Ajuda-nos a manter viva e disponível a todos esta biblioteca.
Na época em que os Plexus introduziam o free jazz em Portugal e a Anar Band dava às novas correntes jazzísticas que sopravam dos Estados Unidos e da Europa um cunho electrónico, havia uma revista de banda desenhada que, tal como a música, veio virar tudo do avesso no nosso país: chamava-se Visão. Não por coincidência, porque nestas coisas da criatividade não há fronteiras, os dois nomes maiores da inovação na música da década de 1970, líderes dos grupos acima mencionados, tiveram trabalhos seus naquela publicação, Carlos “Zíngaro” e o já desaparecido Jorge Lima Barreto – um com os seus característicos bonecos desfigurados, inspirados em Francis Bacon, o outro com apropriações de imagens a acompanharem textos de sua lavra, à maneira do que os pensadores da Internacional Situacionista faziam então.
Pois acaba de ser publicado, pela Chili Com Carne, um livro intitulado “Revisão” que reúne uma selecção de BDs daquela revista histórica, com inclusão dos referidos “Zíngaro” e Barreto e de autores como António Pilar, António Pinho, Bruno Scoriels, Carlos Barradas, Carlos Soares, Fernando Relvas, Gracinda, Isabel Coutinho, J.L. Duarte, João Manuel Barroso, Máro Henrique Leiria, Nuno Amorm, Paralta & Zé Baganha, Pedro Massano, Pedro Potier, Tito, Zé Paulo (R.I.P.) e Zepe .
Como anuncia a própria editora, este foi o tempo da BD «psicadélica, urbana, cósmica, mórbida, erótica, pessimista, ácida e crítica», tão «yin e yang como foi a década» em que aconteceu o 25 de Abril. Uma coisa é certa: a Visão tinha tudo a ver com o que faziam “Zíngaro” com músicos como Rui Neves (hoje o director artístico dos festivais Jazz em Agosto e Jazz im Goethe Garten), Paulo Gil (agente e programador de festivais, designadamente o Seixal Jazz) e Francisco Trindade (agora conhecido como Monsieur Trinité, percussionista que ouvimos em projectos próprios ou com Sei Miguel e Ernesto Rodrigues) e Barreto com Rui Reininho (depois convertido a vocalista da banda de pop-rock GNR) e, em ocasiões, com Saheb Sarbib (contrabaixista franco-argelino nascido em Portugal e depois naturalizado norte-americano) .
Mais: esta releitura do que foi a Visão ilumina o trajecto posterior de Carlos “Zíngaro”, até se tornar no ícone da música improvisada, da ilustração e da pintura que é actualmente, e o legado que nos deixou Jorge Lima Barreto, não só musical como também teórico…
O Artigo: Regresso ao tempo dos Plexus e da Anar Band, foi publicado em Jazz.pt
The Post: Regresso ao tempo dos Plexus e da Anar Band, appeared first on Jazz.pt
Assinados por Artes & contextos, são artigos originais de outras publicações e autores, devidamente identificadas e (se existente) link para o artigo original.