Rodin – Giacometti
Mais de meio século separa os caminhos de Auguste Rodin (1840-1917) e Alberto Giacometti (1901-1966), mas existem todos os motivos para apresentarmos os seus percursos em conjunto. Isto, não só devido à conhecida admiração de Giacometti pelo mestre do século XIX, como testemunham as cópias feitas da sua obra, mas também pela semelhança de abordagem quando se trata de conceber a essência do sujeito escultórico e os seus respectivos processos criativos.
Organizada pela Fundação MAPFRE em colaboração com a Fundação Giacometti e o Museu Rodin em Paris, a exposição lança luz sobre as confluências entre estes dois artistas universais, preocupados a partir de cada uma das suas realidades histórico-artísticas com a enorme complexidade dos grandes sentimentos humanos e a sua manifestação através das possibilidades expressivas da matéria.
Paralelismos criativos
Dividido em nove secções temáticas, o percurso da exdposição é composto por mais de 200 obras em gesso, bronze e terracota expostas em paralelo, e cobre o período de amadurecimento de ambos os artistas, imersos nas suas respectivas épocas: de Rodin, os anos após a guerra franco-prussiana e a Comuna de Paris que deu lugar à Terceira República, até ao início do século XX; de Giacometti, o período entre guerras e os anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, o desencanto existencialista do pós-guerra e os horrores duradouros do Holocausto.
O primeiro bloco de obras, “Grupos”, inclui uma cópia moderna em gesso de Les Bourgeois de Calais (1889) de Rodin, e o bronze La Clairière (1950) de Giacometti, que segue o seu antecessor dando a cada figura o seu toque individual, o que significa o perfil para romper com a ideia tradicional da fusão barroca.
A segunda secção, “Acidentes”, presidida pelo Homem de Nariz Partido (1864), o único trabalho precoce de Rodin, e o gesso de Giacometti, Cabeça de Diego (1950), destaca os elementos aleatórios reincorporados no processo de modelação que, a partir de uma abordagem inovadora, Rodin propôs como expressão enriquecedora das suas esculturas enquanto Giacometti retomaria os fragmentos guardados no seu atelier para lhes insuflar nova vida.
A sexta secção, “Séries”, enfatiza a natureza inacabada da escultura e a insistência em alguns motivos para avançar na transformação da sua produção e significado. Tal como Miguel Ângelo nas suas últimas peças, Rodin retoma repetidamente o seu Balzac e Victor Hugo, enquanto Giacometti faz e refaz as imagens dos seus modelos. Os dois últimos blocos temáticos, “Pedestal” e “O Homem que Caminha” (uma metáfora da fragilidade-força do ser), estão intimamente relacionados com o movimento, um dos elementos cruciais para compreender a psicologia visual das figuras, a sua distância do espectador e o seu comportamento no local.
Segundo Rodin, uma escultura deve poder ser completamente contornada para poder contemplar todos os seus flancos até criar a ilusão de movimento a partir das suas formas. Os seus modelos não posam, mas vagueiam nus pelo atelier, para que o artista possa observar as tensões musculares e os gestos naturais do corpo movendo-se livremente…Em Giacometti, movimento é sinónimo de equilíbrio instável e estatismo frontal, quase desencarnado, sendo a base a que suporta e se funde com a escultura. Em El hombre que camina o El hombre que se tambalea, um tema obsessivo desde os anos 40 até à sua morte, inicialmente inspirado num gesso de Rodin, o movimento teve de ser representado através de uma sequência de pontos de imobilidade, separados por momentos que moldam a unidade, vista através do múltiplo desdobramento da figura e da sua escala no espaço.
A exposição termina em “En el Estudio”, uma secção dedicada ao artista no seu atelier.A fotografia e documentação gráfica do escultor a trabalhar ou a posar ao lado do seu modelo, o trabalho em curso, a desordem típica da criação, iluminam a intimidade de uma atividade que ambos os escultores conceberam como uma busca incessante do real e do verdadeiro. Rodin e as suas obras foram imortalizadas por Eugene Druet, fotógrafo amador e galerista dos Pós-Impressionistas, retratado por Bonnard em 1912.
As numerosas imagens que se conservam de Alberto Giacometti vão desde os retratos de Man Ray na época em que esteve com os surrealistas do círculo bretão, até aos instantâneos do artista no estúdio do Hippolyte Maindron capturados por Alexander Liberman e Brassaï. Ao regressar da Suíça após a guerra, Giacometti criou uma espécie de microcosmos no seu estúdio concebido como uma extensão física e psicológica de si próprio.
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Este artigo foi traduzido do original em castelhano por Redação Artes & contextos
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