A constante evolução tecnológica tem ao longo dos tempos, capacitado de forma positiva os elementos base de qualquer projeto musical tais como instrumentos, letras, pessoas e máquinas. Outro aspecto importante são as tendências socioculturais do espaço social que os envolve e que se vão tornando cada vez mais complexas. À medida que a globalização foi avançando houve uma tendência natural para todos estes elementos se mesclarem e proporcionar uma infinidade de escolhas para quem quer abraçar novos projetos.
É nesta salada global que o projeto TEM.PÔ vem buscar de forma didáctica, como se de um jogo se tratasse, tempos e contratempos, espaços e “contra espaços”, utilizando dois dos elementos mais antigos que a humanidade utilizou desde o início dos tempos, a voz e a percussão. Mais simples não podia ser.
O projeto nasceu tendo como interesse e base comum o ritmo e a percussão. Rui Aires e Tiago Araújo decidiram há dois anos formar um projeto musical centrado nos instrumentos de percussão tradicional. Estes instrumentos seriam a voz principal do projeto ao contrário do que costuma ser habitual. Para além disso pretendiam também que o projeto fosse performativo.
Mais tarde entraram para o projeto mais dois percussionistas Tiago Ramos e Paulo Charneca, passando o grupo a um quarteto que passo a apresentar:
Rui Aires – É músico (percussão e voz), compositor, produtor, técnico de som freelance para multimédia, vídeo e cinema independente. É formador na área das novas tecnologias aplicadas à música e tem vários projetos musicais em curso de entre os quais se destacam “Charanga”, “Gaiteiros do Asfalto” e “Andarilho 2.0”. Enquanto produtor musical tem já 5 discos editados: “Borda Tu!” (Charanga – 2013), “Restolhar” (Onda de Pressão – 2014), “Semblanzas” (Silné – 2015), “Andarilho 2.0” (Andarilho 2.0 – 2015) e “Tribut’ó Ti Tobias” (Charanga – 2016).
Tiago Araújo – É percussionista, compositor, professor de percussão e freelancer. A sua formação como percussionista foi na Escola Profissional Metropolitana, onde completou um curso de 3 anos. Ao longo desse tempo realizou inúmeros Workshops e concertos pelas “Percussões da Metropolitana” e “Orquestra de Sopros da Metropolitana” nas mais variadas salas de espetáculos do país. É membro da banda “Orquestra de Foles” constituída por gaitas de foles e percussão e do grupo “Canções de Labor e Lazer”. Com ambos gravou CDs de estúdio e atuou em espetáculos por todo o país. Em várias ocasiões tem participado em espectáculos como percussionista convidado em grupos como “Tocá rufar”, “Seiva”, “Charanga”, e “BaLaGan BeaT”. Em Almada na cidade onde vive criou um projeto performativo de percussão, de seu nome, PORBATUKA ALMADA, com início em Julho de 2017.
Tiago Ramos – Iniciou os seus estudos no Clube Recreativo da Cruz de Pau. Mais tarde ingressou no Conservatório Regional de Palmela, na classe de percussão, onde concluiu o 4º grau de conservatório. Mais tarde completa os seus estudos na Escola Profissional da Metropolitana (EPM), em Lisboa. Após concluir os estudos na EPM, prosseguiu na Academia Nacional Superior de Orquestra no curso de Instrumentista de Orquestra na especialidade de Percussão. É músico de reforço na Orquestra Metropolitana de Lisboa, em inúmeros programas, e também na Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian. Ao longo deste percurso participou em vários masterclasses com percussionistas e bateristas exímios. Atualmente tem atuado como o percussionista na companhia de espetáculos ArtFeist, onde já conta com vários espetáculos como “Next To Normal” e “Let the Sunshine In”.
