Corridinhos Secretos
Passados mais de 20 anos o projeto Marenostrum continua a ser um segredo muito bem guardado no panorama musical português. Para além da sua página oficial de endereço http://www.marenostrum-music.eu/ são poucas as referências que se encontram nos “media” sobre o seu trajeto, e se tentarmos comprar um dos seus três discos, infelizmente não estão disponíveis para venda nas lojas.
Para revelar este segredo vamos recuar um pouco no tempo e voltar aos “eighties”, à altura em que o pop/rock português estava em plena ascensão. Na Rua da Beneficência ao Rego nº 175, o que fora um antigo cinema era agora uma sala de concertos rock, o mítico Rock Rendez-Vous. Em 1985 está a decorrer a 2ª edição do “Modern Music Contest” do Rock Rendez-Vous e uma das bandas, Teiahelce, conta com dois dos futuros fundadores do projeto Marenostrum nas suas fileiras, José Francisco e “Janaca”. O grupo Teiahelce volta a participar no concurso na sua 4ª edição em 1987, sem no entanto, em nenhuma das vezes ter chegado à fase final.
Em 1994 José Francisco e “Janaca” juntamente com Paulo Machado, todos oriundos do sotavento algarvio mais precisamente na região de Tavira, davam os primeiros passos do que viria a ser o grupo Marenostrum, mas só em 2001 pela mão do produtor Nuno Faria e da editora Condado Azul gravariam o seu primeiro trabalho Estoy em Santa.
Compreende-se porque demoraram tanto tempo a gravar um disco, misturar e estilizar os ritmos algarvios, os corridinhos, o baile mandado, com linguagens tão diversas como a música árabe do Magreb, as tradições Celtas, o Klezmer e a música de Cabo Verde não deve ter sido tarefa fácil. Toda esta fusão resultou numa música alegre e contagiante, com letras atentas e espirituosas, com muita originalidade embora assente em pilares patrimoniais de diversas culturas, com destaque para a música popular do Algarve.
Os irmãos Vieira que não tiveram muita sorte nos concursos mais roqueiros do Rock Rendez-Vous, com os Marenostrum conseguiram sair vitoriosos e ganharam o concurso de música folk “Arribas Folk” de Sendim em 2003. O sucesso foi tal que seriam convidados no ano seguinte para o palco principal do mítico intercéltico de Sendim, partilhando o cartaz com bandas consagradas no mundo da folk como os Milladoiro, da Galiza e Hedningarna, da Suécia. Em 2005 voltaram a ganhar mais um concurso, desta feita o VI Concurso de Música Folk “Cuatro de Los Vales” em Navelgas.
Foram várias as actuações do grupo no estrangeiro, nomeadamente na Suécia, no Festival de Jazz de Linchopin; na Índia; um pouco por toda a Espanha (Navelgas, Punta Umbria, Mercat de Musica Viva de Vic, Murcia, Catalunha e várias salas em Madrid) e no México no Ollin Kan Fest,
Em 2005 editaram o seu segundo trabalho Almadrava pela Som Livre e Condado Azul, disco que foi eleito pela conceituada revista folk Roots (Inglaterra) para a sua play list da edição de Março de 2006, que ainda publicou uma crítica bastante positiva e editou uma compilação de novos talentos da World Music, em que foi incluído o terceiro tema do disco, Fado da Ilha. A revista sueca Lira também editou uma crítica muito positiva ao mesmo álbum Almadrava e o grupo tem mesmo uma ligação especial com a suécia, sendo que para além dos concertos que realizaram em locais de prestígio como o Sodrateatern em Estocolmo, o Palladium em Malmo, e Katalin em Upsala, existe também uma ligação com o músico Johan Zachrisson (Zilverzurf) com quem colaboraram no seu álbum Howling dogs & Lost Souls.
Em 2009 lançaram o ultimo trabalho até à data, Arraia Miúda. Este trabalho tem temas instrumentais de enorme qualidade e algumas canções com recado para os “fantoches mentirosos” que para aí andam. É uma edição de autor que nos lembra, com aquele tom de “mestre pescador”, que é sempre a arraia-miúda que se trama.
Os Marenostrum têm uma formação base de três elementos:
José Francisco Vieira – Guitarra / Bandolim / Voz
Paulo Machado – Baixo / Acordeão
João Francisco Vieira – Bateria / Percussão
Alguns dados sobre José Francisco:
Nos anos oitenta fundou o grupo Teiahelce, que atuou no Rock Rendez-Vous, entre outros locais. Gravou o disco Ritmo de Estorninhos dirigido por Johan Zachrisson, com a participação de Dick Morrissey, e outros artistas convidados. Este CD esteve nos tops de vendas de World Music da Holanda e da Suécia durante alguns meses do ano de 1992. Acompanhou enquanto guitarrista e vocalista os seguintes artistas: Vitorino, Janita Salomé (Homenagem a Adriano Correia de Oliveira no Porto), João Afonso (Concerto “Ao Luar” em Tavira), Lua Extravagante e António Vitorino de Almeida.
Sobre João Francisco (Janaca):
Nos anos oitenta fundou o grupo Teiahelce, que atuou no Rock Rendez Vous, entre outros locais.
Foi um dos fundadores dos Entre-Aspas, com quem gravou o 1º álbum e o tema desta banda para a colectânea “Filhos da Madrugada”. Acompanhou Filipa Pais e António Vitorino de Almeida, entre outros.
Sobre Paulo Machado:
Com a banda Dead City Radio gravou um tema incluído numa coletânea da Independent Records. Acompanhou Pedro Abrunhosa nos Coliseus de Lisboa em 1994, bem como Filipa Pais e o contrabaixista Zé Eduardo. Durante a sua estadia na Austrália integrou o grupo folk Klezmer. Fez sonoplastia para Teatro e compôs as bandas sonoras dos filmes Duplo Exílio realizado por Artur Ribeiro e do telefilme Uma Noite Inesquecível realizado também por Artur Ribeiro para a SIC Filmes/Telecine.
E de muitas outras colaborações:
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Sílvio Lamanche, João Frade, Lino Guerreiro, Emanuel Marçal, Vitor Afonso, Filipa Pais, Nuno Faria, Mamadi, Johan Zachrisson, Dezidério Lázaro e Galandum Galundaina.
Discografia:
Musico, entusiasta de cordofones que gosta de falar de música, da sua alquimia e do seu indelével sentido cultural.