MALASAÑA 32 na Abertura do MotelX14
O Motelx volta a animar Lisboa e os fãs do cinema de Terror e Fantástico sob uma pandemia que, com maior ou menor aproximação, já foi retratada no cinema e certamente inspirará os autores e realizadores do género.
Simplesmente esta, é muito real e está a mudar a nossa vida, em alguns aspetos para sempre, e a organização do festival teve que se desdobrar em esforços para cumprir as determinações das autoridades.
Os esforços produziram excelentes resultados, já que tudo está organizado com o maior rigor, mas sem dramas, vivendo-se no S.Jorge um ambiente seguro, sereno e calmo, com as operações muito bem conduzidas pela equipa de voluntários de serviço. Compensando um pouco as medidas restritivas de público, este ano a organização acrescentou dois dias ao festival que se acredita manterá a energia de sempre.
Destacam-se nesta edição uma retrospectiva do racismo no cinema de terror norte-americano intitulada “Pesadelo Americano: Racismo e o Cinema de Terror” e um aumento da participação de terror no feminino com cinco filmes presentes, realizados por mulheres.
Como novidade, a secção Hiper curtas, para filmes realizados com telemóvel ou tablet e com uma duração máxima de dois minutos.
MALASAÑA 32, de Albert Pintó
Realizado por Albert Pintó, Malasaña 32 narra a história de uma família – um casal com três filhos, um menino de 5 anos e um “casal” de adolescentes, e o avô – que nos anos 70 do século passado, após vender tudo exceto o carro, abandonou a aldeia de sempre, para procurar na grande cidade uma vida melhor. Vivia-se a transição para a democracia em Espanha e acreditando que para trás, ficavam também os seus problemas, aplicaram todo o seu dinheiro no 3º B do Nº 32 da Rua Manuela Malasaña em Madrid.
O apartamento é velho e pelo ar de abandono adivinha-se que não terá voltado a ser aberto após a morte da anterior inquilina, quatro anos antes. Tudo parece manter-se como ficara nesse dia. Desde as loiças na cozinha, aos armários cheios de roupas; das camas compostas, até aos retratos nas paredes, nada parece ter voltado a ser tocado.
A eletricidade falha frequentemente, há um retrato feminino numa das paredes, que virá a tornar-se elemento de destaque e uma cadeira de baloiço que, sem ninguém perceber, vai baloiçando muito suavemente.
Aquela habitação tem um passado misterioso e sinistro que os Olmedo ignoram.
Nem Rafa (Iván Renedo), o filho mais novo nem os irmãos, Pepe (Sergio Castellanos) e Amparo (Begoña Vargas), gostam da mudança e o avô Fermin (José Luis de Madariaga), desde o primeiro momento sente que há ali algo estranho. Há, no entanto um motivo maior para a mudança que viremos a perceber mais tarde, e está relacionado com a anterior vida do casal Manolo (Iván Marcos) e Candela (Bea Segura).
O primeiro a ser contactado de uma forma dissimulada por uma presença misteriosa é o pequeno Rafa e virão a ser ele e a irmã, aqueles que mais despertarão o interesse da entidade que assombra a habitação.
Pepe troca mensagens com uma figura feminina, no apartamento em frente. Uma figura que ele não vê realmente como mais do que uma sombra por detrás de uma janela. Amparo atende um telefonema num telefone que tem o fio cortado.
O filme está bem conduzido e tem momentos de forte intensidade dramática, embora note algum exagero na repetição das explosões sonoras para o salto na cadeira. A luz e as sombras; as transparências e os reflexos, o recurso ao foco no segundo plano, criam os momentos mais intensos, alguns, mesmo durante o dia.
Quando o casal sai para trabalhar a entidade começa gradualmente a revelar-se aos filhos e ao avô, das formas mais imaginativas, em aparições ou falando pela boca do avô, no entanto é quando Rafa desaparece de casa sem deixar qualquer rasto que o terror se instala.
A ação passa daquelas paredes para o apartamento ao lado, que afinal sempre fez parte do enredo e vai até à cave do edifício onde Pepe é atraído. Mas é quando os pais depois de “expostos” percebem e aceitam o que se passa, que é imperativo encontrar ajuda. Sem dinheiro nem tendo para onde ir, abandonar o apartamento não é hipótese.
Amparo procura respostas por detrás de um número de telefone, o único de uma lista no apartamento. A restante família procura uma personagem igualmente misteriosa que parece saber algo.
Há um segredo trágico na origem de tudo aquilo e por detrás da história daquele apartamento, e a resposta não vai ser a melhor.
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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.