Imagine-se um pintor que quer descrever as suas memórias e pinta um quadro. Dias depois volta a pintar outro sobre o mesmo tema e vai pintando quadros até concluir sete, que espalha pelas paredes de um labiríntico atelier.
Em Tiranossauro Rex, o pintor é Alex Cassal e os quadros com as memórias espalhados pelas paredes do atelier são performances individuais das varias personagens em variadas salas do grande edifício do Teatro Nacional D. Maria II, que vão desde sala de provas, sala de guarda-roupa, biblioteca, bar dos atores, etc.
A peça é sobre memória e sobre coleções, coleções de factos históricos, – afinal, memórias outra vez, – e são-nos contadas pelos espaços do teatro repletos eles próprios de memórias e de recordações, de um edifício que atravessou séculos da História do Teatro e da História de Portugal.
Sete personagens partilham individualmente memórias coletivas. São membros da mesma família… talvez.
Na primeira cena, vão à vez despejando factos, científicos, culturais, históricos que todos conhecemos, ou nem por isso, guardados, fazendo parte da História de cada um, porque os viveram, acompanharam na imprensa, leram nos livros de História, ou ouviram contar.
Cada uma das personagens escolhe depois um grupo de espectadores para a acompanharem, num passeio pelos corredores e escadas, das entranhas do edifício do teatro, parando consecutivamente em cinco dos sete quadros criados pelo autor.
Em cada um deles, as mesmas memórias são expostas em fragmentos pelo seu protagonista, ou por alguém dos que as presenciaram.
E as memórias estão sujeitas à erosão do tempo, à influência de outras memórias, a interpretação e “tradução>” pessoal. No fim, o próprio espectador vai receber esses fragmentos e também os sujeitará a si próprio, emoldurá-las-á nos seus momentos e nas suas próprias memórias.
E há discrepâncias, lacunas e até contradições porque a memória é como um organismo vivo e desenvolve-se, não para no tempo que a acolheu e sofre transformações nas mentes dos seus guardiões, todos eles diferentes, cada um com as suas cores para um mesmo quadro.
Diz-nos o autor e encenador – um colecionador de histórias – que são pedaços da sua vida, da sua família, de amigos, de conversas que ouviu num bar… “imagens de um quebra cabeças que reúne peças de outros quebra cabeças e eu como que tento encaixá-los num pedaço de nuvem”.
No final, cada um de nós sai com uma memória daquelas memórias e presumivelmente, cada um de nós contará uma história diferente do que acabou de acompanhar.
Ficha artística
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Texto e encenação Alex Cassal
Com Alfredo Martins, António Pedrosa , Cláudia Gaiolas, Márcia Lança, Marco Paiva, Paula Diogo e Tónan Quito
Nota: Os espectadores com menos desenvoltura motora, não usarão as escadas, mas serão acompanhados por elevador.
Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.