Pedro Jóia é um instrumentista ímpar no panorama nacional que impressiona pela capacidade técnica e pela forma apaixonada com que toca.
Iniciou cedo, aos sete anos, os estudos de guitarra clássica na Academia dos Amadores de Música pela mão do professor Paulo Valente Pereira; em 1985 entrou para o Conservatório Nacional onde começou a estudar com o professor Manuel Morais; pouco tempo depois ouviu pela primeira vez Paco de Lucía e nada mais seria como dantes.
Como autodidata começou a sua incursão pelo flamenco mas precisava de ir mais rápido o que o levou a vários cursos e “masterclasses” em Espanha com os guitarristas Paco Peña e Gerardo Nuñes. Terminou o curso de guitarra clássica do Conservatório Nacional em 1990 e continuou a ter no Flamenco a sua inspiração e em Paco de Lucía um farol para o guiar no mar revolto do sonho de ser guitarrista, como o próprio afirmou numa entrevista recente ao diário Sol.
Em 1992 ruma de novo a Espanha para estudar e trabalhar com Manolo Sanlúcar, uma relação que se prolongou durante vários anos. Em 1993 começou a dar recitais passando por vários festivais e em 1996 gravou o seu primeiro trabalho discográfico de nome Guadiano, gravou-o como se fosse um guitarrista de Flamenco e ali podemos encontrar tangos, bulerias e rumbas. Em 1999 gravou Sueste e neste disco podemos encontrar uma versão flamenca do tema Verdes Anos de Carlos Paredes, que por certo foi o tónico para o disco que se seguiria e que iniciava o seu percurso pelo universo português do fado e da guitarra portuguesa.
O disco Variações sobre Paredes saiu em 2001 e abriu um novo capítulo na sua carreira. A partir da guitarra portuguesa de Paredes fez a transcrição da obra daquele mestre para a guitarra clássica a que juntou arranjos próprios, uma obra-prima que lhe abriria portas até então encerradas no seu próprio país.
Começou a depois a sua aventura no Brasil e em 2003 gravou novo disco Jacarandá com as participações de Elba Ramalho, Simone, Zeca Baleiro, Zélia Duncan entre outros e iniciou também a sua colaboração como músico integrante da banda de Ney Matogrosso.
Em 2008 voltou ao universo do fado, mais uma vez às voltas com a guitarra portuguesa quando tendo transcrito e gravado várias canções do génio da guitarra portuguesa Armando Augusto Freire (1891/1946), aka “Armandinho”, famoso pela sua mestria e rapidez de execução. Com este disco, Á espera de Armandinho, ganhou o prémio “Carlos Paredes” 2008. Apesar de não ter gravado mais nenhum disco a não ser o registo do seu concerto ao vivo com a Orquestra Meridional, Pedro tem estado sempre muito activo: com a fadista Raquel Tavares visitou o fado, o flamenco, a música porteña, a música dos bairros de Lisboa e do Magrebe e colaborou com Ricardo Ribeiro quer no seu disco, quer actuando em duo ao vivo.
Mais recentemente tem participado no grupo Resistência e acompanha ao lado de José Manuel Neto a fadista Marisa. Numa nova abordagem da tradição musical do folclore português forma o seu trio, Pedro Jóia Trio.
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A sua guitarra é hoje um livro enorme, cheio de histórias, carregado de sentimento e de entrega, é um livro aberto e interactivo, tem flamenco, fado, tem a música do mestre Paredes e de Armandinho, tem Brasil e Magrebe. Pedro vai brevemente abrir este livro numa digressão que está a preparar para percorrer a China em 2016 com o Trio Pedro Jóia. O trio é composto com dois outros grandes instrumentistas da nossa praça, Norton Daiello no baixo e João Frade no acordeão.
Hoje passados quase 40 anos é o melhor guitarrista português da actualidade e é definitivamente um dos embaixadores da música portuguesa no mundo. É bom que em Portugal saibamos acarinhar e apoiar quem carrega uma guitarra como esta.
Musico, entusiasta de cordofones que gosta de falar de música, da sua alquimia e do seu indelével sentido cultural.