
Josefa de Óbidos no MNMC0 (0)
6 de Setembro, 2019
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Por
Maria da Luz Pinheiro
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Também o tempo torna tudo relativo.
Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 3 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.
Josefa de Óbidos – Luz e Sombra
O Museu Nacional Machado Castro (MNMC), foi este ano integrado na lista de Património Mundial da UNESCO. É de facto um motivo de orgulho para o nosso país e para a cidade de Coimbra que já continha nessa lista desde 2013, a Universidade, lugar de passagem fundamental e a Rua da Sofia.
Esta distinção apresentou-se então, como mais um bom motivo para visitar a cidade, e o seu belo museu.
O núcleo museológico que alberga, correspondendo ao Criptopórtico do Fórum de Aeminium, (mais informação aqui e aqui) basta por si para convocar visitantes sejam portugueses ou estrangeiros. Este consiste numa plataforma artificial, que tinha como função sustentar o referido Fórum de Aeminium e que, dada a sua localização conseguiu manter-se inalterado até aos dias de hoje. Foi construído no período romano de Portugal e consistia em galerias onde eram guardados os cereais pelas suas boas características de conservação.
O bom estado desta estrutura está intimamente ligado às obras de renovação do paço episcopal que aí se localizava e que então levou a que o criptopórtico ficasse soterrado em sedimentos.
É fácil para quem vive em grandes cidades da orla costeira de Portugal como Lisboa, Porto ignorar o que se encontra a acontecer no mundo da arte em locais que por vezes se localizam no interior do país. Ainda assim, é urgente acabar com essa perspetiva litoral vs interior que se tem vindo a solidificar na nossa sociedade, porque são múltiplas as iniciativas que se têm vindo a criar noutras cidades ou vilas sejam estas: festivais, exposições temporárias, bienais, etc. E, por vezes, acabamos por nos surpreender com a qualidade das exposições e movimentos artísticos que encontramos pelo nosso país adentro.
É este o assunto que, para além da congratulação pela distinção da UNESCO, nos traz ao Museu Machado Castro: o ótimo trabalho que se tem vindo a realizar.
Falamos neste caso, da exposição temporária (ainda que pequena), localizada no percurso de visita habitual. Trata-se de Josefa de Óbidos : Luz e Sombra e integra-se na rubrica criada pelo museu, na qual se pretende estabelecer relação com várias instituições, da cidade ou não.
Encontramos então diversas peças, provenientes de múltiplos locais como o Mosteiro de Celas, Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), entre algumas outras coleções.
É de realçar esta parceria com outros equipamentos culturais, já que permite dar às pessoas que visitam apenas um espaço, não só razões para se deslocarem aos locais de origem das peças, mas também entender que elas não estão estanques em salas contemporâneas e coexistem entre si criando leituras específicas.
Fica, no entanto, a ressalva, com muita pena nossa, da falta de um catálogo.
Pensar Josefa de Óbidos é pensar na influência espanhola de seu pai, mas sobretudo na sua fidelidade a si mesma. Esta exposição trata-se por isso, de um ótimo momento para obter uma nova visão sobre a obra de Josefa de Ayala.
Os suportes são múltiplos, e isto é algo muito importante de sublinhar, porque estamos habituados a ver as obras de Josefa de Óbidos essencialmente a óleo sobre tela/madeira e em grandes dimensões quando realmente há muito mais: temos também miniatura, gravura, e dimensões várias.
Chamamos a atenção para o cuidado que os curadores tiveram em colocar lupa para as miniaturas que apresentam e uma ótima iluminação.
O lusco-fusco é fundamental para apreciar pintura barroca, a ultra iluminação que encontramos em muitos museus pode parecer-nos natural, mas nunca é demais relembrar que estas obras eram pintadas com iluminação de velas.
Aliás, Chantal Brotherton-Ratcliffe, uma estudiosa de pintura barroca que leciona na Faculty of Sotheby’s Institute of art desde 1989, sugere, numa entrevista em 2018 a Tom Marks, editor de The Apollo Podcast (aqui), o recurso a uns óculos de sol para apreciar a pintura barroca. Pode talvez parecer uma piada, mas que para nós faz todo o sentido, já que quanto mais luz, menos as pinturas ditas tenebristas funcionam
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A exposição estará patente até 29 de setembro, significando que ainda há tempo para a visitar. Até porque ter encontro marcado com a Josefa de Óbidos é sempre um encanto e um prazer. E, depois desta visita, talvez queira fazer uma visita aos locais de onde provêm as obras enriquecendo a experiência e realizando novas descobertas.
Leia também: Josefa de Óbidos – a presença feminina na pintura portuguesa, no A&c
Licenciada em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa. Apaixonada por histórias contadas na imagem, literatura do século XIX e artes decorativas. Defensora da liberdade no mundo da arte.
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Sobre o Autor
Licenciada em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa. Apaixonada por histórias contadas na imagem, literatura do século XIX e artes decorativas. Defensora da liberdade no mundo da arte.