Jeanne Susplugas
Jeanne é um nome que se refere, na esfera cultural francesa, à lutadora virgem, à pura, à louca, à inimiga dos ingleses. Uma heroína reapropriada por excelência, Jeanne é a que, com o corpo queimado e a boca selada, é obrigada a dizer. A enormidade do seu martírio é tal que impõe um respeito, um arrepio na coluna vertebral.
Aqueles que falam por ela não podem ser contrariados, que façam dela uma santa leiga, símbolo de um nacionalismo orgulhoso e combativo, do regime de Vichy, dos Gaullistas, uma pobre camponesa queimada pela Igreja, uma feminista. Não podem ser contrariados porque, falando, fazendo de Jeanne o que eles decidem, confiam neste seu sofrimento, vivido por ela, de que se apropriam enquanto as próprias cinzas desaparecem. Etimologicamente, o nome Jeanne refere-se ao Yehohanan hebraico, que significa “Deus perdoa”.
Por isso, de Jeanne, esperamos muito. E se a introdução pelo primeiro nome, dado que cada indivíduo é imposto à nascença e será sempre um “o que me vem de fora e que devo apropriar”, aplica-se ao caso de Jeanne Susplugas. Caso contrário, ter-me-ia sido impossível chegar à fórmula do “artesanato clássico” que me vem sistematicamente à cabeça quando penso nela, o que é uma contradição, e que pode ser explicada pela sua aura, pela sua formação académica, pela sua dimensão, pela nitidez das imagens que produz, pela sua densidade.
Por tudo isso, e para esgotar a carga da fórmula, a “factura clássica” também diz respeito à Jeanne tal como a vimos, uma redução: qualificamos como uma ” factura clássica” entidades que pensamos serem o resultado de um código cultural fácil de compreender, de resumir, de reutilizar. O trabalho de Jeanne Susplugas deve ser abordado desta forma, aproveitando um tipo de facilidade de acesso. Eu sei, eu compreendo, eu li: casa, máscara, comprimidos, luzes de néon, palavras, mulher, natureza morta, cerâmica, fotografia, drive-thru, Estados Unidos, Paris mas/e é noutro lugar que tudo se passa. Um outro lugar cujo acesso nos é precisamente possibilitado pelo que veio mesmo antes. Uma natureza morta, por exemplo, que é contada em pormenor.
Faz-me lembrar aquela citação que li no Método Schopenhauer de Irvin Yalom: “Quando acordamos a meio da noite desencorajados, os inimigos que tínhamos derrotado há muito tempo voltam para nos assombrar. “Esta citação é vulgarmente atribuída a Nietzsche, mas eu nunca consegui confirmar a fonte, a original.
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Este artigo foi traduzido do original em francês por Redação Artes & contextos
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