… e tudo começou com a procura incessante do Eu… Aquele sujeito que nos complementa!
Um Ser que coabita com outro dentro de um só corpo. A razão não consegue viver sozinha, sente-se triste e solitária. Para poder ser feliz, necessita da companhia, muitas vezes inconveniente e rebelde, da fantasia e do sonho.
Por esse motivo, num dia de sol e brisa fresca, resolveu criar o Romantismo!
Nasceu na Europa, nas últimas décadas do século XVIII e foi crescendo até ao século XIX. Nessa época, os irmãos mais velhos, Racionalismo e Iluminismo, eram muito sérios, intelectuais, seguiam por caminhos estreitos, sem curvas, porque os mapas assim os indicavam. Estava escrito, comprovado e assim era.
Observavam o irmão mais novo com uma certa desconfiança e superioridade, pois atribuíam fraqueza à sensibilidade, um significado que não lhe cabia.
Romantismo era usado de forma pejorativa associando-o a piegas, demasiado sentimental. Mais tarde, Rousseau mudou o sentido depreciativo ao descrevê-lo como pitoresco ou uma sensação causada ao olhar, algo belo, o que, analisando a fundo, se poderia exprimir como: uma exótica expressão aberta de sentimentos e sentidos.
O Romantismo cresceu e escandalizou. Teve a coragem de se manifestar na primeira pessoa; sonhar; fantasiar; dizer frases nunca ditas, porém pensadas… de ser livre! A liberdade incomoda quem não a conquista…
Era corajoso, expunha sentimentos.
Isto, não significava, em absoluto, que a sua inteligência era diminuta ou inferior à dos irmãos. Não! De maneira nenhuma!
Simplesmente, delineava, na sua maneira de ser e agir, uma diferença notória e uma coragem transparente em assumi-la.
Permitiu-se falar sobre desejos, paixões, amores, dramas e liberdade. Era utópico e melancólico?
Mas qual amor que se preze, não é utópico e não tem seus momentos de melancolia?
O Romantismo mexeu com as convicções dos mais radicais, trouxe à superfície, sensações até então proibidas. Deu asas novas ao pensamento, a todos os níveis culturais. Colou as pontas que tinham sido cortadas.
O cérebro deu permissão ao coração para se exprimir e ficou em silêncio, deliciado, enquanto o escutava. Esse novato falava alto, inflamado, transbordava amor, vontades. Era um arquiteto de sonhos, um escultor de ilusões…
Inquietava os mais tradicionais pela pureza com que gritava a dor e a alegria. Olhava no espelho a nudez dos seus sentimentos e abria a porta para que a pudessem observar… era ele e só ele, na sua essência!
Cresceu, ficou famoso e foi seguido como um grande líder.
Nas Artes Plásticas, o espanhol Francisco Goya, o francês Eugène Delacroix, o alemão Caspar David Friedrich e o inglês John Constable, foram os amigos que nunca o abandonaram.
Na Literatura, as metáforas serviam de comparação para criar imagens que reforçavam a analogia entre as palavras e ideia. Quem lia, mergulhava na história, viajando na imaginação. Houve os poetas ingleses como George Gordon Byron (Lord Byron), considerado um dos mais importantes representantes do romantismo em Inglaterra, um homem de temperamento difícil e escrita impetuosa e revoltada, entre muitas obras, saliento Caim e Don Juan; William Blake, com os seus Cantos e Inocência, místico e polémico, expunha as suas dúvidas e conceitos; abordava temas religiosos. Não afeto ao autoritarismo, professava a sua opinião ao declarar que “não há religião natural e todas as religiões são uma só”. William Wordsworth que desabafava nas suas Baladas Líricas; John Keats, um jovem incompreendido, cujo trabalho só foi valorizado depois da sua prematura morte com vinte e cinco anos. Apesar de poucos anos de vida, foi um dos poetas que mais obras escreveu. Na lápide da sua sepultura, foi gravada uma frase por ele escrita e escolhida para definir a sua desilusão “Aqui descansa um homem cujo nome está escrito sobre a água”; também a ressaltar o nome de Percy Bysshe Shelley aclamado pela crítica, principalmente pelos longos poemas que escreveu, entre eles, Adonais, que dedicou a Keats; Johann Wolgang Von Goethe, alemão, escreveu os Sofrimentos do jovem Werther e Fausto livros importantíssimos, considerados marcos do Romantismo. O primeiro, embora Goethe nunca o tenha admitido, era tido como autobiográfico, já Fausto foi inspirado na vida de um médico, mago e alquimista alemão, Johannes Georg Faust, que fez pacto com o demónio; Em França, Victor Hugo escrevia Os Miseráveis e Alexandre Dumas Os Três Mosqueteiros. Em Portugal, seria Almeida Garrett, com o seu poema Camões, e Camilo Castelo Branco. No Brasil, Gonçalves Dias e José de Alencar, foram os escritores que mais se identificaram com o Romantismo.
Na música também se passou a valorizar mais a liberdade de expressão, emoções e, além disso, todos os recursos que a orquestra poderia oferecer. Tivemos, nesse período, também neste campo, uma riqueza inesgotável de talento de que destaco: Ludwig van Beethoven, Franz Schubert, Carl Maria von Weber, Felix Mendelsohn. Frédéric Chopin, Robert Schumann, Hector Berlioz, Franz Liszt e Richard Wagner.
No Teatro, na dramaturgia, os valores religiosos, o individualismo e o dia-a-dia, são os temas procurados. Goethe de quem já falámos, Frederich von Schiller e Victor Hugo forçaram a inovação. Em Portugal destacou-se Almeida Garrett.
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O Romantismo foi, portanto, um filho que honrou o seu nascimento e perpetuou-se nas obras realizadas! Hoje, o seu sangue corre nas veias de filhos alheios, miscigenado com outros genes…
A diversidade é a maior riqueza e, saber usá-la, é um tesouro inestimável.
A liberdade de pensamento, o peso da emoção e o exagero em exprimi-la, foi a base do Romantismo.
Um poeta é um romântico, um louco são, por amar demais, por não conseguir guardar dentro do cofre do peito tantos sentimentos e sensações que o atormentam ou encantam. Por deixar que transbordem para o exterior em forma de palavras, traços ou notas musicais e depois, extenuado e incompreendido, ainda se sentir feliz… porque sente!
Excelente!