Nova criação

“Nova criação” no TNDM
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12 de Setembro, 2016 0 Por Rui Freitas
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Também o tempo torna tudo relativo.

Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 7 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.

Nova criação é uma peça de encontros feitos desencontros.

É uma busca filosófica que pode parecer supérflua, ingloriosa de um futuro que já passamos ou que nos magoa no presente, ou a correção da realidade num mundo “daqui a mil anos”, para poder ser plausível ou aceitável como um desejo vestido de sonho, que se impõe por mais nada fazer sentido. A busca de um futuro capaz de realizar o presente falhado que já foi também futuro desejado e sonhado. E fracassou.

Concebido, escrito e encenado por Ágata Pinho, esta é uma obra de Ficção Científica intertextual, quiçá com as alucinações de K. Dick ou as utopias de Heilein, mas terrena e em que o fluxo do tempo, pelo diálogo abandona a linearidade, e ao diálogo se subjuga. Um diálogo que passa por dois monólogos e por um monólogo a duas vozes.

Vindas não se sabe de onde as duas personagens sem nome, incarnadas por Lígia Soares e Sónia Baptista, são incumbidas de escrever uma história de ficção científica a partir da sinopse de um livro escrito nos anos 70 por uma autora portuguesa. Ao mesmo tempo recebem as parcas instruções em voz-off da enigmática e silenciosa Diana Combo, que maneja em dois pratos, discos de vinil que “libertam” o ambiente sonoro minimal em pleno acordo com a cena.

Depois de muitas divagações sem uma resposta, sem um fio, numa busca infrutífera de um curso para a história, apoiadas apenas na curta sinopse, as personagens libertam-se daquela e iniciam então uma marcha verbal de divagações, só aparentemente perdidas, num manifesto social, ora utópico, ora pragmático, mas sempre lúcido, pelos direitos das mulheres.

Chamam futuro ao passado, encontram no passado exemplos que nunca existiram para celebrarem um futuro idealizado de desejos presentes, concretos, enigmáticos ou visionários. Perguntam-se, questionam-se, duvidam, acreditam, imaginam, lembram; numa busca, no fim otimista, de quem se prepara para construir um mundo novo ou reescrever a estrutura da sociedade. Como se fosse possível esquecer.

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A partir de um bom texto, arrojado e com momentos tragicómicos, de fuga a paradigmas sociais e de encontro a eles, moldado em perguntas que se calhar não esperam resposta, as personagens em palco servem-se de uma linguagem corporal intensa e expressiva, para em jogo constante com a luz de cena, lhe oferecerem ritmo e enquadramento poético.

 

 conceção, texto e encenação Ágata Pinho
 cocriação e interpretação Ágata Pinho, Lígia Soares, Sónia Baptista, Diana Combo
 cenografia e figurinos António MV
 desenho de luz André Calado
 sonoplastia Diana Combo
 vídeo e fotografia Kate Saragaço-Gomes

 

 

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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.

Jaime Roriz Advogados Artes & contextos