
As Nuvens de Sils Maria0 (0)
30 de Junho, 2015
O realizador francês Olivier Assayas, traz-nos um filme sobre mulheres, sobre a Mulher em geral e sobre as atrizes em particular. É um filme reflexivo e interior que aborda a vida e sobretudo o envelhecimento em jogos mentais profundos. Um enredo em que os palcos se confundem, onde a mulher, a atriz e as suas personagens se relacionam, se confrontam e se magoam. Onde e quando um papel pode representar mais do que isso, ou quando a personagem, como um doubleganger malicioso tenta subjugar a atriz.
A atriz é Maria Enders (Juliette Binoche) que aos dezoito anos teve um grande sucesso representando Sigrid na peça Cobra de Maloja. Nesta peça dramática, Sigrid é uma jovem ambiciosa, atraente e manipuladora que se envolve emocionalmente com a personagem principal, Helena, uma mulher mais velha e madura, que ao ver-se depois abandonada se suicida. Hoje, vinte anos mais tarde e no auge da carreira, um encenador alemão (Lars Eidinger) convidada Maria para participar de novo na peça, mas desta vez para o papel de Helena.
Maria vê-se então confrontada com um espelho para o qual se recusa a olhar, e que lhe diz que o tempo passou e que agora já não é ela a encantadora e sinuosa manipuladora, mas sim a sua “vítima”. Maria não pode aceitar, Sigrid é a sua personagem, o papel de quem dita as regras e não o do elo mais fraco. No entanto, este foi entregue a Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz ) uma jovem atriz de Hollywood, impetuosa, encantadora e dada ao populismo, e que não tem a menor empatia com Maria.
“Sigrid e Helena são a mesma pessoa e por teres sido Sigrid, só tu podes ser Helena” disse-lhe o encenador.
Maria, insegura retira-se para uma moradia em Sils Maria, nos Alpes com a sua assistente Valentine (Kristen Stewart) para preparar a peça e inevitavelmente se confrontar com o seu passado.
Os contornos fortemente enigmáticos da ação e até alguma tensão erótica que cresce entre Maria e Valentine, vêm adensar o labirinto de espelhos levando-nos a pensar se não estará afinal Maria, obcecada por si própria. Ela vive no seu casulo à margem das modas e das personagens culturais e é Valentine quem através do Youtube a põe a par da popularidade e da irreverência de Jo-Ann.
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E é Valentine, que com a sua jovem descontração e calma imperturbáveis, acaba por ser quem Maria precisava para, ao mesmo tempo que vai mantendo a vida da chefe organizada, a encaminhar e acompanhar no seu acerto de contas consigo própria. Elas representam a peça explorando as personagens e trocando de papéis, confundindo-as consigo próprias e à peça com a vida nas suas contingências do tempo e das idades. Maria é obrigada a entender a Helena de que se sentira tão distante. Será Valentine a verdadeira Sigrid?
O nome do filme deve-se a um fenómeno meteorológico que ocorre neste vale dos Alpes em que as nuvens serpenteiam como uma corrente por entre as montanhas.
Jornalista, Diretor. Licenciado em Estudos Artísticos. Escreve poesia e conto, pinta com quase tudo e divaga sobre as artes. É um diletante irrecuperável.