Paulo Charneca – É percussionista e tem uma longa experiência de 13 anos no grupo “MAYUMANA”, atuou um pouco por todo o mundo em mais de 2.500 espetáculos. Foi também responsável por alguns projetos sociais em Israel, durante 4 anos ensinou e fez sorrir cerca de 6.000 crianças a maioria com problemas psicológicos e familiares. Ensinou a sua arte em mais de 25 escolas em Portugal durante 8 anos. Tocou em alguns grupos musicais como: Tocá Rufar e Aduf. Mais recentemente fundou o projeto de percussão BaLaGan BeaT e é membro dos Gaiteiros de Lisboa. Formou-se no Hot Club Escola de Jazz e também com alguns professores privados.
O A&c fez algumas perguntas ao projeto TEM.PÔ:
A&c – Quais os objetivos que pretendem atingir e o que desejam que aconteça daqui para a frente?
TEM.PÔ – Neste projeto queremos que a percussão seja a voz principal. Que as caixas ao rufar, os bombos ao ecoar, as pandeiretas a tinir e os adufes a ressoar, todos eles falem. Sim, porque têm todos algo que dizer e estórias para contar. Ao mesmo tempo que tocamos há também uma componente performativa, de certa maneira teatralizada. Com a nossa interação em palco e com o público temos por objetivo ajudar a transmitir a história, estórias e culturas que conhecemos. Num ambiente divertido esperamos contagiar as pessoas que nos ouvem e vêm e que, de alguma forma, seja uma experiência enriquecedora.
Neste momento somos pouco mais do que percussionistas com um repertório em construção e com muitas ideias para pôr em prática. Por exemplo: um tema em que os jogos tradicionais, como a macaca, as lengalengas acompanhadas com palmas, as corridas de sacos, saltar à corda e outros, servem de mote e de ritmos que constroem um tema; à volta do percutir dos “palos” dos pauliteiros tenta-se fazer uma construção musical que nos remeta para as suas danças e cantares; com os utensílios de trabalho e do quotidiano tentamos representar as cantigas que ajudam a passar o tempo e que alegram vida de quem muitas vezes sofre no trabalho e muitas mais que ficam por contar.
A&c – Há alguma intenção pedagógica no projeto?
TEM.PÔ – Neste momento ainda não estamos a desenvolver essa componente, mas sim, temos em mente ter uma vertente pedagógica que se vai materializar em ações como, oficinas para crianças, e adultos. Tanto em contexto escolar bem como empresarial.
A&c – O que pretende trazer de novo ao universo da percussão?
TEM.PÔ – Pegando nos nossos conhecimentos individuais e na tradição oral portuguesa queremos que este projeto seja o mais original possível, no sentido de trazer algo de inovador e diferente ao panorama musical português. Mas é certo e sabido que ninguém nunca inventa realmente nada, todo o trabalho, seja ele qual for, em especial o artístico, assenta sempre numa base que nos foi transmitida pelos que nos precederam e mesmo pelos nossos contemporâneos.
A&c – Relativamente ao canto vão andar pela tradição oral ou poderá haver letras originais?
TEM.PÔ – Já temos temas em que usamos letras tanto da tradição oral como originais.
A&c – Podem referir alguns projetos, outros trabalhos baseados em percussões e canto, que vos tenha influenciado?
TEM.PÔ – Projetos como Tintim por Tintum, Adufe, Retimbrar, Coetus, Mayalde e Mayumana, apenas para citar alguns, são grandes referencias para nós.
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A&c – Como é ser-se percussionista em Portugal nos dias que correm?
TEM.PÔ – Individualmente cada percussionista terá o seu trajecto com mais ou menos sucesso tanto nível de reconhecimento, como económico. Uns terão mais trabalho e outros menos. No entanto, a percussão enquanto forma de expressão musical não está muito desenvolvida no nosso país. Tirando alguns projetos como Tintim por Tintum, Adufe, ou Retimbrar, sabemos que em Portugal ainda há algum trabalho a desenvolver neste campo.
Musico, entusiasta de cordofones que gosta de falar de música, da sua alquimia e do seu indelével sentido cultural.