Chocolate começa com um long shot do norte de França, na última metade do século XIX. Até ai, o filme podia ser qualquer coisa, mas à medida que a câmara se aproxima, vemos que o verdadeiro enfoque da história é afinal o circo.
A narrativa simples do filme de Roschdy Zem conta a história de dois artistas de um circo itinerante de França, Georges Foottit (James Thiérrée) e Rafael Padilla ou Chocolate (Omar Sy), desde o momento em que se juntam, até ao fim das suas carreiras. Com especial destaque para a vida de Rafael Padilla, o primeiro artista de circo negro, numa Paris burguesa.
O brilhantismo da obra vai para além do facto de se tratar de uma história real. A revelação da belle epoque apresentada no filme, mostra-nos também o fascínio das principais evoluções artísticas e científicas de uma época, retratadas de forma inteligente nesta produção, desde os irmãos Lumière, às primeiras vacinas.
Ajuda-nos a manter viva e disponível a todos esta biblioteca.

A força de Chocolate varia no entanto noutro sentido, apesar das cenas belas de Paris do século XIX e do elegante guarda-roupa, a história de Chocolate (artista) é o ponto principal do filme. Um homem talentoso, mas com vários vícios que se revelam prejudiciais, entre eles, o do jogo e da bebida, conferem-lhe uma certa ingenuidade tornando-o um personagem fragilizado pelas circunstâncias. À medida que a história se desenvolve percebemos que a Paris do séc. XIX talvez não estivesse preparada para receber Chocolate nem no Cirque Noveau, ao lado de Foottit, nem nos palcos do Theatre Augustine, com Otelo. Por outro lado, estaria Chocolate preparado para ser a cara da mudança na sociedade francesa da época?…
Um filme que vale a pena ver, interessantíssimo do ponto de vista das relações tóxicas, do preconceito racial, intelectual e de género, e sobre o qual vale a pena refletir.