O Impromptu de Versalhes #tndmII Artes & contextos O Impromptu de Versalhes 4

O Impromptu de Versalhes #tndmII
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13 de Abril, 2016 0 Por Rui Freitas
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Também o tempo torna tudo relativo.

Este artigo foi inicialmente publicado há mais de 7 anos - o que em 'tempo Internet' é muito. Pode estar desatualizado e pode ter incongruências estéticas. Se for o caso, aceita as nossas desculpas.

Molière escreveu L’Impromptu de Versailles depois de La Critique de l’École des femmes, na sequência e como resposta às críticas de que vinha sendo vítima relativamente à então polémica, mas de enorme sucesso l’École des femmes, abrindo assim a contenda que ficou conhecida como A Guerra Cómica que o opôs a Montfleury, ao jovem Boursault e a Donneau de Visé, que a seguir escreveria Réponse à l’Impromptu de Versailles ou La Vengeance des marquis.

Nesta obra, que é “uma peça dentro de outra”, como tem vindo a ser apelidada, Molière retrata-se a si próprio e à sua trupe, naquilo que seria um ensaio para uma peça pedida pelo Rei, e para a preparação da qual, dispõe apenas de oito dias.O Impromptu de Versalhes 1

Com vista à comemoração do 170º aniversário do Teatro Nacional D. Maria II que hoje se celebra, a direção artística do teatro convidou Miguel Loureiro a encenar uma obra destinada a estrear neste dia. A escolhida, foi precisamente aquela, uma obra que para além de celebrar a arte do ator e as formas de encarar o reportório, traz-nos uma componente de teatro para lá do público.

Com uma encenação original em vários aspetos, Miguel Loureiro apimenta O Impromptu de Versalhes, com excertos das duas peças que a precederam, no reportório de Molière, A Escola de Mulheres e a Crítica da Escola de Mulheres, e inclui ainda uma entrada baseada em Paradoxos sobre um Comediante de Diderot, tudo composto por uma saudável liberdade de improviso, enriquecendo um espetáculo já por si rico qb.

Mais do que uma, são várias peças dentro de uma peça.

Em cena evolui um leque heterogéneo, em idade e experiência, de atores, que praticamente não param, num cenário móvel minimalista, em que, são os temas musicais de Bach e Händel (e talvez a estilização ainda que minimal dos figurinos) a trazer-nos o Barroco, sem eles difícil de adivinhar. Um espetáculo divertido, capaz de soltar umas gargalhadas à plateia, não apenas pelo texto traduzido por João Paulo Esteves da Silva, mas muito também pela espontaneidade e capacidade de improviso sobretudo de Miguel Loureiro que, ao sabor do momento como confessa, traz por vezes para cena, lazzi inspiradas na sua própria experiência pessoal.O Impromptu de Versalhes 2

Tal como fizera Molière, faz dos atores personagens de si próprios (o que aqui já será em segunda mão), brinca com uma estilização da linguagem com a qual pretende afirmar, ou distinguir o ator; tira comicamente partido de alguma confusão fonética em volta do novo acordo ortográfico e improvisa a partir de temas da atualidade.

Do espectador, espera-se que vá livremente sendo levado por este entrelaçado cénico e textual, e que eventualmente se perca, em direção a um final pautado por algum absurdo molièriano, e um pouco ex machina, como nos confessa o Miguel.

O Impromptu de Versalhes é uma peça divertida, extraordinariamente movimentada, colorida e dinâmica; muito bem encenada. É enfim uma conseguida celebração do teatro do dramaturgo e do ator neste dia de aniversário desta grande casa.

 

 

O Impromptu de Versalhes

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De: Molière
Encenação: Miguel Loureiro

 

 

Fotos de cena de Filipe Ferreira
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Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.

Jaime Roriz Advogados Artes & contextos