A Caminho do Oeste (Slow West) do escocês JohnMaclean é um western atípico, or vários motivos e talvez por ser contado de fora. Uma visão europeia rodado na paisagem neo zelandesa, onde encontramos dois companheiros de viagem tão diferentes entre si, quanto improvável e mesmo desadequada a sua associação. Um filme que decorre serenamente, salpicado de alguns incidentes, na sua maioria de humor negro, a fazer lembrar aqui e ali a poética dos Cohen. Sereno até explodir nos instantes finais.
O protagonista é Jay Cavendish (Kodi Smit-McPhee), um jovem de 16 anos escocês de origem aristocrática, culto, que encontramos em plena floresta no Colorado de 1870, a ser ameaçado por um soldado da União que se divertia a caçar índios. Jay que milagrosamente chegara ao velho oeste e se mantivera ileso até então ia ao encontro da sua amada Rose (Caren Pistorius) que morava numa cabana algures numa planície daquele estado.
Silas (Michael Fassbender), um pistoleiro – narrador, mas pouco conversador e monossilábico – aparece naquele momento, do qual não se vislumbrava uma saída fácil para o jovem, a salvá-lo de apuros maiores e oferece-se para a troco de dinheiro o acompanhar e proteger.
Finalmente um gangue sinistro liderado por Payne (Ben Mendelsohn), que viremos a saber é o antigo bando de Silas e que ambiciona tê-lo de volta.
Jay aceita renitente a oferta de proteção “por um criminoso”, e quando mais tarde mudou de ideia e resolveu afastar-se dele, a crueldade e falta de escrúpulos dos homens naquela terra de ninguém levaram-no a arrepender-se e a retomar gratamente a parceria com Silas, que por sorte o seguia de perto.
O que Jay que não sabia era que Rose e o pai John (Rory McCann), acusados de um crime – que de facto fora um acidente e pelo qual ele próprio se sentia responsável – tinham a cabeça a prémio por aquelas bandas e as suas caras em cartazes colados nas paredes.
Nem adivinha que Silas está precisamente em busca do prémio pelas cabeças de Rose e do pai e que vê nele a melhor oportunidade do os encontrar; e ainda menos que Payne e o seu bando adivinhando que Silas “farejou” algo importante seguem-no também em busca do prémio.
Na sua lenta viagem eles cruzam-se com andarilhos misteriosos, com um trio de músicos no meio do nada com que Jay fala em francês, com um casal europeu que assalta e mata o responsável por um entreposto comercial; embebedam-se com Payne; acordam debaixo de uma tempestade; e Jay, quando se afastou de Silas, encontrou um afável antropólogo numa carroça que dizia escrever sobre o declínio das tribos indígenas, e que durante a noite o roubou e lhe deixou um ovo e um recado.
Jay à noite sonha a olhar as estrelas, identifica as constelações e imagina o dia em que haverá uma linha de comboio a ligar a Terra à Lua, onde ao chegarmos “a primeira coisa que faremos será eliminar os índios de lá”.
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De quando em quando, vemos flashbacks que nos mostram o incidente “criminal” e os momentos companheirismo entre Jay e Rose que o vê como um irmão mais novo, o que Jay recusa encarar, cego pela paixão. A riqueza em parábolas e analogias pintam o confronto entre crueldade e a inocência, a falta de escrúpulos e a humanidade, ou o poder e a culpa. Há situações ambíguas, como o bando de renegados de Payne adotar as duas crianças órfãs, ou o contraste entre o caráter e os objetivos de Silas, e a sua “paternidade” para com Jay.
O filme cresce em intensidade nos momentos finais, com os três núcleos em rota de colisão, e a estética atinge o seu auge, numa explosão visual e ruidosa do tiroteio brutal, sobre o amarelo dos campos limitando o azul do céu, numa paisagem sem fim. Por baixo do fumo e da destruição, fica a dor de Rose pelo amor que não consegue corresponder a Jay que “tem o coração virado para o lado errado”.
Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.
