Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
in Livro do Desassossego.
Um encontro feliz num dos mais célebres bares anglófonos na capital, o British Bar, levou-me a conhecer Zé Ferraz, um artista desta Lisboa nossa, que no passado dia 18 de Maio celebrou os seus 57 anos, e por essa ocasião vendeu-me seis desenhos. Só quero ir para casa comer e dormir… Estou exausto! Deus vos abençoe…, foram as últimas palavras que proferiu antes de sair do bar.
Os belíssimos desenhos falam por si. Com uma inspiração declarada de Almada Negreiros, o seu traço tão próprio e espontâneo é sintomático da paixão que nutre, passando-a da caneta para o papel. Ator de cinema francês, disse-nos, teve de abandonar as câmaras e os guiões, depois do diagnóstico de bipolaridade, problemas respiratórios e de fala.
Um homem encantador, com tristeza no olhar, mas beleza nas palavras e no amor que transmite na sua arte. Pelas ruas de Lisboa, vagueia, com um cigarro na mão, um fraque e gabardina, e um chapéu pessoano. Caminha com o seu bloco de papel cavalinho A4, enquanto procura um olhar interessado no que na sua mão traz. Emana bondade, e faz indagar, querer saber mais sobre ele.
Ajuda-nos a manter viva e disponível a todos esta biblioteca.
Dois desenhos de Fernando Pessoa, Eu sou aquilo que Eu Sou!… num deles, e uma figura feminina estilizada. Cada desenho ostenta a sua assinatura. A beleza estética em nada suplanta a alma e a aura destas obras. Um artista deveras intrigante…
Um belo encontro, inusitado e inesperado, espontâneo e que aquece a alma e o coração. Descobri ter um pseudónimo, mas não cheguei a saber qual. Talvez alguém mais, nessas ruas míticas de Lisboa o venha a descobrir… para já, é o Zé Ferraz.
Licenciada em História da Arte, apaixonada por arte e fotografia, com o lema: a vida só começa depois de um bom café, e uma pintura de Velázquez.
O pseudónimo/ nome artístico do José Ferraz é Yvens.
Diz ser da família Ivens Ferraz