Woman in Gold foi o nome dado ao quadro Retrato de Adele Bloch-Bauer I (já que mais tarde passou a existir um segundo Retrato de Adele Bloch-Bauer), de Gustav Klimt, por forma a ocultar a sua origem. O quadro estava na parede de uma sala de um rico apartamento em Viena, morada dos Bloch-Bauer – a família de um rico industrial judeu que fez fortuna na refinação de açúcar – até ter sido roubado pelos nazis aquando da ocupação da Áustria na Segunda Guerra Mundial.
Maria Altman (Helen Mirren, notável), sobrinha de Adele Bloch-Bauer e única herdeira da família vivia em Los Angeles, nos Estados Unidos desde que se viu obrigada a fugir da sua Viena natal, levava uma vida pacata, mantendo a sua pequena loja, e “esquecida” do passado, até que após o falecimento da irmã em 1990 e ao ler algumas cartas em sua posse, lhe veio o quadro à memória. Quadro que para Maria era muito mais do que uma obra valiosa de um pintor famoso, era o retrato da sua querida tia Adele, que se habituara a ver na parede de sua casa, memória da tia que faleceu muito jovem.
Ponderando na hipótese de reaver o “seu” quadro, decidiu aconselhar-se com alguém de confiança e pediu à amiga Pam (Katie Holmes) austríaca, igualmente radicada nos EUA, que mandasse o filho, um jovem advogado, Randol Schoenberg, “Randy” (o cada vez menos surpreendente Ryan Reynolds) falar consigo. Este, que ao conhecer as intenções de Maria ficou cético e acima de tudo desinteressado, passou rapidamente a entusiasta quando soube o valor do quadro, e dispôs-se a tentar pelo menos viajar até Viena para investigar.
Maria, uma senhora elegante e distinta, franca e impulsiva, altiva e rude se lhe desse jeito, achava que reaver o quadro era sobretudo justo, e que por isso o conseguiria, e assim partiu com Randy para Viena, onde tinha jurado não voltar. À medida que se levantavam muros à sua frente e iam convivendo, a simpatia e até o carinho de Randy por ela ia crescendo. Maria começou a abrir feridas e a reviver imagens do passado doloroso, mas que lhe recordavam a família e a tia, e lhe davam força. Randy que começou por se alimentar do entusiasmo dela, acabou a sentir o apelo da sua ascendência austríaca esquecida, como o compositor seu avô, com quem partilhava o apelido Schoenberg.
Maria queria esquecer a Áustria, aquela que “recebeu os nazis com flores e de braços abertos”, e agora confrontava-se com um país que queria esquecer o passado da pior maneira, fazendo de conta que não existiu. Para os austríacos, da-lhe razão seria admitir a submissão seria, como disse Maria assumir-se como vítimas e isso era impensável. Em Viena conheceram um jovem jornalista Hubertus Czernin (Daniel Brühl) que lutava contra a memória que tinha do pai, um adepto do nazismo, que lhes ofereceu ajuda que viria a revelar-se inestimável. Ele avisou-os da dimensão do que os esperava e do quanto os austríacos estariam dispostos a lutar pela sua Mona Lisa, como apelidou o quadro.
Perante a primeira decisão desfavorável depararam-se com um obstáculo de 1,8 milhões de dólares necessários para recorrer da decisão contra o governo austríaco. Maria desistiu, tudo o que tinha eram as poupanças para comprar uma máquina de lavar loiça, mas Randy não aceitou, tinha que continuar, já estava demasiado envolvido e lembrou-se de, nos EUA processar o estado austríaco, o que lhe custou 162 dólares, e encaminhar o caso para o Supremo Tribunal. Quando o caso se tornou mediático e chegou ao Supremo Tribunal, Ronald Lauder, filho de Estée e proprietário da Neue Galerie em Nova Iorque ofereceu a Maria os préstimos dos melhores advogados da área, mas Maria confiava e só queria o “seu” Randy.
No seu périplo enfrentaram a Galeria Belvedere, então “proprietária” do quadro, a Comissão de Restituição das Obras de Arte expropriadas, o Departamento dos Arquivos e o Governo da Áustría no seu Ministério da Cultura que irredutíveis consideravam que a obra pertencia à Áustria e tudo fariam para que assim continuasse, e finalmente o Departamento de Estado e o Supremo tribunal norte americanos.
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O tempo passava e Maria cansada, sentia que perdera, e que a vida tinha que continuar em frente, mas foi então “Randy” que já tinha atingido o ponto de não retorno que a “levou” consigo e lhe deu forças, para irem até ao impensável.
Com uma boa escolha musical e a um ritmo sem tempos mortos, adocicado com pitadas de humor, Simon Curtis traz-nos uma história verdadeira, bem contada e de forma leve, de conflitos de valores, de conflitos morais, de perseverança; de uma luta entre instituições e entidades poderosíssimas e três pessoas Maria, Randy e Hubertus, que o que de mais forte têm a seu favor é uma profunda convicção de que a justiça está do seu lado.
Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.