Música de Câmara
A música de Câmara evoca um ambiente musical mais íntimo do que a música orquestral ou operística. Ao ouvir música de câmara, é mais comum ouvirmos grupos instrumentais ou vocais mais pequenos, como quartetos de cordas, ou até reuniões de cantores em barbearias. A música composta para grupos instrumentais ou vocais de música de câmara é propositadamente desenhada para explorar as sonoridades do conjunto para que as complexidades de textura e forma possam ser apreciadas.
Os recintos para música de câmara ditam, de certa forma, a natureza da música que é escrita. Em vez de salas de concerto cavernosas ou catedrais de pedra, esperava-se que a música de câmara fosse tocada em salões, para um número mais reduzido de pessoas. Isto por si só permite uma maior conexão entre o artista e a audiência, subjacente a uma característica chave da música de câmara.
Existem muitas e diferentes combinações de cordas, sopros e vozes que compõem os conjuntos de câmara. Uma característica destes grupos é que geralmente não há mais do que um músico a executar qualquer parte da música. Se ouvir quartetos de cordas, quintetos e até mesmo sextetos, pode comprovar isso. Isto impõe exigências significativas a qualquer compositor que tente compor para um conjunto de câmara, já que o material musical que se inventa deve ser suficientemente robusto para sobreviver a um escrutínio com maior proximidade. Uma coisa é compor melodias crescentes tocadas por trinta violinos numa orquestra sinfónica, outra coisa diferente é o desafio de compor a melodia que pode ser tocada, talvez, por apenas um artista. O ambiente de orquestra tem quase sempre um efeito mais imediato e impressionante na audiência, enquanto um solo de violino, flauta ou de uma voz tenor apresenta todo um conjunto de dificuldades de composição.
Isto é o que traz o apelo da música de câmara desde o Barroco até aos dias de hoje. Mais do que os grandes grupos instrumentais ou vocalistas, é a privacidade, o detalhe e a proximidade da música de câmara que convida o ouvinte para um diferente mundo musical. O poder, por vezes avassalador, da música de orquestra é substituído por composições amplamente texturizadas e meticulosamente trabalhadas para se elevarem sob os holofotes.
Pensa-se que as origens da música de câmara remetem para meados do século XV, mais especificamente à tradição do folclore germânico. Estas músicas folclore foram, de acordo com várias fontes, adotadas por um pequeno número de instrumentistas que transformaram material original em novas peças. Naquele tempo, nenhuma combinação instrumental particular foi dada, mas deixada para os músicos disponíveis, e muito provavelmente tocada em reuniões locais de músicos. Da mesma forma, o “Chanson” francês (“Canzona” em italiano), deu uma valiosa contribuição para as origens da música de câmara.
O Chanson era uma peça vocal secular que foi usada como base para adaptações instrumentais. Como uma forma musical, o Chanson ou Canzona foi cuidadosamente organizado em secções, frequentemente com diferentes compassos, que se prestavam a um desenvolvimento musical fluente ou à improvisação. Este facto ofereceu aos instrumentalistas do século XVI a oportunidade de ornamentarem ou adicionarem novo material à música já existente, para criar peças totalmente novas que, em termos gerais, conduziu à suíte Barroca.
Combinações de instrumentos começaram a florescer durante o período Barroco, preparando o palco para a música de câmara que apareceria nos anos seguintes. O “Trio-Sonata” tornou-se uma característica firme da música de câmara Barroca normalmente compreendendo dois violinos, violoncelo e o cravo ou alaúde. O violoncelo e o cravo eram vistos como uma única entidade ou um “continuo”, que estavam ali para acompanhar os dois violinistas. Corelli, Bach, Handel, e Vivaldi compuseram Trio-Sonatas que eram comummente baseados nas danças da Renasncença como o Sarabande, Courante, Allemande ou Gigue. A música era perfeitamente intrincada e altamente contrapontística com claras linhas melódicas, e a intimidade que passamos a antecipar na música de câmara.
A música de câmara clássica viu grandes desenvolvimentos neste entusiasmante género musical. Do Trio Sonata veio o Quarteto de Cordas, a forma que dominava a música de Mozart e Haydn. O Quarteto de Cordas consistia em dois violinistas, uma viola e um violoncelo. Algo que veio oferecer ao compositor um vasto número de possibilidades para explorar texturas elaboradas e tratar o seu material musical de novas e mais criativas formas. Uma forma de quatro movimentos desenvolvida através da Suíte Barroca, e com ela a emergência da forma de Sonata que se tornou o pilar do movimento de abertura de muitos quartetos clássicos Haydn substitui o tradicional Minuet com um Scherzo (piada musical), e o final é normalmente em forma “rondo”.
Beethoven pegou no Quarteto de Cordas e moveu-o em direções que seriam quase impossíveis de imaginar algumas décadas antes. A sua inovação e a elaboração deste tipo de música de câmara deram protagonismo a enormes desenvolvimentos em estrutura, textura e uso de ideias motívicas. O nível de detalhe e complexidades harmónicas são quase impossíveis de apreciar e estendem o conceito de Quarteto de Cordas a uma mais alta e sofisticada forma musical. A partir do Quarteto de Cordas de câmara, grupos como Sextetos e Octetos desenvolveram-se com belos exemplos seus nas obras de Brahms e Schubert.
A Sonata também faz a sua primeira grande aparição durante esta era, agora com o piano, quer a solo ou acompanhado de um violino, uma flauta ou, posteriormente, um clarinete. Desde as Sonatas de Piano de Mozart até às de Beethoven, a Sonata ganhou grande popularidade como uma forma de música de câmara ao longo do período Clássico e Romântico.
Juntamente com a Sonata, crescia toda uma nova gama de formas musicais dedicadas aos “salões” ou residências privadas de clientes ricos, como as composições de Chopin. Os seus Nocturnois, Mazurkas e Waltzes são exemplos de música de câmara Romântica que permanece fiel aos ideais iniciais do género. As Songs Witout Words de Mandelsohn representa um exemplo bonito e poético da música de câmara Romântica que é calorosamente expressiva, íntima e cheia de paixão.
The Song Cycles de Robert Schumann e Franz Schubert não pode ser não pode ser esquecida quando se considera a música de câmara. Estes belos cenários de poesia de Winterreise de Schubert a Dichterliebe de Schuman ilustram totalmente o que a música de câmara oferece ao público.
Foram compostos verdadeiramente para amigos próximos ou familiares, imbuídos de expressão e cor profundas, muitas vezes pondo as palavras sob uma luz completamente nova que nos toca de uma forma que a música a uma escala maior raramente faz. Aqui reside o coração da Música de Câmara.
Este artigo foi traduzido do original em inglês por Carolina Rocha
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O artigo original foi publicado em @CMUSE – Classical
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