Avançando para o século XX, os Queen, banda inovadora, garantiram o seu lugar no Rock Hall of Fame com a sua grande canção de sucesso “Bohemian Rhapsody”.

 

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Apesar de, na altura, muitos ouvintes terem ficado confusos quanto ao significado da canção, esta continua a ser uma das mais tocadas de todos os tempos. Curiosamente, “Bohemian Rhapsody” também é composta. Cada secção consiste em novo material musical, até ao final, quando se ouve o som do piano. O facto de a música mudar continuamente realça a narrativa curiosa que os Queen compuseram, bem como uma excelente habilidade com a guitarra.

À medida que se avança na análise da canção popular, descobre-se que há muitas canções que não seguem a estrutura verso-refrão, já testada e comprovada. Os The Beatles não eram avessos a experiências com formas musicais. “You Never Give Me Your Money” e “Happiness Is a Warm Gun” fazem parte da categoria de canções em estrutura composta. Ambas tiram magnífico partido dessa estrutura.

 

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Talvez a melhor maneira de concluir esta disputa musical de estruturas seja sublinhando que a forma de música que escolhe para a sua composição tem de estar relacionada com o texto que pretende. Ambas as formas musicais são úteis para os compositores e suficientemente bem-sucedidas, para o público as ouvir durante centenas de anos. Não se trata de uma questão de gosto, pois o texto é que tem a última palavra.

Este artigo foi traduzido do original em inglês por Joana Rosa

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O artigo original foi publicado em @CMUSE – Classical
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