
Na Sombra da Lei (Dragged Across the Concrete)0 (0)
11 de Julho, 2019
Na Sombra da Lei (Dragged Across the Concrete), produzido em 2018, chega hoje às salas de cinema portuguesas. Da produção e argumento de S. Craig Zahler (1973-), nasce um filme neo-noir influenciado pela corrente do mundo de crime de muitos outros filmes de que Taxi Driver é um exemplo, e uma referência para o realizador.
Conhecido por produções como Brawl in Cell Block 99, Zahler no seu mais recente trabalho apresenta-nos uma produção que assenta em duas figuras fundamentais: Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), mas quem nos é apresentado nos primeiros minutos do filme, é uma terceira figura igualmente importante: Henry Johns (Tory Kittles).

Na Sombra da Lei Mel Gibson e Vince Vaughn
No que é típico num filme neo-noir, nenhuma das personagens apresentadas é totalmente inocente: Brett e Vince, são dois detetives da polícia judiciária, que embora suspensos, decidem usar o seu muito tempo livre para investigar de forma ilegal e pelos seus próprios meios o caso que aqui nos traz. Do outro lado da história temos a família de Henry, cujo irmão se encontra numa cadeira de rodas devido a um acidente e uma mãe que não tendo dinheiro suficiente para sustentar a família, recorre à prostituição. Henry também não é nenhum santo, e o filme inicia com o retorno dele às suas origens, ao seu lar, após ter cumprido uma pena na prisão. Esta é, aliás uma história de equilíbrio constante entre o bem e o mal.

Na Sombra da Lei Tory Kittles e Myles Truitt
Na Sombra da Lei é um filme que não se preocupa com pudores, apresenta-nos uns Estados Unidos da América (EUA) que se deveria ser, segundo o famoso slogan Land of free and the Home of the Brave, na visão do realizador, acaba por ser tudo menos isso.
Levando-nos ao mundo da descriminação racial, tema tão atual dadas as situações sociais que o país vive, bem como aos problemas da droga e seu tráfico, retrata estes temas friamente, mostrando-nos a vida num bairro pobre, da família de Brett, que reflete as posições deste polícia e da sua mulher (também ex-polícia) nas questões raciais e no reverso através de Henry.

Na Sombra da Lei Tory Kittles, Vanessa Bell Calloway, e Paul Rogic
Sendo passado no mundo do crime este não é o filme que retrata o sonho de viver nos EUA, mas sim o pior do que isso eventualmente pode implicar.
Trata-se de um filme bastante longo, com quase três horas, ao longo das quais o desenvolvimento das personagens é bastante lento. Podemos defender que esse desenvolvimento não necessitaria de tanto tempo, e algum é perdido com pequenas storylines que têm pouco efeito na história. As decisões de cada uma das personagens levam muito tempo a serem tomadas, e isso pode cansar o espectador que espera uma resposta mais rápida por parte dos intervenientes. Ainda assim, Zahler defende que o filme foi realizado com uma economia de meios que é notória ao longo do filme, sendo de louvar o resultado.

Na Sombra da Lei Mel Gibson e Udo Kier
Por isso temos cenas simples, diálogos práticos, que por vezes podem roçar o que esperávamos nos anos 50 e não em 2019, mas que não destoam do objetivo do diretor. Dizemos isto, porque não temos grande complexidade nas personagens, em termos psicológicos, levando a que muitas vezes o modo como se expressam através do roteiro seja fora do esperado.
Devemos, no entanto, destacar com louvor o modo claustrofóbico com que os interiores são filmados, recorrendo apenas a focos dos vários candeeiros, que acentuam bastante bem a intensidade do drama, contrastando esse efeito nos interiores com a amplitude dos exteriores, e combinando muito bem.
O resultado da história pode muito bem não ser o esperado, ou ser mesmo surpreendente, mas apesar de algumas decisões tomadas pelas personagens serem muito questionáveis se transpostas para uma situação real, não é também desse questionamento que afinal vive o cinema?
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Veja, Na sombra da Lei no IMDB
Estreia: 11 de Julho
Licenciada em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa. Apaixonada por histórias contadas na imagem, literatura do século XIX e artes decorativas. Defensora da liberdade no mundo da arte.