Música sem limites, nem fronteiras.
Ainda há pouco tempo aqui em Artes & contextos publicamos um artigo sobre o egípcio virtuoso tocador de Oud, Joseph Towadros, e sobre o seu mais recente disco World Music no qual toca uma guitarra portuguesa.
Invertemos os papéis e estivemos à conversa com Nuno Silva, um português que elegeu instrumentos como o Oud e o Santur Persa para a sua expressão musical, e um dos fundadores do projeto Addūcantur.
No decorrer da conversa que tivemos com o Nuno ficamos a saber que a história dos Addūcantur começou no Porto, por volta dos anos 2007 e 2008. José Correia e o Nuno Silva começaram a tocar juntos ocasionalmente e descobriram algumas influências e gostos musicais em comum. Numa primeira fase o projeto teve como motivos de interesse a sonoplastia e a poesia; o foco era o enquadramento musical baseado no significado íntimo da mensagem poética. O José Correia no início escrevia os poemas e também os declamava, mais tarde convidaram a Tânia Seixas para a declamação, e foi nesse momento, em que começaram a convidar outras pessoas, que o projeto Addūcantur começou a ganhar forma e sentido.
Perguntamos-lhe como é que em Portugal acontecem estas coisas de se estudar e tocar instrumentos tão longínquos como o Santur Persa e outros não tão distantes, mas ao mesmo tempo estranhos à nossa cultura como o Oud. Viajar é uma das formas de lá chegar, numa viagem que o Nuno fez à Grécia comprou um Bouzouki para juntar aos bandolins, cavaquinhos e guitarras que já tinha, e iniciou assim a sua (e do grupo) internacionalização “cordófonica”. Esta internacionalização viria a ser expandida com um Santur Persa, emprestado pelo José, que por sua vez lhe tinha sido oferecido por uma amiga, neste caso a Luíza Bragança, após viagem ao médio-oriente.
Na consolidação do seu trabalho, o José e o Nuno, tendo como ponto de partida a guitarra clássica e os cordofones étnicos, foram fixando as suas composições com um carater erudito, um pouco ao jeito de Brouwer, Villa Lobos, Bach, etc. O estilo de composição é assumidamente original e esse é um dos pontos mais fortes deste grupo, desenvolvem ideias complexas num contexto estético inovador com a esperança de lhes ser reconhecida essa capacidade.
Já com a Luíza Bragança, pianista de formação clássica, com o Sergio Henrique, um percussionista de características étnicas e a cantora Eloísa d´Ascensão, gravaram a EP Semente.
Ao longo destes anos deram vários concertos em Portugal, tais como no festival Islâmico de Mértola, no museu de Lamego e na casa da Musica no Porto, apenas para citar alguns.
Em 2016 lançaram o seu primeiro registo de longa duração, Mosaico, solidificando assim a formação atual do grupo.
Elementos do grupo (pela ordem da foto de “capa”) e os instrumentos utilizados em Mosaico:
Luiza Bragança: Piano
José Correia: Guitarra Clássica, Duduk
Eloísa d´Ascensão: Voz, Letras
Sérgio Henrique: Hand Pan, Tar, Riq, Udu, Percussões
Nuno Silva: Santur Persa, Baglama, Oud
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Addūcantur vem do Latim, é uma conjugação verbal na terceira pessoa que significa em português trazer, advir, intermediar, numa perspectiva de vanguarda. Vanguarda é talvez o termo que melhor encaixa nesta “entidade” musical que une três mundos, a música erudita, a música étnica e a língua portuguesa para nos dar um “admirável mundo novo”. O José Correia e a Luiza Bragança assumem a componente clássica e erudita, o Nuno Silva e o Sergio Henrique a componente étnica e mais tradicional, e a Eloisa d´Ascensão escreve e canta em língua portuguesa.
Como caravanas a atravessar o deserto continuam a ser lançados em Portugal discos que só os mais atentos conseguem distinguir na areia, é isso que tentaremos fazer, desenterrar o mais que pudermos o novo disco dos Addūcantur, Mosaico, num segundo artigo a ser publicado brevemente, até já!
Musico, entusiasta de cordofones que gosta de falar de música, da sua alquimia e do seu indelével sentido cultural.