Finale – de Søren Juul Petersen
Uma bomba de gasolina isolada numa autoestrada, duas funcionárias e o turno da noite: o contexto para uma história que só poderia correr mal. Servindo o propósito a este velho clichê, Finale oferece ao observador uma mistura louca, quase alucinogénica de sentimentos, dá a volta ao estômago e ainda irrita.
Søren Juul Petersen, na sua primeira visita ao MotelX, presenteia-nos com o seu mais recente filme. Um homem no ecrã, aborda diretamente a audiência, deixando uma advertência bem clara: se não quiserem ver o se segue, têm bom remédio. A personagem abre o prólogo, levando-nos a entrar num daqueles circos sinistros, onde só o terror impera.

Agnes (Anne Bergfeld) e Belinda (Karin Michelsen) trabalham juntas na bomba de gasolina, cujo proprietário é pai de Agnes. Esta, está a terminar o curso em psicologia, e divide-se, nesta noite, entre estar na loja, e nas traseiras, a estudar. A certa altura, dois indivíduos entram na loja, agindo de uma forma extremamente desrespeitosa, sendo que um deles filma Agnes, contra a sua vontade. Esta convida-os a sair, sob a ameaça de chamar a polícia. Mas, as visitas não acabam, e outro homem (Damon Younger) entra na loja, cumprindo, na perfeição, o estereótipo do creep.
Agnes, que apesar de sobressaltada, prefere racionalizar, fica alarmada pela sua colega Belinda, que com o passar de uma sucessão de eventos estranhos – as visitas constantes do mesmo duo, a bomba de pressão aparecer sempre no mesmo sítio, apesar de ter sido de lá retirada, e a visita do seu namorado Kenny (Mads Koudal) – levam a que ambas comecem a olhar por cima do ombro.

Kenny, volta à loja, mas desta vez esfaqueado, e concomitantemente, o namorado de Agnes, Benjamin (Kristoffer Fabricius), médico, surge na loja. No meio destes acontecimentos, e sem explicação clara para tal, criando um time gap meio esquisito, no meio da trama, Agnes e Benjamin surgem numa cave, atados a uma cadeira. Anteriormente, o filme já tinha oferecido alguns flashes de Agnes, dentro de um compartimento escuro, e cheio de baratas, coberta de sangue, e a tentar fugir.
O casal é torturado, física e psicologicamente pela personagem interpretada por Damon Younger, o creep da loja, e que personifica um apresentador de um programa de entretenimento. Petersen pegou na ideia do Big Brother, e na atualidade puramente digital, onde tudo vai parar aos meandros da internet, e criou um show, transmitido na web, onde pessoas são torturadas, com direito a audiência em estúdio.
No Q&A, o realizador explica que os comentários, que vão aparecendo do canto direito (vista do observador) do ecrã, durante a suposta transmissão online, foram retirados da internet, de diferentes sites e contextos.

Muito sangue e muito gore: daqui para a frente, agrafar narizes, caras, peitos, arrancar pernas, espetar mamilos, vale tudo. Numa brutalidade extrema, com cenas loucamente gráficas, é de louvar a atuação de Berger e Andersen, que incorporaram a dor e o sofrimento de uma forma genial.
A história, limitada a pouco mais de 24 horas, poderia ter sido mais desenvolvida em certos aspetos, nomeadamente neste show, que Petersen criou, e cuja personagem do apresentador podia ter sido mostrada, de uma forma mais complexa, ao espectador, que ficou mais tempo a olhar para duas raparigas numa bomba de gasolina, com tempos mortos, sem qualquer suspense ou ação. Perdeu em muito na falta de apalpar terreno naquilo que mais caracterizou o filme: a tortura e o programa, sem dúvida, sádico. A personagem, estonteantemente bem desempenhada por Younger merecia uma maior atenção e foco.

Um filme longe de chegar à categoria de um “Saw”, perdeu muito pelas inconsistências temporais, e por um plot fraco. Não obstante, a estética é extremamente interessante, e atenção dada à mesma é incrível, tendo em conta que o budget foi muito baixo.
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Um filme daqueles que agonia, e pode não agradar, até mesmo aos fãs do género. Finale é brutal e brutaliza.
Veja Finale no IMDB
Licenciada em História da Arte, apaixonada por arte e fotografia, com o lema: a vida só começa depois de um bom café, e uma pintura de Velázquez.
Quanto a mim, o maior pecado do filme reside na sua errática e atabalhoada estrutura cronológica (as inconsistências temporais que o artigo assinala). Durante os primeiros cerca de 2/3 da película, a história inicial, na bomba de gasolina, é periodicamente interrompida por cenas que nos mostram acontecimentos posteriores. Esta decisão prejudica gravemente a escalada de tensão, dado que retira o elemento surpresa. Porque não uma estrutura temporal linear? Parece que o realizador não confia na maturidade do espectador para deixar fluir naturalmente a narrativa, preferindo atirar-lhe, desde muito cedo, “bocados de gore”.